Roberto Rillo Bíscaro
Não canso de re/petir/fletir: delícia ter blog desatrelado
da necessidade de atrair zilhões de leitores por postagem/dia. Posso escrever
sobre filme búlgaro, série sueca ou álbum “antigo” de nenhum sucesso de massa.
Lê quem quer; não preciso falar da dupla sertatosca da moda X ou da animação de
super-herói Y. Iupi!!!!!!
Escolhi destacar um trabalho de electronica binacional, lançado em 2011. O uruguaio Juan
Campodónico e o argentino Gustavo Santaolalla novamente juntaram talentos e o
resultado foi o álbum Campo. Novamente, porque os 2 colaboraram diversas vezes,
sendo que o momento mais inspirado dessa parceria foi a criação do Bajofondo,
em 2001, que mescla tango com eletrônica (leia uma resenha minha aqui).
Santaolalla é veterano na cena argentina; foi líder do
progressivo Arco Iris nos 70’s. Sua carreira internacional tem “apenas” 2 Oscars
no CV, por Brokeback Mountain e Babel.
Por não ser trabalho do Bajofondo, eletrotango não é a
tônica de Campo, que soa bastante orgânico com instrumentos “de verdade”, algo
na linha do indie-pop/rock. Turn On the Lights e Tu Lugar enganam que serão
eletrotangos, mas viram indie-pop pouco após os acordes iniciais. A canção mais
próxima do Bajofondo é el Viento, mas os beats meio acelerados estão precedidos
por telúricos passarinhos cantando. Os canoros, aliás, repetem seus gorjeios na
acústica e florestal Zorzal, que depois unirá humanos assobiando aos penosos.
1987 é rockinho com jeitão de The Cure e Devil Waits (for Me) é indie com
teclado gelado à New Order. Heartbreaks é uma delícia funkeada. Mas com
guitarra roqueirinha.
Num álbum com vocalistas cantando em espanhol e inglês, o
deslize ficou por conta de Cumbio, que, pelo título, indica sua filiação ao
gênero musical surgido nos guetos colombianos. Numa tentativa de soar malandro
ou sexy, o cara modifica a voz e consegue soar apenas esquisito.
O melhor de tudo é que o
álbum está disponível completo no Youtube, então, basta querer conhecer esse
bom exemplo de pop uruguaio-argentino:
Santo Youtube que nos permite acesso também a Remixes
& Rarezas (2014), que traz delicionas crocantes e pulantes! Heartbreaks,
que já era altamente saltitável, ganhou percussão olodúnica que fará você
balançar o bundão, bunita!
3 canções vêm em 2 versões:
- 1987 em remix que não tira o sabor The Cure e ainda
adiciona velocidade e barulhinhos eletrônicos pra ficar mais gostosa que o
original e versão demo em inglês, que mostra como ficou melhor a versão do
álbum, em espanhol.
- Cumbio em 2 remixes: o primeiro tenta deixá-la mais
ameaçadora, mas aquele vocal não tem conserto... O outro é daqueles bem
“típicos”, que elimina a letra e bota trechitos repetidos. Em qualquer versão
Cumbio me desagrada.
- A deliciosa La Marcha Tropical primeiro acrescenta
acordeão de milonga ao clima de cumbia da original, mas não a supera. O outro
remix fica naquela de repetir trecho da letra ad nauseam sobre fundo eletrônico, um saquinho se comparado ao
brejeiro original.
2 registros ao vivo. El
Mareo é indie-pop agitada-melancólica com guitarrinha deliciosa. Tuve Sol tem
voz feminina que não convence todo o tempo e tem clima bossa-nova às vezes; às
vezes bolero, nada marcante. Outras 2 que não constam no álbum são de estúdio. Carmesí é
lenta simpática e a instrumental Fobal prova que se o trabalho do
Campo fosse assim, não teria graça.
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