segunda-feira, 31 de agosto de 2015

CAIXA DE MÚSICA 181

Roberto Rillo Bíscaro

Não canso de re/petir/fletir: delícia ter blog desatrelado da necessidade de atrair zilhões de leitores por postagem/dia. Posso escrever sobre filme búlgaro, série sueca ou álbum “antigo” de nenhum sucesso de massa. Lê quem quer; não preciso falar da dupla sertatosca da moda X ou da animação de super-herói Y. Iupi!!!!!!
Escolhi destacar um trabalho de electronica binacional, lançado em 2011. O uruguaio Juan Campodónico e o argentino Gustavo Santaolalla novamente juntaram talentos e o resultado foi o álbum Campo. Novamente, porque os 2 colaboraram diversas vezes, sendo que o momento mais inspirado dessa parceria foi a criação do Bajofondo, em 2001, que mescla tango com eletrônica (leia uma resenha minha aqui).
Santaolalla é veterano na cena argentina; foi líder do progressivo Arco Iris nos 70’s. Sua carreira internacional tem “apenas” 2 Oscars no CV, por Brokeback Mountain e Babel.

Por não ser trabalho do Bajofondo, eletrotango não é a tônica de Campo, que soa bastante orgânico com instrumentos “de verdade”, algo na linha do indie-pop/rock. Turn On the Lights e Tu Lugar enganam que serão eletrotangos, mas viram indie-pop pouco após os acordes iniciais. A canção mais próxima do Bajofondo é el Viento, mas os beats meio acelerados estão precedidos por telúricos passarinhos cantando. Os canoros, aliás, repetem seus gorjeios na acústica e florestal Zorzal, que depois unirá humanos assobiando aos penosos. 1987 é rockinho com jeitão de The Cure e Devil Waits (for Me) é indie com teclado gelado à New Order. Heartbreaks é uma delícia funkeada. Mas com guitarra roqueirinha.
Num álbum com vocalistas cantando em espanhol e inglês, o deslize ficou por conta de Cumbio, que, pelo título, indica sua filiação ao gênero musical surgido nos guetos colombianos. Numa tentativa de soar malandro ou sexy, o cara modifica a voz e consegue soar apenas esquisito. 
O melhor de tudo é que o álbum está disponível completo no Youtube, então, basta querer conhecer esse bom exemplo de pop uruguaio-argentino:

Santo Youtube que nos permite acesso também a Remixes & Rarezas (2014), que traz delicionas crocantes e pulantes! Heartbreaks, que já era altamente saltitável, ganhou percussão olodúnica que fará você balançar o bundão, bunita!
3 canções vêm em 2 versões:
- 1987 em remix que não tira o sabor The Cure e ainda adiciona velocidade e barulhinhos eletrônicos pra ficar mais gostosa que o original e versão demo em inglês, que mostra como ficou melhor a versão do álbum, em espanhol.
- Cumbio em 2 remixes: o primeiro tenta deixá-la mais ameaçadora, mas aquele vocal não tem conserto... O outro é daqueles bem “típicos”, que elimina a letra e bota trechitos repetidos. Em qualquer versão Cumbio me desagrada.
- A deliciosa La Marcha Tropical primeiro acrescenta acordeão de milonga ao clima de cumbia da original, mas não a supera. O outro remix fica naquela de repetir trecho da letra ad nauseam sobre fundo eletrônico, um saquinho se comparado ao brejeiro original.
2 registros ao vivo. El Mareo é indie-pop agitada-melancólica com guitarrinha deliciosa. Tuve Sol tem voz feminina que não convence todo o tempo e tem clima bossa-nova às vezes; às vezes bolero, nada marcante. Outras 2 que não constam no álbum são de estúdio. Carmesí  é lenta simpática e a instrumental Fobal prova que se o trabalho do Campo fosse assim, não teria graça.

domingo, 30 de agosto de 2015

O FOTÓGRAFO DA ANTA ALBINA

Há alguns meses, a foto duma anta albina na Mata Atlântica virou sensação mundial. Conheça um pouco da história do fotógrafo Luciano Candisani. 

Luciano Candisani capta a vida silvestre na Mata Atlântica
por Cinthia Rodrigues 

Seus estúdios camuflados tornaram-se uma verdadeira sala de aula de fotografia para interessados em registros da natureza


Quando era criança e passava os dias livres em Itanhaém, no litoral sul de São Paulo, Luciano Candisani imaginava histórias fantásticas sobre os bichos que habitavam as montanhas nas cercanias da praia. Embora nunca tenha encontrado grandes animais nas trilhas, a busca determinou sua história de vida. 
Ainda adolescente, Candisani tornou-se fotógrafo mergulhador. Formou-se em Biologia e embarcou em expedições para a Antártica e o Pantanal. Em 18 anos de carreira, viu muitos animais de perto, muitas vezes às centenas. Seus registros o levaram a ser o único fotógrafo brasileiro a participar da edição internacional da revistaNational Geographic
Candisani publicou livros estrelados por jacarés, tartarugas, macacos, onças, araras, baleias e albatrozes, todos muito à vontade em seus ambientes naturais. Foi, no entanto, um simples lagarto teiú que o levou a se reencontrar com seu projeto de infância. 
O evento passou-se em 2012, quando o fotógrafo perambulava por uma reserva privada em Juquiá, cidade no Vale do Ribeira, a menos de 100 quilômetros das praias de sua infância. “Percebi que a floresta não é um conjunto de árvores, não é silenciosa como assumimos. Pensava que ali havia uma fauna invisível, quando uma onça passou pelo nosso carro e comecei a planejar uma forma de registrar aquilo”, lembra.
 No ano seguinte, Candisani voltou ao local para auxiliar um grupo de pesquisadores que iniciavam um projeto de negócio sustentável para o Legado das Águas – Reserva Votorantim, área particular de 310 quilômetros quadrados pertencente há 50 anos ao grupo empresarial de mesmo nome. A área é maior que a cidade de Santos, com terras espalhadas por Miracatu e Tapiraí, além de Juquiá.
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A inédita imagem de uma anta albina, animal lendário entre os moradores da região, foi capturada por um dos “estúdios camuflados” na Reserva Votorantim. Créditos: Luciano Candisani
No fim de 2013, o fotógrafo enterrou fios e equipamentos e instalou pequenas lâmpadas em duas trilhas usadas por animais. Semanalmente, técnicos vistoriam as instalações e corrigem os danos causados por fungos ou pela chuva. Todo mês, Candisani sai de Ilhabela, onde mora, para verificar o resultado. Algumas fotos foram reunidas no livro A Sustentabilidade de Uma Reserva, publicado pela Votorantim neste ano. “Não se trata de apenas registrar a passagem das espécies. São estúdios na natureza para mostrar a beleza da fauna no contexto.” 
Os equipamentos instalados capturaram dezenas de animais de comportamento elusivo, como gosta de repetir o autor. “Os animais não andam aleatoriamente pela mata. Seguem rotas definidas e, com frequência, usam as trilhas abertas por nós. Todos prezam pelo menor esforço.” 
Logo de cara, Candisani conseguiu capturar a imagem de dois cachorros-do-mato-vinagre, espécie muito frágil, especialmente sensível a doenças de animais domésticos. “Era uma demonstração da saúde da floresta.” No ano passado, uma anta albina passou perto de um dos estúdios a céu aberto. “Moradores falavam de um animal assim em tom de lenda. Quando eu vi, meu coração disparou. Era um caso raro de albinismo na espécie, o primeiro registrado em natureza.” A foto foi publicada em uma das edições da National Geographic, vendida em 15 países e celebrada pelos documentaristas de meio ambiente. 
O projeto não tem data para acabar. Os estúdios camuflados tornaram-se uma verdadeira sala de aula de fotografia para interessados em registros da natureza em workshops, que fazem parte do plano de negócios em desenvolvimento para a manutenção da área. Desde 2012, o mosaico de terras que compõem o Legado das Águas funciona como Reserva Particular de Desenvolvimento Sustentável (RPDS) e é sede de estudos em parceria com o governo estadual, prefeituras da região, universidades, organizações de preservação e a Votorantim. Entre os projetos, estão registro de espécies para reflorestamento, estudos da indústria farmacêutica e identificação de animais raros e em extinção. “No Brasil, estamos tão acostumados com os animais da Mata Atlântica, inclusive a anta, que não causou a mesma reação. Acho que isso define bem nossa relação com a floresta: não temos o olhar estrangeiro para se deslumbrar, mas, de todo jeito, temos um repertório de sentimentos que quero acionar com essas fotos”, afirma Candisani. 

SUPERAÇÃO GOIANA

Conheça a história do Washington, que, a despeito de peculiaridades de nascença, supera obstáculos, tendo se formado em informática, tocando uma lan house e sendo músico com muitos fãs no Facebook e shows por todo Goiás. 

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

ALBINO INCOERENTE NO MEMORIAL DA INCLUSÃO


Estudos sobre a Deficiência: Mesas Redondas
7 de novembro – São Paulo

“Memorial da Inclusão: os caminhos da pessoa com deficiência” (http://goo.gl/pXbFku), tem o prazer de organizar mais uma rodada de debates abordando o tema da Deficiência na perspectiva das humanidades e, mais especificamente, no contexto dos chamadosDisability Studies - ou Estudos sobre a Deficiência em livre tradução.

Os chamados Disability Studies consistem num campo de estudos interdisciplinar que ganhou projeção mundial, tendo origem no contexto anglo-saxão, em meados da década de 1960. A proposta principal desse movimento intelectual, que mais tarde, acabou compondo os discursos dos movimentos ligados aos direitos das pessoas com deficiência, é a de que a deficiência não é simplesmente uma tragédia individual cuja “solução” estaria reservada aos quartos dos hospitais e centros de reabilitação. Ela é muito mais do que isso, portando dimensões sociais e políticas. Nessa perspectiva, as inciativas nesse campo visam gerar debates públicos que desconstroem preconceitos e retiram da deficiência a noção de ‘doença’, ‘degeneração’ e ‘desvio’ e a situam na perspectiva de uma condição da diversidade humana – como mulheres, negros, gays, indígenas e outras minorias – sem, no entanto, criar rótulos e identidades férreas.

Nesse sentido o Memorial da Inclusão vem procurando incentivar, fomentar trabalhos, realizar debates e encontros entre especialistas e simpatizantes do tema a fim de agregar esforços para a construção de uma sociedade mais inclusiva. Em junho de 2013 organizamos o evento “Conflitos, Direitos e Diversidade: I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência”(http://goo.gl/uDvHbV)(Anais e vídeos: http://goo.gl/e47Soc)Desde então, as seguintes mesas redondas já foram realizadas: Gêneros & Deficiência; Capitalismo & Deficiência; Educação & Deficiência; Maturidade & Deficiência; Comunicação & Deficiência.

Seguindo esse movimento, realizaremos no próximo dia 7 de novembro mais três mesas redondas temáticas compostas por reconhecidos especialistas e pensadores dos respectivos temas.

1º) Doença ou deficiência: fronteiras e novas emergências – Dia 7/11 – 9h:30 – 11h:30

2º) Deficiência, sentidos e representação – Dia 7/11 – 13h:00 – 15h:00

3º) Deficiência, Sustentabilidade e Mobilidade – Dia 7/11 – 16h:00 – 18h:00


A participação é GRATUITA, mas condicionada à INSCRIÇÃO em função do número limitado de vagas.

MAIORES INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES PELO LINK ABAIXO:


Nota do Albino Incoerente: Participarei da mesa sobre doença ou deficiência; inscrevam-se, espero vocês por lá!

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

INEFICÁCIA FATAL

Há negligência no combate ao tráfico de seres humanos, em particular de albinos, em Moçambique


O combate ao tráfico de seres humanos, em particular de pessoas com albinismo, cujo recrudescimento tende a ser notório na província de Nampula, por exemplo, não está a ser levado a sério pelo Governo, para além de este não cumprir cabalmente a sua tarefa de criar meios para fazer face à situação, que só pode ser estancada se houver vontade por parte dos dirigentes e colaboração do povo.
Cristóvão Mondlane, procurador provincial de Nampula que lidera a Task Force, um organismo criado para o combate ao tráfico de pessoas, critica a aparente inacção das autoridades no enfrentamento deste mal e considera que se é possível mobilizar os cidadãos para a aquisição de NUIT’s e pagamento de impostos, por que razão não há afinco para se proteger as pessoas, salvar as suas vidas e garantir a sua integridade física?
Mondlane entende que devia haver actividades intensas de sensibilização da população com vista à prevenção do tráfico dos seres humanos. Ele percebe que “os meios financeiros não são suficientes”, mas a “vontade humana é pouca”. O assunto em questão não é apenas uma preocupação da província de Nampula, mas, sim, de todo o país.
O tráfico de seres humanos, particularmente as pessoas com anomalia orgânica caracterizada por ausência ou grande falta de pigmento na pele, nos olhos, nos pêlos e no cabelo, é um problema que vai de mal a pior e as autoridades competentes mostram-se incapazes de travar o crime, segundo a Task Force, entidade da qual fazem parte a Liga dos Direitos Humanos, órgãos de comunicação social em Nampula e organizações não-governamentais como é o caso da Save the Children e da Visão Mundial.
Tarcísio Abibo, da delegação regional da Liga dos Direitos Humanos em Nampula, lamentou a morosidade na tramitação de processos-crime relacionados com o tráfico de pessoas nas administrações da Justiça. Ele deplorou ainda o facto de as matérias que deviam merecer alguma celeridade serem tratadas de forma letárgica.
De acordo com Tarcísio Abibo, a 17 de Dezembro de 2014, um jovem identificado pelo nome de Auxílio César Augusto, de 24 anos de idade, desapareceu da casa dos familiares, vítima de um presumível tráfico, mas até agora o caso ainda não foi esclarecido.
Aliás, Abibo lamentou também o facto de a moral de alguma pessoas ter baixado de tal sorte que exumam campas com o intuito de usar cadáveres, ossadas ou alguns órgãos humanos para alegadamente obterem riqueza.
“Em Ribáuè, na localidade de Rente, um grupo de indivíduos invadiu um cemitério familiar e extraiu os órgãos dum corpo com problemas de pigmentação de pele”, disse o responsável, que acrescentou que a Polícia teve conhecimento do caso e neutralizou os indiciados, mas os mesmos foram soltos pese embora tenham sido surpreendidos com alguns órgãos humanos, os quais “não foram entregues à família”.
Refira-se que a Task Force é uma entidade criada pelo Governo que envolve várias instituições e visa que todos se unam e façam um grande esforço para refrearem o tráfico de seres humanos. Em 2000, a organização não-governamental sul-africana Molo Songololo divulgou um relatório sobre o tráfico de mulheres destinadas ao mercado do sexo da África do Sul. No documento foram identificados 10 países africanos a partir dos quais o tráfico se fazia: Angola, Moçambique, Zâmbia, Sudão, Nigéria, Camarões, Malawi, Zimbabue, Lesoto, Suazilândia e República Democrática do Congo (Terred es Hommes (Alemanha) e Save the Children (Noruega). “Tatá papá, tatá mamã” – Tráfico de menores em Moçambique. 2005).
Nos anos subsequentes, em Maio de 2003, a Organização Internacional das Migrações divulgou também um relatório em que afirmava que cerca de 1.000 moçambicanos, especialmente jovens raparigas com idades entre os 14 e os 24 anos, provenientes de zonas rurais e urbanas de Maputo, Gaza e Nampula, eram anualmente traficados de Moçambique para a África do Sul (idem).
Face a esse problema, o Governo moçambicano demorou a tomar uma posição no sentido de proteger as vítimas e parece que a mesma lentidão está a acontecer em relação ao que tem sido reportado relativamente aos albinos na região norte, em particular em Nampula, de onde chegam, desde princípios do ano em curso, más notícias sobre o tráfico e assassinato desta gente.

TELONA QUENTE 126

Roberto Rillo Bíscaro

Existe tendência pós-moderna de ironizar convenções do passado ou de desmontá-las perante o público pra fazer graça. Dos Pânicos aos Shreks, isso perpassa boa parte de nossa cultura visual de agora. Nada necessariamente contra, mas prefiro homenagens ou releituras. Lembram-se de como elogiei o retrô The House of the Devil? Talvez porque não goste muito de “terrir”; pra mim uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Tudo bem rir de terror que de tão ruim ou absurdo vira cômico, mas quando é feito pra ser “horrir”, geralmente não funciona em nenhum nível comigo. O canadense Lost After Dark (2014) me agradou bastante, justamente porque não pretende zoar os slashers oitentistas. Pelo contrário; homenageia este sub-gênero tão amado/odiado, um dos símbolos da Melhor Década.
8 adolescentes furtam o ônibus escolar pra ir pruma cabana, mas, quando o veículo quebra na escuridão da estrada, têm que se refugiar num casarão abandonado, onde uma família de canibais habitava antes de ser dizimada pela polícia. Mas, um deles, o Júnior, parece que escapou, pelo menos é o que reza a lenda urbana. No local, os adolescentes – tipicamente interpretados por atores velhos demais pra faixa etária – descobrirão não se tratar de lenda e serão mortos um a um.  Receita tradicional de slasher, mas que consegue embaralhar um par de convenções; preste atenção, por exemplo, em quem morre primeiro.
Fãs de slice’n’dice - mas fãs mesmo! – deleitar-se-ão com os nomes das personagens; Adrienne, Sean, Mr. Cunningham, Jamie, Wesley: há uma lógica pros masculinos e outra pros femininos. Ambientado em 1984, Lost After Dark reconstituiu bem o período, com fotos de Reagan, Cubo Mágico, penteados, vestuários e carros. Não prestei atenção se falaram “totally”, mas “as if” foi usado por uma garota que se penteava como Madonna. A trilha sonora, provavelmente original, tem clones de Olivia Newton John, Kim Wilde e aquelas vozes macambúzias que cantavam sobre teclados geladões.
Lento no início – slashers tendiam a ser assim pelo baixo orçamento; não dava pra gastar muita grana o filme todo – Lost After Dark evita os clichês de tortura de Jogos Mortais e fixa-se na fórmula tradicional do sub-gênero. Até as mortes não são violentas demais; um pouco mais gráficas que nos 80’s talvez, mas nada demais. O resultado é um filme divertido, que agradará até os fãs da época e que talvez hoje pensem “ah, não se fazem mais filmes como antigamente”.
Defeitos há, especialmente a tarantinice de tentar imitar película velha, com rolo de filme faltando. A gravação é moderna demais pra acreditarmos que se trata de película antiga e essa convenção não é de slasher. Pena também que o assassino não use máscara. Detalhes que não estragam o prazer retrô de Lost After Dark.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

ISOLAMENTO ALBINO

Jornalista retrata albinos que vivem isolados por medo de feitiçaria

Você já imaginou como é viver com albinismo? Enquanto algumas pessoas conseguem achar uma brecha contra o preconceito e se firmar dentro de seus ramos – como o caso da modelo Thando Hopa –, a maioria sofre estigmas sociais muito além das limitações físicas que sua condição lhe impõe.
Os riscos de cegueira e câncer de pele são muito mais elevados entre os albinos, que têm um defeito genético que afeta a produção de melanina. Felizmente, apenas 0,005% da população mundial nasce com esse distúrbio.
Na Tanzânia, porém, os albinos correm um risco ainda maior: a perseguição. E se engana quem pensa que é por causa do preconceito ou coisa parecida. O buraco é bem mais embaixo. Nesse país africano, há a crença popular de que os ossos dos albinos podem ser usados em feitiços para trazer fortuna e boa saúde.
Criança de 12 é fotografada por jornalista norte-americana em aldeia onde vive isolada por conta de sua condição
A fotojornalista norte-americana Jacquelyn Martin tomou conhecimento dessa realidade em 2011 e publicou um ensaio com albinos da Tanzânia na revistaSmithsonian. Ela visitou uma aldeia em que essas pessoas podem viver em paz, longe de supostos curandeiros que chegam a mutilar mãos e braços dos albinos para “roubar” os ossos e fazer os seus feitiços.
“Sob pressão internacional, o governo da Tanzânia proibiu os feiticeiros no início de 2015”, explicou Jacquelyn. Porém, os crimes de mutilação continuam acontecendo. A jornalista relata a história de um menino de seis anos que teve a mão decepada em março deste ano, mesmo após a proibição da prática.
Fotógrafa Jacquelyn aparece abraçada a duas mulheres albinas na Tanzânia
“Existem várias ONGs internacionais que trabalham para aumentar a conscientização do que é o albinismo e por que esses ataques devem acabar”, conta a jornalista. Jacquelyn também falou que o caso não é isolado: ataques contra albinos já foram relatados em 24 países, como Quênia, Burundi e Malawi. Em todos eles, algo em comum: a busca pelos ossos dessas pessoas.
Entretanto, o elevado número de albinos na Tanzânia e a crença popular na magia negra elevam a preocupação de ativistas no país. Ainda não se sabe, porém, por que há uma alta taxa de albinismo por lá – tanto que se acredita que esse seja o berço dessa mutação genética. É possível que isso também seja resultado do isolamento que os albinos enfrentam na Tanzânia, que gera casamentos entre pessoas que já possuem essa característica, perpetuando ainda mais a mutação.

CONTANDO A VIDA 120

Nosso cronista-historiador está meio polêmico hoje! Em meio a considerações sobre o ato de fotografar, ele investe contra os selfies, o que você acha?



A AMEAÇA FOTOGRÁFICA: os selfies.
José Carlos Sebe Bom Meihy
Em termos práticos, na fria composição de elementos conjugados, fotografia é a combinação articulada do fotógrafo com um foco registrado, mediado pela câmera. Mas, isso é pouco para caracterizar um dos produtos mais difundidos do maquinário moderno. Personagens de uma relação na qual um explica o outro – fotógrafo, foto e ato de fotografar – os três só têm razão se vistos em conjunto. E o resultado é a mágica que demanda admiração, mas que aponta para mudanças da aceitação. Não há dúvida que a fotografia fascina, mas continuará assim? A vulgarização de seu uso e a multiplicação ilimitada do acesso comprometem a reputação dos bons fotógrafos. Compromete também a qualidade que não passa mais por crivos analíticos rigorosos.
Em preto e branco ou colorida, as fotos evocam sentimentos, guardam segredos poucas vezes revelados em palavras ou descrições escritas. Isso gera um culto e fundamenta a tal sociedade do espetáculo, proposta por Debord. Além disto, explica o redimensionamento da imagem como fenômeno social. Então, como desafio desdobrado, tanto o ato fotográfico como a foto e o fotógrafo se tornam objeto de admiração. Mas é inegável o abastardamento da fotografia, rebaixada a prática corriqueira pela vulgarização. Não faltam inclusive alarmantes gritas de que a fotografia como arte vai acabar. Com os selfies todos ser acham fotógrafos e isso é comprometedor.
Mas, falemos um pouco dos apreciadores de fotografia. Existem os que se alimentam e se esgotam em prazeres visuais imediatos, e há também os demais, aqueles que insatisfeitos com prazer contido na simplicidade do consumo primeiro, determinam cultos. Uns, se constituem em público; outros em admiradores, seres capazes de outras miradas. Separando os meros espectadores que se descomprometem de mistérios profundos, os exegetas da decifração, investigadores de enigmas inscritos além do produto fascinante dado pela tecnologia, visitam os interiores de um mundo irreal. São os que vêm mais do que imagens, mais mesmo do que vida, enxergam alma nas fotos. Nestes casos, compõem enredos ficcionais e querem saber do autor, dos personagens ou fatos, e assim adivinham luzes, sombras, gestos ocultos, palavras interditas, histórias emblemadas. Nessa senda ganha sentido a perturbadora frase de Henri Cartier-Bresson que mexe com os segredos flagrados pelas câmeras: “a fotografia é uma lição de amor e ódio ao mesmo tempo. É uma metralhadora, mas também é o divã do analista. Uma interrogação e uma afirmação, um sim e um não ao mesmo tempo. Mas é sobretudo um beijo muito cálido”.
Fotos vistas além das imagens estampadas revelam a busca de uma eternidade que poderia ser provisória se não captada. Poeticamente, não se resiste dizer que a fotografia é um protesto do efêmero da vida, e assim se comporta como negação do plano divino que fada tudo ao esquecimento. Registro, documento, arte, o que vale mesmo é a negação do fátuo, passageiro, morredouro. E assim se explica o ângulo ficcional da fotografia. Abre-se um novo cosmo de meditação e nele cabem a liberdade analítica e o direito à curiosidade possível. Ainda que feita por um, a fotografia autoral se converte em algo mais que manifestação pessoal. Vira argumento sociológico, transforma-se em código, força relações dialógicas e se inscrevem em constelações que enfeitiçam seus cultores, promovem mostras, animam exposições, motivam livros.

Não basta mais, para esses, a existência do fotógrafo, da máquina que registra e do modelo ou o fato. Junta-se à unidade fotografada a série, o conjunto, e então o artista se faz como decorrência do processo de produção e escolha dos produtos fotografados. É dessa forma que o curso de elaboração do ato fotográfico seriado acumula eras de sutil amadurecimento. Mas lembremos que a fotografia é também uma ilusão do real. O que se imagina de espontâneo em fotografia é mentira. Nesse dilema reside a diferença entre “ver” e “olhar” que projetados na contemplação de terceiros duplica relações. Sim a fotografia reclama público, convoca audiências e só assim ganha sentido como fato social. Seja como for, atualmente ninguém mais vive sem a fotografia. Mas até quando? Tudo depende de como vamos acolher o ato fotográfico em tempos de selfies. 

terça-feira, 25 de agosto de 2015

TELINHA QUENTE 174

Resultado de imagem para models inc
Roberto Rillo Bíscaro

Melrose Place estava em alta em 1994, então os produtores Aaron Spelling e E. Duke Vincent botaram um spin off no ar, na mesma Fox de Melrose.
Como o casal Anderson, Spelling é daqueles nomes que lemos em tantos shows, que decoramos. As Panteras, Barrados no Baile, Casal 20, S.W.A.T., Starsky e Hutch, Dynasty, A Ilha da Fantasia. Quem viveu os anos 70-90 não evitava o sobrenome Spelling caso assistisse à televisão.
Os 90’s viveram sob o feitiço das top models, tipo Claudia, Linda, Cindy e Naomi (não vai dizer que preciso pôr os sobrenomes!?), então, por que não reunir gente jovem e linda numa agência de modelos capitaneada por uma ex-estrela de soap clássica oitentista?
Models Inc (1994) tinha tudo pra dar certo. Só que não. Mesmo. Naufragou fragorosa e merecidamente.
A mãe de Amanda Woodward, Hillary Michaels (Linda Grey, a Sue Ellen, de DALLAS) tem uma pequena agência de modelos e mantém uma casa na praia pras meninas, porque elas são “família” pra ela. Truque pra reunir as personagens num local, como Southfork, em DALLAS. Soap usa muito o recurso de botar os personagens juntos e mostrar baixaria, por isso, jantares, casamentos e até velórios são avidamente aguardados por fãs; sabemos que rolará barraco!
A premissa pro dramalhão de Models Inc é a vida dessas meninas lindas e seus namorados lindos. Só que todos eram “atores” muito ruins, mesmo pros não tão elevados padrões dos novelões dos 80’s/90’s.
Personagens de soaps são perfeitos idiotas unidimensionais, então há que ter alguma qualidade ou defeito que nos faça amá-los/odiá-los. Quando JR aparecia, devia haver gente que tinha vontade de meter-lhe a mão na fuça. Victoria Grayson - embora duma geração de personagens um bocadinho mais complexa, mas só um tiquinho – era muito bem interpretada e a personagem genuinamente divertida. Amanda Woodward falava as linhas mais estúpidas de texto com propriedade e carisma.
As personagens e “atores” de Models Inc não possuem nada disso. Não sabemos quem é bonzinho ou malzinho. Parece que a queridinha deveria ser Sarah, versão noventista de Charlene Tilton, mas logo ela começa a beber e é tão horrível como atriz que nem dá pra empatizar.
O primeiro capítulo termina com um assassinato, mas como não tivéramos tempo de conhecer Terry essa sub-trama não interessou. No enterro, uma baixaria bizarra à Melrose: sai uma briga e o caixão cai, abre e a mão de Terry aparece. Depois disso, nenhuma podreira mais. Se Melrose tinha tantas, pra que perder tempo com as bobocas de Models Inc? Aborto, estupro, alcoolismo, filhos dados pra adoção e redescobertos, yeah yeah, yeah; ritual de lo habitual em soaps, mas feito sem emoção e ainda por cima com o pior de Melrose: aquela atroz música incidental de guitarras e sax. Há momentos que soa como Kenny G encontrando Enigma. Treva!
Spelling e Vincent, lá pelo meio da temporada única, tentaram algo que funcionara lindamente em Dynasty; na verdade, o que fez de Dynasty o clássico inegável no gênero. Se a audiência está baixa, que tal botar uma vilã inglesa morena e de cabelão? Se dera certo com Alexis Morell Carrington Colby Dexter Rowan, por que não em Models Inc? Se tiver nome incomum, melhor. Entra Grayson e nada acontece, nada melhora. E Emma Sams (a segunda Fallon, de Dynasty) nunca foi Joan Collins.
Lembro que a Globo passou a série depois da Sessão da Tarde; não sei se os 29 capítulos, porém. Só recomendo se você, como eu, for ultrafã da Linda Gray ou da Trinity, de Matrix (não o meu caso, porque Carrie-Ann Moss está ruim como o resto do elenco, inclusive Gray, que nunca foi grande atriz, mas foi Sue Ellen Ewing).

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

CAIXA DE MÚSICA 180



Roberto Rillo Bíscaro

No começo dos anos 90, após o Segundo Verão do Amor, o trio Saint Etiene suavemente iniciou sua mistura de electronica com elementos do pop dos 60’s aos 80’s. Mansos, melódicos e atmosféricos, os ingleses têm nos vocais de menininha de Sarah Cracknell um de seus trunfos mais fofos. Como resistir às canoras He’s On the Phone e Who do You Think You Are? Confira esta playlist com algumas das melhores do grupo:

Em 97, a vocalista lançou o solo Lipslide, bastante variado estilisticamente, mas cujo predomínio, como previsto, era eletrônico. O clima é pra cima e a produção sintetizadamente elegante, urbana e mudérrna.

Quando Lipslide estava próximo de completar sua maioridade, Cracknell saiu-se com Red Kite. Lançado em junho, o álbum quebra/frustra expectativas de quem esperava nova fornada de electronica. As 12 faixas são bem mais acústicas e a sensação é muito pop anos 60 com alguma melancolia. 
On The Swings podia estar na trilha sonora dalgum filme francês da Nouvelle Vague. Nothing Left to Talk About – dueto com Nicky Wire, do Manic Street Preachers – tem guitarra country easy listening, emprestando sabor fim dos 70’s. Uma delicinha com parara papa papara e tudo! Take the Silver, colaboração com o The Rails, é puro folk; quase dá vontade de cantar colhendo cevada. Gostosa melancolia impera em melodias como as de The Mutineer, I Close My Eyes e Ragdoll. Favourite Chair é delicada canção de ninar com marimba. It’s Never Too Late e Hearts Are For Breaking deveriam fazer Belle andSebastian corar de vergonha do álbum chato lançado este ano; 2 fofuras twee pra pegar no colo e cantar sussurrando ou saltitando. I Am Not Your Enemy é psicodelia domesticada demais; Cracknell querendo ser mais pesada do que consegue. Nem é ruim, mas se o álbum fosse todo na mesma toada não teria graça. 
A agridoçura dessa Pipa Vermelha enternece, embala pra dormir (no bom sentido), acalma e sustenta muitas audições com melodias assobiáveis e assimiláveis. Tomara que Cracknell não espere até 2033 pro terceiro solo.
Várias canções de Red Kite estão em versões ao vivo numa playlist do Youtube:

domingo, 23 de agosto de 2015

SUPERAÇÃO MODELAR

Antes de tornar-se modelo, Thando Hopa estudou direito e tornou-se advogada (Foto: Cortesia/Vichy)

'Decidi ser linda': Albina conta como superou preconceito para virar top model

Assediada na escola, hoje ela é referência para crianças albinas ao desfilar para conhecido estilista na África do Sul.


Desfilando as roupas de um conhecido estilista da África do Sul, a advogada e modelo sul-africana Thando Hopa, que é albina, é hoje uma referência para crianças vivendo com albinismo no país. Em depoimento à BBC, ela conta como superou o preconceito e discriminação sofridos na infância e "decidiu", um dia: "Vou ser estonteantemente linda".
O albinismo – transtorno genético caracterizado por falta do pigmento melanina na pele, cabelos e olhos – é relativamente raro na maior parte do mundo. Estatisticamente, entre uma em 17 mil e uma em 20 mil pessoas são albinas.
No entanto, índices do transtorno em algumas regiões africanas são bem mais altos. Segundo estimativas, uma em cada 4 mil pessoas na África do Sul seria albina e, na Nigéria, o índice seria de um albino em cada 5 mil habitantes.
Na Tanzânia, porém, a incidência do transtorno seria bem mais alta. Segundo estudo publicado em 2006 pela revista científica BMC, uma em cada 1.400 pessoas no país seria albina. O cálculo foi feito com base em dados incompletos mas, se for correto, haveria na Tanzânia uma população de mais de 40 milhões de pessoas, cerca de 30 mil albinos.
Especialistas suspeitam que maiores índices de albinismo estejam associados a uma maior incidência de casamentos consanguíneos em uma população.
Em vários países africanos, pessoas albinas tendem a ser discriminadas pela sociedade e até por suas próprias famílias. Casos de infanticídio de bebês albinos são comuns e muitas famílias deixam de enviar filhos albinos à escola por acreditarem que suas chances de conseguir emprego são mínimas.
Na Tanzânia, onde muitos acreditam que partes de corpos de albinos tragam poder e sorte, pessoas com albinismo são mortas e seus corpos usados em rituais supersticiosos.
Com seu trabalho, Hopa espera combater a ignorância e oferecer um modelo positivo para jovens crescendo com albinismo na África hoje.
A seguir, o depoimento de Hopa:
'Nunca vi uma menina tão linda'
"Desde muito pequena, meus pais sempre se esforçaram para que eu não me sentisse diferente. Mas, infelizmente, quando fui à escola e fui apresentada à sociedade, crianças, em particular, começaram a agir de forma estranha em relação a mim. Me xingavam, não queriam tocar em mim. Depois, comecei a perceber que mesmo pessoas bem mais velhas faziam coisas que eu não entendia. Cuspiam quando eu passava. Me disseram que era para evitar má sorte.
Um dia, aconteceu uma coisa muito estranha. Acho que eu tinha sete anos, estava voltando da escola. Uma mulher parou e começou a gritar: 'Meu Deus, é a filha do diabo, o que ela está fazendo comigo?'
Nunca me senti tão isolada. Naquele momento, me dei conta de que ela estava falando de mim. Aquilo me afetou tão profundamente que quando cheguei em casa disse à minha mãe que não queria mais ir à escola.
Eu não disse por quê. Mas o que mais me incomodava era que eu tinha sido criada com um forte senso de comunidade e eu não entendia como essa comunidade permitia que eu passasse por aquilo e ninguém repreendia essa mulher."
Alguma coisa na criação que Thando Hopa recebeu, no entanto, permitiu que ela resistisse às agressões e insultos.
"Minha mãe nunca disse nada, nunca sentou comigo para me preparar ou dizer coisas do tipo: 'Você vai começar a escola, você tem uma aparência diferente.' Acho que essa foi a forma que eles encontraram de me educar. Não queriam que eu me sentisse diferente.
Quando comecei a perceber, e as inseguranças começaram a aparecer, corri para o meu pai. Chorava, chorava, e dizia: 'Por que não sou igual a todo mundo? 'Ele respondia: 'Mas você é tão linda, nunca vi uma menina tão linda como você!' E eu respondia: 'Não, você está mentindo, você está mentindo!' Mas ele repetia a mesma coisa, continuamente. Nunca parou. E embora eu não estivesse consciente na época, acho que isso me fortaleceu.
E minha mãe me comprava as roupas mais lindas. Ela queria que eu me sentisse bonita do lado de fora, para que eu começasse a me sentir bonita de todas as formas. Então, um dia eu decidi que beleza era uma decisão. E eu decidi ser bonita. 'Sou bonita, a despeito do que as pessoas dizem', pensei. Eu estava na universidade. Decidi que ia começar do zero. 'Vou me encontrar.'
E trabalhei em mim mesma, intensivamente. Comecei a ter uma conversa comigo mesma. 'Sabe de uma coisa? Hoje vou ser bonita. Vou ser estonteantemente linda.' No final, isso começou a se refletir na minha autoconfiança."
Glamour albino
Ainda assim, Hopa admite que trabalhar como modelo era algo inimaginável.
"Nunca, jamais, imaginei desfilar em uma passarela. Eu queria ser advogada, achava que o mundo da moda era superficial e que só mulheres pouco inteligentes faziam esse tipo de atividade. Não queria ser associada a esse estilo de vida. Mas é muito fácil formar opiniões a respeito de uma carreira sobre a qual você não sabe absolutamente nada.
E isso foi antes de eu conhecer Gert-Johan Coetzee, um estilista muito conhecido na África do Sul. Eu estava andando em Johannesburgo – e confesso que aquele não era meu melhor dia – quando um homem se aproximou e disse: 'Oi! Você gostaria de fazer uma sessão de fotos?' Respondi que não sabia.
Ele percebeu que eu estava muito relutante, mas me deu um cartão. Mais tarde, quase jogando o cartão fora, contei à minha irmã, em tom de piada, sobre o convite. Eu disse: 'Imagine, de jeito nenhum eu faria isso!' Minha irmã disse que eu tinha uma cabeça muito estreita. 'Depois de tudo o que você passou, essa é sua oportunidade de mudar a percepção das pessoas sobre albinismo e de mudar a definição de beleza'."
Hopa conta que resolveu ligar para Coetzee, e assim tudo começou.
"Desfilo peças de alta-costura, trabalho predominantemente com ele. Ele tem um estilo muito glamouroso e extravagante."
Hopa explica que a atividade oferece uma plataforma para o trabalho de conscientização da população.
"Nosso slogan é A different shade of normal (em tradução livre, um tom diferente de normal). Ele permite que falemos sobre outras questões associadas ao albinismo. Coisas como (problemas de) pele e o nistagmo (movimentos oscilatórios e rotatóriosdos olhos) que afeta a maioria das pessoas com albinismo, e que me atrasou muito nos estudos.
(O nistagmo) é uma coisa estranha que acontece com os meus olhos, eles se movem muito porque estão tentando focar em alguma coisa. Isso está associado ao fato de eu ter uma miopia muito forte. Não pode ser resolvido com óculos, então não posso dirigir. Se eu não tivesse acessórios visuais na escola, se meus pais não tivessem feito uma pesquisa para entender o que estava acontecendo, eu não teria completado meus estudos.
(Na passarela), não consigo ver a profundidade dos degraus. Isso me deixa nervosa, porque tenho de sentir os degraus.
Hopa conta que o retorno que recebe do público é muito positivo. Como o comentário a seguir, que ouviu de uma mãe:
"Quando estou assistindo TV com minha filha pequena, digo a ela: 'Olha aquela moça, você está vendo só? Você pode ser como ela'."
"Me contam que me tornei uma referência positiva para seus filhos e que eu sou para eles uma prova de que podem superar suas circunstâncias", diz a modelo.