sexta-feira, 21 de agosto de 2015

RECONSTRUINDO CORPOS E MENTES

Baraka Cosmas Lusambo, six, reaches out with his new prosthetic hand during a fitting in Philadelphia

‘Ainda Não Sei o Que Fizeram Com Meu Braço’: crianças albinas desmembradas, que estão recebendo próteses nos EUA, revivem os horrendos ataques feitos por curandeiros. 

Tim Mcfarlan
(Tradução: Roberto Rillo Bíscaro)

Cinco crianças com albinismo que estão nos EUA para receber próteses contam como seus membros foram decepados para serem vendidos a curandeiros.
Mwigulu Magesa, Emmanuel Rutema, Baraka Lusambo, Kabula Masanja e Pendo Noni estão em Nova York neste verão enquanto provam suas próteses e aprendem a usá-las. Mas, ao mesmo tempo que esperam por um futuro melhor, suas mentes continuam assombradas pelo que aconteceu a eles. 
Kabula Nkarango Masanja, 17, relembra como os homens que a atacaram inicialmente exigiram dinheiro de sua família – mas eles não tinham nenhum. Sua mãe ofereceu-lhes a bicicleta da família, no lugar, uma vez que era o único item de valor que possuíam. Os brutamontes recusaram, e, segurando Kabula, deceparam seu braço direito na altura das axilas, com 3 golpes. Antes de partirem com o membro em uma sacola plástica, os agressores disseram à mãe que outros homens viriam para retirar os órgãos de sua filha. Até agora eles não apareceram. Kabula conta que pensa constantemente em seu membro ausente. ‘Sinto-me mal, porque ainda não sei o que fizeram com meu braço, onde está, que vantagens sacaram dele – ou se eles simplesmente o jogaram fora’.
Baraka Cosmas, 6, lembra perfeitamente a noite em que homens munidos com tochas e facas invadiram sua casa, no oeste da Tanzânia, deixaram sua mãe inconsciente e retalharam sua mão direita. O garotinho relata: ‘Estávamos dormindo tranquilamente, quando alguém chegou do nada, atrás de mim, com machados’.
Charity founder Elissa Montanti gives Mwigulu Magesa a kiss as he celebrates his 12th birthday with (l-r) Emmanuel Rutema,  Baraka Lusambo, Kabula Masanja and Pendo Noni
Baraka e as quatro outras crianças recebendo tratamento médico nos EUA têm albinismo – alteração genética que resulta em pouca ou nenhuma cor na pele, cabelo e olhos.
Em algumas comunidades tradicionais da Tanzânia e outros países africanos, acredita-se que pessoas com albinismo possuem qualidades mágicas. Partes de seus corpos podem alcançar dezenas de milhares de dólares em um repulsivo mercado negro. Curandeiros as usam em poções que supostamente trariam riqueza e boa sorte.
O albinismo atinge uma em cada 15 mil pessoas na Tanzânia, de acordo com a ONU. Todos os albinos correm risco de serem mutilados ou mortos e vítimas atacadas uma vez, podem ser atacadas novamente.
O governo tanzaniano tornou os curandeiros ilegais ano passado, numa tentativa de conter os ataques, mas anova lei não cessou a carnificina. Na verdade, houve sensível aumento nos ataques no país e no vizinho Malawi, atesta a ONU. Só na Tanzânia pelo menos 8 ataques foram registrados ano passado.
Baraka, Kabula e três outras crianças foram trazidas aos EUA pelo Global Medical Relief Fund, entidade filantrópica fundada por Elissa Montanti em 1997 para ajudar jovens de áreas em crise a obterem próteses customizadas.
Montanti – emocionada por um artigo sobre Baraka – contatou a ONG canadense Under the Same Sun, que luta e protege pessoas com albinismo na Tanzânia, a qual tinha Baraka sob custódia desde que ocorreu o ataque, em março. Quando ela perguntou se podia ajuda-lo, a organização perguntou se ela também poderia auxiliar 4 outras crianças. Ela concordou e trouxe as 5 para passarem o verão em seu lar-abrigo em Staten Island, enquanto experimentavam e aprendiam a usar suas próteses, no Philadelphia Shriners Hospital for Children.
Overawed: The group have their picture taken by the Revlon camera during a trip to New York's Times Square
Uma vez que as crianças estejam adaptadas às próteses, serão mandadas para abrigos na Tanzânia, mantidos pela Under the Same Sun. À medida que as crianças cresçam, serão enviadas aos EUA para receber novas próteses.
Em recente visita ao hospital, Baraka experimentou sua prótese – e brincou com a mão direita de plástico da cor da pele, enquanto esta jazia a seu lado na maca. Seu atrofiado braço direito mal tinha força para levantar a prótese, mas isso era esperado – ele se fortalecerá, uma vez que a mão protética esteja no lugar.
Entre as visitas ao hospital, Montanti preenche o verão das crianças com atividades típicas norte-americanas. No fim de julho, elas foram pela primeira vez a uma piscina, com salva-vidas voluntários supervisionando-as. 
Montanti disse que as crianças se tornaram como seus filhos adotivos, especialmente Baraka.
‘Eles jamais terão seus braços de volta, mas estão conseguindo algo que os ajudará a levar uma vida produtiva e ser parte da sociedade, ao invés de serem vistos como anomalias ou incompletos’.
Charity assistant Monica Watson helps Baraka run away from a wave at Long Beach Island, New Jersey

Eye opener: The group walk through Times Square during their summer in the United States

Baraka has sunscreen applied before he and the others have a dip in a swimming pool for the very first time

Striding ahead: The children's summer has been filled with typical American activities in between hospital visits. Here the group walks through Times Square

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