Roberto Rillo Bíscaro
Barbara Pym volta e meia é redescoberta e cadernos
culturais falam sobre “a mais injustamente negligenciada escritora britânica do
século XX” ou exageradamente comparam-na a Jane Austen. Fui apresentado a ela
pelo nosso historiador-cronista, o Professor José Carlos Sebe, em algum momento
da primeira metade da década passada. Li Excellent Women, do qual gostei
bastante; não a ponto de igualá-la à arquiteta de Pemberley, mas o suficiente
pra querer ler mais. Finalmente li meu segundo livro de Pym, A Few Green
Leaves, lançado no ano de sua morte, 1980. Se tivesse sido o primeiro, não sei
se leria outro.
A antropóloga sem graça (isso não é opinião minha, tá na
narrativa) Emma vai a uma aldeia nos arredores de Oxford pra organizar um livro
e aos poucos integra-se à comunidade, que parece estagnada no tempo, mas é só
impressão, porque Lorde Cronos é implacável e percebemos sinais de sua passagem
o tempo todo: muitas das personagens são idosas, há perene referência ao
passado do vilarejo e a minúscula comunidade já tem TV, comida congelada e
velhos hábitos sociais estão moribundos. Dito assim e considerando-se a
obsessão Modernista pelo fluxo temporal, parece que A Few Green Leaves é assaz
interessante.
Não é.
Quase nenhuma personagem é gostável (ou detestável), nada
realmente interessante ocorre. Concedo que há momentos onde a ironia de Pym se
sobressai e uma descrição de morte mais lindas que li foi a de Miss Lickerish,
porque singela e cotidiana:
“Miss
Lickerish had not bothered to put on the light at the normal time. She
boiled a kettle on the fire and then sat in her chair with a cup of tea at her
side and a cat on her knees. But some time during those dark hours the
cat left her lap and sought the warmth of his basket, Miss Likerish’s lap
having become strangely chilled.”
Reconheço os trechos de metaliteratura, quando Pym reporta-se a
escritores do século XIX e, claro, a La Austen (o nome da protagonista coincide
com a da heroína Woodhouse, mas sem 90% do interesse). Sou capaz de acreditar
que tantos acadêmicos ao mesmo tempo tenham escolhido a aldeia ou a floresta
que a rodeia. Relevo o crítico de restaurante fino Adam Prince viver lá e não
em Londres, mas não saquei qual é a da personagem, que não faz nada.
Difícil de engolir são tantos encontros causais na floresta e uma
personagem sentar-se em um monte de pedras pra descansar, cair no sono, ser
avistada por 2 mulheres que caminhavam pela floresta e depois sermos avisados
que as tais rochas poderiam ser os resquícios duma aldeia medieval que o pároco
Tom procurava há anos. Ah, me deixa! Quer dizer que ele – ou a mulherada que o
paparicava – nunca passara pelo sítio? De tão mundano acesso que Miss Vereker o
escolhera como caminho pela floresta da estação ferroviária á residência de
Miss Lee e que Avice e não me lembro quem escolheram prum passeio rotineiro
(depois de se encontrarem por acaso na floresta, claro)? Não era a Floresta
Amazônica, Barbie, era só uma droga de mata remanescente ao redor da região da
Grande Londres!
Tudo sutil (eufemismo pra enfadonho) demais, a ponto de ser quase nada; recomendo não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário