Roberto Rillo Bíscaro
No sábado em que vi os 4 capítulos da minissérie Safe
House, exibida em abril pela ITV, as características do Nordic Noir não me
saiam da cabeça, especialmente nas longas tomadas de natureza gelada e escura
do último capítulo. Temendo que os leitores fizessem campanha pra minha
internação compulsória devido à obsessão pelo sub-gênero, chequei a equipe de
produção, coisa que raramente faço. Não deu outra: o diretor Marc Evans dirigiu
um episódio de Hinterland, que a própria imprensa britânica
classificou como Celtic Noir, filho legítimo do Nordic.
Ambientada no Distrito dos Lagos no norte inglês, Safe
House abusa dos cenários de região remota, estreitas estradas desertas,
floresta, céus cinzentos e plúmbeas águas geladas, onde o protagonista nada
compulsivamente (brrrrrr!). Todo mundo com muita roupa de frio e sorrindo
pouco; segredos existenciais e familiares que podem descambar pra generosa
violência. E temos um British Noir? Anunciada como a nova Broadchurch, Safe House está tão longe disso, quanto minha Penápolis está de Copenhague.
Um casal inter-racial está refugiado numa isolada e
enorme casa, porque Robert recupera-se emocionalmente duma fatalidade ocorrida
em sua profissão de detetive (adoro como detetive de filme/série tem grana pra
casas espetaculares); ele não conseguiu proteger uma testemunha que deporia
contra o maridão corrupto. O trauma causou-lhe amnésia parcial, por isso vive
macambúzio e é protagonista ideal pra cópia de Nordic Noir. Um
inspetor-detetive amigo sugere que o casal transforme sua residência em safe house, casa onde protegidos pela
polícia se refugiam. Não demora pra que uma família cujo filhinho está sendo
perseguido por um barbudo estranho se instale no sombrio e remoto casarão.
Safe House trabalha com 2
linhas narrativas: a da família e a de Robert, à qual se soma a suspeita ligação
de sua esposa com o inspetor-detetive. As reviravoltas e revelações, as boas
interpretações e a cinematografia garantem a boa qualidade dos 3 capítulos. O
4º é visualmente lindo, mas as conclusões pra ambas as tramas são
insatisfatórias e não me lembro quando uma revelação tenha sido menos
sensibilizadora do que a da relação entre o tal inspetor com uma das
personagens. A sensação é de que a história ainda não terminou.
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