Roberto Rillo Bíscaro
Nos anos 80, DJs ingleses começaram a mesclar jazz – de
preferência artistas mais obscuros – com electronica.
A adição de acid house a porções
de jazz, soul, R’n’B, funk e hip hop resultou no acid jazz, que hoje talvez nem
exista mais como termo, mas é considerado a maior contribuição britânica ao
jazz. Os 3 primeiros anos dos 90’s assistiram ao apogeu do sub-gênero com
bandas como Brand New Heavies e US3 tocando e vendendo muito. O movimento teve
inúmeros artistas interessantes não apenas na Inglaterra: até a oitentista
brasuca Patrícia Marx tem álbum listado na Discogs como de acid jazz. Sem
contar que Marcos Valle virou queridinho nos círculos londrinos mais descolados
por um tempo. Da Suécia veio Koop; da Áustria, Count Basic; da Alemanha,
Jazzanova, enfim, muita coisa chique tem sido produzida, mesmo que agora não se
chame mais acid jazz.
Um dos grupos de que mais gosto é o britânico Incognito,
que em 1981 estreou com o álbum Jazz Funk. Desde então, são uns 15, 16 LPs (ai
que antigo isso!), sem contar inúmeros remixes e participações especiais. O pico
comercial veio no auge da exposição midiática do acid jazz, quando Always There
com a divina gritona Jocelyn Brown incendiou a parte de baixo do Top Ten inglês.
O
inventor do combo, Jean-Paul Maunick, adora chamar vozes negras
norte-americanas pra dar bafão (no bom sentido) nos álbuns. Foi através de
Incognito que conheci Maysa Leak. Step Into My Life, do álbum de 93, foi um
daqueles momentos de epifania chique. Escute e depois que parar de tremer/fazer pose/mexer mãos/desfilar,
volte a ler esta resenha:
Já se recuperou? Prossigamos.
Natural e ainda residente de minha querida Baltimore,
Maysa tem respeitada carreira com mais de dezena de álbuns e este ano uma de
suas canções foi indicada ao Grammy na categoria de melhor interpretação em
R’n’B. Jamais adquirindo status de diva de massa, Maysa mantém base de fãs
cativa e arranca elogios de Steve Wonder e se apresenta perante os Obamas.
No final de maio, saiu Back 2 Love, lançamento discreto
como a maioria de suas performances vocais. Quase nada nas seções de música da
grande imprensa; a maior parte das poucas resenhas está em sites de soul, jazz
ou R’n’B.
Maysa escolhe ser diva de tons médios e voz aveludada;
quem só curte gritaria nem perca tempo. Na dançante Miracle, ela mostra que tem
poder vocal pra isso, mas mesmo aí a maior parte é sem exagero. O álbum não
apresenta revolução em relação aos anteriores, mas na faixa-título sente-se
pontadinha de hip hop, bem, bem discreto, mas não se preocupe quem odeia: não
há falação e os menos atentos pensarão tratar-se apenas de faixa dance.
Heavenly Voices sintetiza o melhor do trabalho de Maysa
pra quem tiver seu primeiro contato: smooth
jazz salpicado de R’n’B, daqueles apropriados pra tocar em programas
noturnos elegantes de FM urbana. Last Chance for Love, urban jazz soul duetado com Phil Perry vai te levar diretamente pra
segunda metade dos 70’s, puro paraíso romântico.
Tear It Up, Tear It Down é jazz funk suingado e The Radio
Played Our Song flerta com o pop. Funk, jazz, soul, R’n’B misturados em
deliciosas canções e sedosas interpretações, pra que Maysa alteraria fórmula
tão eficaz e agradável?
As 11 faixas são solidamente deliciosas (o álbum tem 12,
mas a faixa-título aparece repetida no final sob forma de remix quase idêntico
ao original. O Simply Red também fez essa bobeira, vai entender), mas há um
destaque. Keep It Movin’ com seu agudo riff de guitarra sacana, vocal de
Stokley Williams e produção de soul contemporâneo com pitadinhas de hip hop é
absolutamente rebolativa e viciante.
Homogeneamente bom, Back 2
Love deverá agradar quem curte black music bem urbana e moderna. Pena que não
seja muito divulgado, mas quem precisa da grande imprensa com tantos blogs e
sites ?
UAU!!! Muito obrigada Roberto Rillo Biscaro! Maysa Leak!! Não conhecia essa diva ! Estava curtindo Stacey Kent (recomendo - um primor cantando em francês), mas, com sua dica, pedi licença à Stacey e deixei Maysa divar!! abraços!! uma ótima semana!!
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