terça-feira, 28 de julho de 2015

TELINHA QUENTE 170

Roberto Rillo Bíscaro

No sábado em que vi os 4 capítulos da minissérie Safe House, exibida em abril pela ITV, as características do Nordic Noir não me saiam da cabeça, especialmente nas longas tomadas de natureza gelada e escura do último capítulo. Temendo que os leitores fizessem campanha pra minha internação compulsória devido à obsessão pelo sub-gênero, chequei a equipe de produção, coisa que raramente faço. Não deu outra: o diretor Marc Evans dirigiu um episódio de Hinterland, que a própria imprensa britânica classificou como Celtic Noir, filho legítimo do Nordic.
Ambientada no Distrito dos Lagos no norte inglês, Safe House abusa dos cenários de região remota, estreitas estradas desertas, floresta, céus cinzentos e plúmbeas águas geladas, onde o protagonista nada compulsivamente (brrrrrr!). Todo mundo com muita roupa de frio e sorrindo pouco; segredos existenciais e familiares que podem descambar pra generosa violência. E temos um British Noir? Anunciada como a nova Broadchurch, Safe House está tão longe disso, quanto minha Penápolis está de Copenhague.
Um casal inter-racial está refugiado numa isolada e enorme casa, porque Robert recupera-se emocionalmente duma fatalidade ocorrida em sua profissão de detetive (adoro como detetive de filme/série tem grana pra casas espetaculares); ele não conseguiu proteger uma testemunha que deporia contra o maridão corrupto. O trauma causou-lhe amnésia parcial, por isso vive macambúzio e é protagonista ideal pra cópia de Nordic Noir. Um inspetor-detetive amigo sugere que o casal transforme sua residência em safe house, casa onde protegidos pela polícia se refugiam. Não demora pra que uma família cujo filhinho está sendo perseguido por um barbudo estranho se instale no sombrio e remoto casarão.
Safe House trabalha com 2 linhas narrativas: a da família e a de Robert, à qual se soma a suspeita ligação de sua esposa com o inspetor-detetive. As reviravoltas e revelações, as boas interpretações e a cinematografia garantem a boa qualidade dos 3 capítulos. O 4º é visualmente lindo, mas as conclusões pra ambas as tramas são insatisfatórias e não me lembro quando uma revelação tenha sido menos sensibilizadora do que a da relação entre o tal inspetor com uma das personagens. A sensação é de que a história ainda não terminou.

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