segunda-feira, 15 de junho de 2015

CAIXA DE MÚSICA 174

Roberto Rillo Bíscaro

Aparentemente, crítica e parcela dos fãs não apreciaram o que mais me cativou nos 2 últimos trabalhos do Muse (resenhas aqui e aqui), a saber, o hibridismo com formas do pop e da dance electronica. Divertido o acréscimo de Prince, Gloria Gaynor e Skrillex às usuais influências de Radiohead, Queen e U2. Mathew Bellamy afirmou que voltariam ao básico no álbum lançado semana passada. Achei pena, mas não perdi de escutar o conceitual Drones, ambientado no período da Guerra Fria, que fala sobre um soldado cerebralmente lavado, mas que se revolta contra o autoritarismo militar e destrói o mundo. Volta ao básico, né?
São 12 faixas, mas 10 canções, porque 2 são vinhetas: uma de um sargento detonando os cadetes, bem ao estilo do The Wall, do Pink Floyd e a outra é um trecho dum discurso do presidente Kennedy, aquele assassinado em Dallas apenas 3 semanas depois que a CIA depôs e matou o líder sul-vietnamita, sob suas ordens. A vinheta de JFK funciona como que momento de corte em Drones.
Antes dela, embora concessões pop pipoquem aqui e acolá, a tônica é rock (de arena), material mais guitarrado, quase sempre bombástico, mas isso faz parte das configurações de fábrica do Muse. Dead Inside abre Drones soando como aqueles extended mixes populares nos anos 80. Psycho é rockão com guitarra rude e rouca, cuja letra coloca perversa imagem na cabeça: um bando de roqueiros batendo os cabelões enquanto canta repetidamente com Bellamy que “your ass belongs to me now”. Minha primeira risada em Drones. Mas a faixa é legal; eu que sou malvado, não liguem. Mercy tem piano elétrico à Ultravox e a rápida Reapers guitarra doida de Van Hallen. No geral, a seção pré-[JFK] cumpre a promessa do retorno ao básico e é vibrante, ainda que pura fórmula.
Depois que o ex-presidente ianque fala, a exuberância imitativa e grandiloquente dos caras leva a melhor, digo, a pior, e o conceito de básico – já elástico na primeira parte – explode juntamente com o mundo. Defector é macaquice do Queen e Revolt parece U2 de 25 anos atrás. Imaginei Bono ligando pro Mathew e cantarolando “your ass belongs to me now” depois de tê-lo avisado do processo por plágio. Minha segunda risada em Drones. Afternath é balada com guitarra no começo que parece saída do rio seco do Pink Floyd pra logo virar o tipo de canção mal afamada por servir pra ser ouvida com isqueiros acesos durante os shows, nos anos 80.
The Globalist é a grande contradição dum álbum que pretendia voltar ao básico. Seus quase 11 minutos começam com clima de Ennio Morricone, vira balada sem graça, passa por momento de contagem regressiva ao estilo heavy metal e quando o clímax parece que vai rebentar, vira outra balada pianística quebrando a promessa de gozo. Fãs de prog rock facilmente entenderão que a canção reproduz o fim do mundo, mas como prog The Globalist não impressiona. E Drones fecha com a faixa-título, um oratório ao estilo do século XVIII com a voz a capela de Bellamy multiplicada e sobreposta em diversos tons e terminando o álbum com “amém” e tudo. Lindo, mas foi minha terceira risada: eles não disseram que seria “back to basics”?
Drones não é um álbum ruim; é apenas bipolar, portanto, desigual.

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