sexta-feira, 12 de junho de 2015

PAPIRO VIRTUAL 94


Roberto Rillo Bíscaro

Barbara Pym volta e meia é redescoberta e cadernos culturais falam sobre “a mais injustamente negligenciada escritora britânica do século XX” ou exageradamente comparam-na a Jane Austen. Fui apresentado a ela pelo nosso historiador-cronista, o Professor José Carlos Sebe, em algum momento da primeira metade da década passada. Li Excellent Women, do qual gostei bastante; não a ponto de igualá-la à arquiteta de Pemberley, mas o suficiente pra querer ler mais. Finalmente li meu segundo livro de Pym, A Few Green Leaves, lançado no ano de sua morte, 1980. Se tivesse sido o primeiro, não sei se leria outro.
A antropóloga sem graça (isso não é opinião minha, tá na narrativa) Emma vai a uma aldeia nos arredores de Oxford pra organizar um livro e aos poucos integra-se à comunidade, que parece estagnada no tempo, mas é só impressão, porque Lorde Cronos é implacável e percebemos sinais de sua passagem o tempo todo: muitas das personagens são idosas, há perene referência ao passado do vilarejo e a minúscula comunidade já tem TV, comida congelada e velhos hábitos sociais estão moribundos. Dito assim e considerando-se a obsessão Modernista pelo fluxo temporal, parece que A Few Green Leaves é assaz interessante.
Não é.
Quase nenhuma personagem é gostável (ou detestável), nada realmente interessante ocorre. Concedo que há momentos onde a ironia de Pym se sobressai e uma descrição de morte mais lindas que li foi a de Miss Lickerish, porque singela e cotidiana:
“Miss Lickerish had not bothered to put on the light at the normal time.  She boiled a kettle on the fire and then sat in her chair with a cup of tea at her side and a cat on her knees.  But some time during those dark hours the cat left her lap and sought the warmth of his basket, Miss Likerish’s lap having become strangely chilled.”
Reconheço os trechos de metaliteratura, quando Pym reporta-se a escritores do século XIX e, claro, a La Austen (o nome da protagonista coincide com a da heroína Woodhouse, mas sem 90% do interesse). Sou capaz de acreditar que tantos acadêmicos ao mesmo tempo tenham escolhido a aldeia ou a floresta que a rodeia. Relevo o crítico de restaurante fino Adam Prince viver lá e não em Londres, mas não saquei qual é a da personagem, que não faz nada.
Difícil de engolir são tantos encontros causais na floresta e uma personagem sentar-se em um monte de pedras pra descansar, cair no sono, ser avistada por 2 mulheres que caminhavam pela floresta e depois sermos avisados que as tais rochas poderiam ser os resquícios duma aldeia medieval que o pároco Tom procurava há anos. Ah, me deixa! Quer dizer que ele – ou a mulherada que o paparicava – nunca passara pelo sítio? De tão mundano acesso que Miss Vereker o escolhera como caminho pela floresta da estação ferroviária á residência de Miss Lee e que Avice e não me lembro quem escolheram prum passeio rotineiro (depois de se encontrarem por acaso na floresta, claro)? Não era a Floresta Amazônica, Barbie, era só uma droga de mata remanescente ao redor da região da Grande Londres!
Tudo sutil (eufemismo pra enfadonho) demais, a ponto de ser quase nada; recomendo não.

Nenhum comentário:

Postar um comentário