Roberto Rillo Bíscaro
Aparentemente, crítica e parcela dos fãs não apreciaram o
que mais me cativou nos 2 últimos trabalhos do Muse (resenhas aqui e aqui), a
saber, o hibridismo com formas do pop e da dance
electronica. Divertido o acréscimo de Prince, Gloria Gaynor e Skrillex às
usuais influências de Radiohead, Queen e U2. Mathew Bellamy afirmou que
voltariam ao básico no álbum lançado semana passada. Achei pena, mas não perdi
de escutar o conceitual Drones, ambientado no período da Guerra Fria, que fala
sobre um soldado cerebralmente lavado, mas que se revolta contra o
autoritarismo militar e destrói o mundo. Volta ao básico, né?
São 12 faixas, mas 10 canções, porque 2 são vinhetas: uma
de um sargento detonando os cadetes, bem ao estilo do The Wall, do Pink Floyd e
a outra é um trecho dum discurso do presidente Kennedy, aquele assassinado em
Dallas apenas 3 semanas depois que a CIA depôs e matou o líder sul-vietnamita,
sob suas ordens. A vinheta de JFK funciona como que momento de corte em Drones.
Antes dela, embora concessões pop pipoquem aqui e acolá,
a tônica é rock (de arena), material mais guitarrado, quase sempre bombástico,
mas isso faz parte das configurações de fábrica do Muse. Dead Inside abre
Drones soando como aqueles extended mixes
populares nos anos 80. Psycho é rockão com guitarra rude e rouca, cuja letra
coloca perversa imagem na cabeça: um bando de roqueiros batendo os cabelões
enquanto canta repetidamente com Bellamy que “your ass belongs to me now”. Minha
primeira risada em Drones. Mas a faixa é legal; eu que sou malvado, não liguem.
Mercy tem piano elétrico à Ultravox e a rápida Reapers guitarra doida de Van
Hallen. No geral, a seção pré-[JFK] cumpre a promessa do retorno ao básico e é
vibrante, ainda que pura fórmula.
Depois que o ex-presidente ianque fala, a exuberância
imitativa e grandiloquente dos caras leva a melhor, digo, a pior, e o conceito
de básico – já elástico na primeira parte – explode juntamente com o mundo.
Defector é macaquice do Queen e Revolt parece U2 de 25 anos atrás. Imaginei
Bono ligando pro Mathew e cantarolando “your ass belongs to me now” depois de
tê-lo avisado do processo por plágio. Minha segunda risada em Drones. Afternath
é balada com guitarra no começo que parece saída do rio seco do Pink Floyd pra
logo virar o tipo de canção mal afamada por servir pra ser ouvida com isqueiros
acesos durante os shows, nos anos 80.
The Globalist é a grande contradição dum álbum que pretendia
voltar ao básico. Seus quase 11 minutos começam com clima de Ennio Morricone,
vira balada sem graça, passa por momento de contagem regressiva ao estilo heavy metal e quando o clímax parece que
vai rebentar, vira outra balada pianística quebrando a promessa de gozo. Fãs de
prog rock facilmente entenderão que a canção reproduz o fim do mundo, mas como
prog The Globalist não impressiona. E Drones fecha com a faixa-título, um
oratório ao estilo do século XVIII com a voz a capela de Bellamy multiplicada e
sobreposta em diversos tons e terminando o álbum com “amém” e tudo. Lindo, mas
foi minha terceira risada: eles não disseram que seria “back to basics”?
Drones não é um álbum ruim; é apenas bipolar, portanto,
desigual.
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