Roberto Rillo Bíscaro
Ano passado, o guitarrista Chris Walla tocou ao vivo
pela última vez com seu grupo de 17 anos, o Death Cab for Cutie (DCFC). Ben
Gibbard (vocais, guitarra, teclado), inventor da banda, diz que Walla continua
envolvido no coletivo em diversos aspectos, apenas não tocará com eles. Seja
como for, a ideia de rompimento e separação permeia Kintsugi, oitavo álbum do
DCFC, lançado no derradeiro dia de março.
Kintsugi é uma técnica
japonesa de reparo em cerâmica, que, ao invés de tentar esconder os estragos, filosoficamente
encara-os como partes da história do objeto. Utilizando ouro ou outro metal em
pó, o conserto passa a fazer parte do visual da cerâmica ao invés de ser
camuflado. Veja a foto:
Hold Guns e sua quase nudez instrumental refletem essa
arte japa. A melodia é tão esparsa e suave, que dá pra ver o compositor
sentadinho dedilhando/compondo em seu violão.
Embora se repetindo a ponto de por momentos parecer
autoparódia e de o material não ter a força de trabalhos anteriores, Kintsugi é
agradável.
No Room in Frame abre como o infelizmente obscuro James
pra virar meio Everybody Wants to Rule the World, das Tias Fofinhas, digo,
Tears for Fears. Sem ser cópia oitentista, o álbum exala nostalgia devido ao
clima intimista de muitas faixas, mas também porque o indie rock do DCFC é
manso e aponta pro passado de vez em quando. A guitarra de Robert Smith não
está referenciada apenas no óbvio agito meio amuado de The Ghosts of Beverly
Drive. Momentos da reflexiva Black Sun também tem guitarras à The Cure. E a
percussão de Everything’s a Ceiling que lembra Prince ou o Phil Collins de Take
Me Home?
As 11 faixas de Kintsugi são bastante homogêneas,
sempre com um travo de melancolia, mesmo em momentos mais dançantes como El
Dorado. O tom confessional continua imperando como na assombrante You’ve
Haunted Me All My Life e na elegíaca Binary Sea (if there is no document, we
cannot build a monument...”). Gibbard tá meio passadinho pra cantar alguns
versos, como o refrão de Little Wanderer ou Ingenué, mas dá pra perdoar.
Uma coisa me pegou de
supetão, nem terminara de ouvir Kintsugi. O termo indie rock surgiu nos 80’s
pra denominar bandas que, como os Smiths, corriam por fora do synthpop dominante ou que faziam algo
distinto do mainstream Elton John.
Uma publicação brasileira ao comentar o fabuloso e revolucionário Psychocandy
(1985) disse que papai escutava o bolachão de Elton John, enquanto o Júnior não
parava de rodar o disco do The Jesus and Mary Chain. Será que agora os filhos
de muitos júniores não escutam o indie
careta do DCFC junto com o papai? Nada contra música careta – sou respeitável
senhor de meia idade – mas a modalidade de indie
do DCFC é tão quadrada comparada à dos “inventores” do sub-sub-gênero!
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