quarta-feira, 5 de agosto de 2015

CONTANDO A VIDA 117

Hoje nosso cronista-historiador conta com leveza como se esbaldou em terras mineiras, visitando a histórica Ouro Preto, tomando cachaça, papeando com motoristas...

EM MINAS, MEIO BANDEIRANTE, MEIO TURISTA...

José Carlos Sebe Bom Meihy

Como dizem por aí, a vida é uma caixa de surpresas. Fui destacado pela minha editora para divulgar meus livros. Teria que aceitar, é claro, pois isso é um elogio distintivo. Mas tudo seria mais fácil se recebesse indicação do destino, fora o eixo São Paulo Rio. Alternativas abertas, isso foi o suficiente para armar um teorema em minha cabeça: para onde ir? Complicando dilema se montou, pois poderia escolher qualquer capital do país. Ponderei sobre a Bahia, estado que mais consome tudo que publico; ventilei o Rio Grande do Sul, onde existem grupos atentos à história oral; em pensamento, supus Brasília e também contemplei Recife. Seria uma boa oportunidade de ir ao Maranhão – única capital brasileira que não conheço, também ponderei. Dei asas às oportunidades e por dias me deixei levar. Finalmente, depois de titubeios, optei por Minas. Belo Horizonte especificamente, e vigorou o fato de ter em mente a doação prometida de 21 pranchas de Portinari com versos de Drummond, em edição rara. Antes, já havia ofertado para o Arquivo dos Escritores Mineiros, da UFMG, os microfilmes de Carolina Maria de Jesus. Pesou na decisão o fato de ter amigos queridos, em particular o casal Constança e Eduardo Duarte.  A programação, como seria de se esperar, seria intensa. Teria que ficar à disposição de entrevistas para jornais e televisão, além de tratar de um assunto importante com a Editora da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG. Sobretudo, era importante o lançamento planejado para a simpática Livraria Don Quixote. Com ajustes, tudo deu certo, restando o domingo livre.
Confesso que tinha várias alternativas em mente: ir para Brumadinho visitar novamente o Museu Nhotim - com espetacular acervo de arte contemporânea, o maior museu a céu aberto da América Latina; pensei em passar o dia em BH e visitar os museus locais, dar uma volta à Pampulha e ver os painéis de Portinari na combinação perfeita com o prédio de Niemeyer. Poderia ainda conhecer o Museu do Peso e da Mineralogia. É lógico que daria para ir ao fabuloso Mercado Central e até ver a famosa Feira de Artesanato da Av. Afonso Pena. Venci a etapa das tentações e optei por Ouro Preto. A bem da verdade, devo dizer que não fazia muito tempo que havia estado lá, mas o friozinho do inverno e a possibilidade de visitar o incrível Museu do Oratório, a propaganda das igrejas preparadas para receber os turistas que estariam lá para o Festival de Inverno bastaram. Preciso dizer que encontrei um chofer autenticamente mineiro: orgulhoso da terra; simpático e conhecedor de bastidores da vida cultural da região. E dos bastidores da política local também.
A conversa fiada no caminho ia dando detalhes da corrupção da política estadual, fato que explicava porque os “mineiros autênticos” não votaram no Aécio. Da política passamos por questões da preservação dos monumentos e da atenção especial que Minas merece no quesito preservação do patrimônio Histórico. Falamos, é claro, da comida mineira e dos escritores “os mais importantes da Literatura brasileira”: Guimarães, Drummond, Sabino, e até Carolina Maria de Jesus repontou. Por fim, chegamos. Ouro Preto estava lotada de pessoas, pois o tema do Festival de Cinema era o papel dos interpretes negros. Não faltou gente para prestigiar. Visitei o Museu da Inconfidência, lindamente reformado e passei por algumas igrejas. Meu tempo, contudo, estava reservado prioritariamente ao Museu do Oratório. Que espetáculo! Seja pela coleção, pela disposição das peças, pela música de fundo, por tudo enfim, olhei aquela montagem como se fosse a primeira vez. E fiquei extasiado. A precisão das informações, a iluminação certeira, a sequência pedagógica. Tudo encanta. Demorei umas três horas perdido em contemplação absoluta. Ao sair, o entardecer foi coroado por lindo pôr do sol, com um trago de boa cachaça e linguiça apimentada.
Deixei Ouro Preto, mais barroco do que já sou, e fico pensando nos recantos deste Brasil que precisa se mostrar mais. A completar tudo, reconheci os passos taubateanos que desbravaram Minas e bateu um orgulho meio bobo de achar que aquela realidade é um pedaço do que fomos.       

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