quarta-feira, 12 de agosto de 2015

CONTANDO A VIDA 118

Nosso cronista-historiador se derrama em elogios ao Papa Francisco. Eita argentino danado esse, seduzindo muitos brasileiros!

O PAPA ESTRELA CADENTE!...

José Carlos Sebe Bom Meihy
O século XXI mal começou e já elegi o personagem emblemático, mais importante, da centúria: o Papa Francisco. Duvido que algum outro tipo possa comover e provocar mais que ele. “Está pra nascer”, diria. Indo além do elogio periférico, é preciso dar garantias, edificar argumentos capazes de sustentar minha ousadia qualitativa. E seria fácil. Bastaria, por exemplo, citar o posicionamento amoroso junto aos gays; a abertura para maior participação das mulheres nos polos decisivos – inclusive rituais –; os pedidos de perdão aos indígenas, judeus e às vítimas de pedofilia exercida por sacerdotes, e agora, o acolhimento a casais de matrimônios que não deram certo. Isso sem falar da discussão sobre o celibato de religiosos. A coleção de avanços promovidos pelo Sumo Pontífice é surpreendente. Até entendo a profundidade desta referência, lembrando que a expressão solene “pontífice” deriva de “ponto”. Sim, o Papa deveria representar a palavra final, o sumo ponto, da prática e vivência religiosas.
Pensando nessas (re)conquistas, me vejo cativado à retomada de meu posicionamento religioso. Permitam-me breve digressão histórico-pessoal. Nasci e fui criado em lar católico. Sempre gostei de rezar, de seguir rituais sagrados e até de estudar a Bíblia. Tudo mudou quando fui aluno de colégio interno, sob a mira de severos salesianos. Saí daquela escola abominando aspectos da religião, em particular o verticalismo autoritário que hierarquizava tudo. Tive uma reconversão durante a ditadura militar, movido em muito pelo papel sensível de Dom Evaristo Arns frente a defesa da democracia. Fui ardente admirador da teologia da libertação e até, por essa época, entrei de cabeça nos movimentos religiosos que prometiam outra igreja. Lembro-me emocionado do apoio às Comunidades Eclesiais de Base e do entusiasmo de trabalhar em colégio religioso. Aconteceu, porém, que a retomada conservadora dos anos de 1990 em diante, novamente me jogou na descrença. Diria que estava acomodado e que descansava à sombra, num aprazível “deixa disso”. Mas, eis que de repente me aparece o Papa argentino. Confesso que ele me perturbou desde o começo e um dos efeitos provocados foi uma miragem na minha própria trajetória. E tudo ficou mágico. Uma das implicações disso foi a revisão que fiz de minhas atitudes capitais em função do histórico pessoal cristão.
Não pensem que a situação me é fácil. Nada! Estou mergulhado em dilemas sérios, pois não tenho mais o desprendimento de quantos creem sem necessidades de se justificar. Acatar pressupostos religiosos nessa altura da vida demanda explicações severas. Para mim, hoje, os pecados capitais não são mais aqueles de antigamente. Acho que a miséria, a exploração dos outros, o consumismo, a violência, sãos as grandes iniquidades praticadas pelos humanos. Mas, ironicamente, é exatamente aí que o Papa Francisco me tonteia. Ele critica tudo isso e o faz de maneira cativante, simples, com as palavras que queria ouvir. E não se exaure em dizer. A simplificação do ritual doméstico, com a suspensão do luxo no Vaticano, as constantes quebras de protocolo e os dribles na segurança pessoal, e até o fato de torcer por um time “menor” de futebol o humaniza de maneira santa. Gosto da imagem dele.

Sei que devo lembrar que o Papa não é a igreja e que esta, como instituição sólida que é, não mudará tão cedo. É-me claro que alguns segmentos conservadores já afiam as unhas, mas não dá para deixar a esperança e ficar passivo aguardando resultados. É assim que me coloco na berlinda: tenho que tomar posição. E tomar posição implica aderir. Foi pensando nisso que me veio uma imagem significativa. O Papa Francisco se afigura na noite do meu céu pessoal como uma estrela cadente. Sei que estrela cadente não é propriamente estrela, mas lampejo de brilho intenso que transita no espaço, meteoro de massas desintegradas de outros astros. Ao entrar na atmosfera, tais “estrelas” encantam os que olham a noite. O fascinante das estrelas cadentes é que elas deixam memórias, marcam. Por enquanto o Papa Francisco está brilhando. Preciso de tempo para ver o impacto dessa luz forte no meu firmamento pessoal. Mas algo já mudou. 

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