segunda-feira, 31 de agosto de 2015

CAIXA DE MÚSICA 181

Roberto Rillo Bíscaro

Não canso de re/petir/fletir: delícia ter blog desatrelado da necessidade de atrair zilhões de leitores por postagem/dia. Posso escrever sobre filme búlgaro, série sueca ou álbum “antigo” de nenhum sucesso de massa. Lê quem quer; não preciso falar da dupla sertatosca da moda X ou da animação de super-herói Y. Iupi!!!!!!
Escolhi destacar um trabalho de electronica binacional, lançado em 2011. O uruguaio Juan Campodónico e o argentino Gustavo Santaolalla novamente juntaram talentos e o resultado foi o álbum Campo. Novamente, porque os 2 colaboraram diversas vezes, sendo que o momento mais inspirado dessa parceria foi a criação do Bajofondo, em 2001, que mescla tango com eletrônica (leia uma resenha minha aqui).
Santaolalla é veterano na cena argentina; foi líder do progressivo Arco Iris nos 70’s. Sua carreira internacional tem “apenas” 2 Oscars no CV, por Brokeback Mountain e Babel.

Por não ser trabalho do Bajofondo, eletrotango não é a tônica de Campo, que soa bastante orgânico com instrumentos “de verdade”, algo na linha do indie-pop/rock. Turn On the Lights e Tu Lugar enganam que serão eletrotangos, mas viram indie-pop pouco após os acordes iniciais. A canção mais próxima do Bajofondo é el Viento, mas os beats meio acelerados estão precedidos por telúricos passarinhos cantando. Os canoros, aliás, repetem seus gorjeios na acústica e florestal Zorzal, que depois unirá humanos assobiando aos penosos. 1987 é rockinho com jeitão de The Cure e Devil Waits (for Me) é indie com teclado gelado à New Order. Heartbreaks é uma delícia funkeada. Mas com guitarra roqueirinha.
Num álbum com vocalistas cantando em espanhol e inglês, o deslize ficou por conta de Cumbio, que, pelo título, indica sua filiação ao gênero musical surgido nos guetos colombianos. Numa tentativa de soar malandro ou sexy, o cara modifica a voz e consegue soar apenas esquisito. 
O melhor de tudo é que o álbum está disponível completo no Youtube, então, basta querer conhecer esse bom exemplo de pop uruguaio-argentino:

Santo Youtube que nos permite acesso também a Remixes & Rarezas (2014), que traz delicionas crocantes e pulantes! Heartbreaks, que já era altamente saltitável, ganhou percussão olodúnica que fará você balançar o bundão, bunita!
3 canções vêm em 2 versões:
- 1987 em remix que não tira o sabor The Cure e ainda adiciona velocidade e barulhinhos eletrônicos pra ficar mais gostosa que o original e versão demo em inglês, que mostra como ficou melhor a versão do álbum, em espanhol.
- Cumbio em 2 remixes: o primeiro tenta deixá-la mais ameaçadora, mas aquele vocal não tem conserto... O outro é daqueles bem “típicos”, que elimina a letra e bota trechitos repetidos. Em qualquer versão Cumbio me desagrada.
- A deliciosa La Marcha Tropical primeiro acrescenta acordeão de milonga ao clima de cumbia da original, mas não a supera. O outro remix fica naquela de repetir trecho da letra ad nauseam sobre fundo eletrônico, um saquinho se comparado ao brejeiro original.
2 registros ao vivo. El Mareo é indie-pop agitada-melancólica com guitarrinha deliciosa. Tuve Sol tem voz feminina que não convence todo o tempo e tem clima bossa-nova às vezes; às vezes bolero, nada marcante. Outras 2 que não constam no álbum são de estúdio. Carmesí  é lenta simpática e a instrumental Fobal prova que se o trabalho do Campo fosse assim, não teria graça.

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