Ítalo Prog VII
Roberto Rillo Bíscaro
Roberto Rillo Bíscaro
Destoei a sexta postagem sobre rock progressivoitaliano fechando-a com um grupo contemporâneo, o Unreal City. O forte pipoco
prog dos 70’s gerou pérolas pouco conhecidas, algumas bobagens insuportáveis e
também iniciou a tradição dum sub-sub-gênero, que tem sigla (RPI), sites na
internet, verbete em enciclopédia prog e muita expectativa sobre a música
produzida na Bota.
No ocupado underground,
dificilmente passa semana sem lançamento italiano. Como são edições limitadas
de selos minúsculos e hoje em dia há a possibilidade de disponibilizar via
streaming/digital download e principalmente, porque meu bolso não tem euros e
muita coisa não cai no Pirate Bay, fica difícil conhecer além do teaser no
Soundcloud/ Youtube, mas a gente faz o que pode e de vez em quando fisga álbum
aqui, outro acolá.
O parmesão Unreal City voltou no começo de 2015 com Il
Paese del Tramonto, seu 2º trabalho. 7 faixas compõem o longo CD, que tem na
Overture: Obscurus Fio seu momento mais curto: 5 minutos. Há fãs prog que vão
direto na faixa mais longa, atrás de viagem sinfônica, psicodélica, seja qual
for seu sub-sub-gênero favorito. Desaconselho tal procedimento neste caso. Ex
Tenebrae Lux encerra o álbum com seus mais de 20 minutos meio sem graça e
chatos! Se a gente vem das outras faixas até pode funcionar pelo contexto, mas
sozinha a suíte não decola.
Il Paese del Tramonto proporcionará muito prazer a fãs
de sinfônico nas 4 ou 5 faixas iniciais, que trazem bastante influência de prog
europeu continental da segunda metade dos anos 70. Confira como os teclados
lembram o alemão Eloy. A guitarrista Francesca Zanetta tem mais destaque do que
no trabalho anterior. A guitarra fumega e plange em distintos timbres. Essa
novidade foi muito boa, porque o álbum equilibra bem pra quem curte chuvas
torrenciais de teclados vintage ou
solos guitarreiros. Desse modo, a peteca não cai nas primeiras faixas, que,
antes de serem complexas, são muito mutáveis. A alteração de ritmos e
andamentos dá falsa ideia de complexidade; na verdade, são diversos longos
pedaços até que simples (bem) emendados. Em termos de desenvolvimento grupal,
Caligari é a faixa mais interessante, porque adiciona toques de música
tradicional d’alguma região italiana, alegremente traduzidos pela guitarra,
constituindo-se na melodia mais marcante dum álbum cujo ponto forte não é ficar
na memória. É bom, mas é prog já ouvido muitas vezes, então não gruda, exceto
por Caligari. Os vocais continuam em italiano e a vozinha de Emanuele Tarscone
não me desce na maior parte do tempo, mas tiro o chapéu pra sua desenvoltura no
teclado.
Il Paese del Tramonto está todinho numa
playlist no Youtube:
O genovês La Coscienza di Zeno (LCZ) existe desde 2007
e sua discografia consiste de 3 álbuns, dos quais conheço inteiro apenas
Sensitivitá (2013). Sonoridade, criatividade, excelência e até o nome (tirado
dum romance psicanalítico) mantêm a tradição setentista do ítalo-prog em
eloquente estilo. LCZ é obrigatório pra fãs de prog sinfônico com grandes
momentos de drama e melodia e, embora longe de ser cópia, certamente agradará
em cheio a quem ama Genesis da segunda metade dos 70’s. Há algo no timbre e
textura dos teclados vintage (aqueles que parecem assobio ou lembram um coral)
e da guitarra, além do próprio estilo de composição que lembram muito Tony
Banks e Steve Hackett/Mike Rutherford.
La Citta di Dite abre o álbum, entregando o jogo: se o
ouvinte não curtir a faixa, nem adianta prosseguir a audição, porque todos os
elementos de Sensitivitá estão nela expostos. Piano clássico por um minuto,
seguido duma rajada de teclado, instrumental bombástico suportado por vocal
dramático em italiano, guitarra plangente, mudança de andamento pra tons
plangentes, nova alteração no andamento. Quase 7 minutos que enternecem e/ou
fazem vibrar.
Os vocais em italiano de Alessio Calandriello são
incríveis; derretem corações como no início Romântico da faixa-título ou na
segunda parte de Tensegrita, que cita A Whiter Shade of Pale, do Procul Harum,
o que significa que por tabela cita Bach. É demais pro coração dum amante de
prog sinfônico! Mas, na primeira metade de Tensegrita a voz de Alessio empresta
a energia necessária ao trecho.
Os quase 13 minutos de La Temperanza abrem com
instrumental de orquestra de câmara, passam por realejo de parque de diversão
antes de desabrocharem em deliciosa ciranda prog. Chiuza 1915 abre com teclado
nervoso, vira ciranda de piano, intercala esses 2 movimentos, vira linda balada
de piano, atinge clímax emocional vocal pra pintar gélidas paisagens prog de
segunda metade dos 70’s e ainda tem fôlego prum par mais de câmbios.
Os 3 chatinhos minutos de Tenue, onde nada acontece,
subtraem quase nada do brilhantismo deste álbum que ouço repetidamente desde
junho sem possibilidade de enjoar. (deletei Tenue).
Suona la campanella de la scuola...
Esta playlist contém o álbum inteiro e faixas de outros discos. LCZ merece ser ouvido e divulgado!
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