‘Ainda Não
Sei o Que Fizeram Com Meu Braço’: crianças albinas desmembradas, que estão
recebendo próteses nos EUA, revivem os horrendos ataques feitos por
curandeiros.
Tim Mcfarlan
(Tradução: Roberto Rillo Bíscaro)
Cinco crianças com albinismo que estão nos EUA para
receber próteses contam como seus membros foram decepados para serem vendidos a
curandeiros.
Mwigulu Magesa, Emmanuel Rutema, Baraka Lusambo,
Kabula Masanja e Pendo Noni estão em Nova York neste verão enquanto provam suas
próteses e aprendem a usá-las. Mas, ao mesmo tempo que esperam por um futuro
melhor, suas mentes continuam assombradas pelo que aconteceu a eles.
Kabula Nkarango Masanja, 17, relembra como os
homens que a atacaram inicialmente exigiram dinheiro de sua família – mas eles
não tinham nenhum. Sua mãe ofereceu-lhes a bicicleta da família, no lugar, uma
vez que era o único item de valor que possuíam. Os brutamontes recusaram, e,
segurando Kabula, deceparam seu braço direito na altura das axilas, com 3
golpes. Antes de partirem com o membro em uma sacola plástica, os agressores
disseram à mãe que outros homens viriam para retirar os órgãos de sua filha.
Até agora eles não apareceram. Kabula conta que pensa constantemente em seu
membro ausente. ‘Sinto-me mal, porque ainda não sei o que fizeram com meu
braço, onde está, que vantagens sacaram dele – ou se eles simplesmente o
jogaram fora’.
Baraka Cosmas, 6, lembra perfeitamente a noite em
que homens munidos com tochas e facas invadiram sua casa, no oeste da Tanzânia,
deixaram sua mãe inconsciente e retalharam sua mão direita. O garotinho relata:
‘Estávamos dormindo tranquilamente, quando alguém chegou do nada, atrás de mim,
com machados’.
Baraka e as quatro outras crianças recebendo tratamento médico nos EUA
têm albinismo – alteração genética que resulta em pouca ou nenhuma cor na pele,
cabelo e olhos.
Em algumas comunidades tradicionais da Tanzânia e outros países
africanos, acredita-se que pessoas com albinismo possuem qualidades mágicas.
Partes de seus corpos podem alcançar dezenas de milhares de dólares em um
repulsivo mercado negro. Curandeiros as usam em poções que supostamente trariam
riqueza e boa sorte.
O albinismo atinge uma em cada 15 mil pessoas na Tanzânia, de acordo com
a ONU. Todos os albinos correm risco de serem mutilados ou mortos e vítimas
atacadas uma vez, podem ser atacadas novamente.
O governo tanzaniano tornou os curandeiros ilegais ano passado, numa
tentativa de conter os ataques, mas anova lei não cessou a carnificina. Na
verdade, houve sensível aumento nos ataques no país e no vizinho Malawi, atesta
a ONU. Só na Tanzânia pelo menos 8 ataques foram registrados ano passado.
Baraka, Kabula e três outras crianças foram trazidas aos EUA pelo Global
Medical Relief Fund, entidade filantrópica fundada por Elissa Montanti em 1997 para
ajudar jovens de áreas em crise a obterem próteses customizadas.
Montanti – emocionada por um artigo sobre Baraka –
contatou a ONG canadense Under the Same Sun, que luta e protege pessoas com
albinismo na Tanzânia, a qual tinha Baraka sob custódia desde que ocorreu o
ataque, em março. Quando ela perguntou se podia ajuda-lo, a organização
perguntou se ela também poderia auxiliar 4 outras crianças. Ela concordou e
trouxe as 5 para passarem o verão em seu lar-abrigo em Staten Island, enquanto
experimentavam e aprendiam a usar suas próteses, no Philadelphia Shriners
Hospital for Children.
Uma vez que as crianças estejam adaptadas às
próteses, serão mandadas para abrigos na Tanzânia, mantidos pela Under the Same
Sun. À medida que as crianças cresçam, serão enviadas aos EUA para receber
novas próteses.
Em recente visita ao hospital, Baraka experimentou
sua prótese – e brincou com a mão direita de plástico da cor da pele, enquanto
esta jazia a seu lado na maca. Seu atrofiado braço direito mal tinha força para
levantar a prótese, mas isso era esperado – ele se fortalecerá, uma vez que a
mão protética esteja no lugar.
Entre as visitas ao hospital, Montanti preenche o
verão das crianças com atividades típicas norte-americanas. No fim de julho,
elas foram pela primeira vez a uma piscina, com salva-vidas voluntários
supervisionando-as.
Montanti disse que as crianças se tornaram como
seus filhos adotivos, especialmente Baraka.
‘Eles jamais terão seus braços de volta, mas estão
conseguindo algo que os ajudará a levar uma vida produtiva e ser parte da
sociedade, ao invés de serem vistos como anomalias ou incompletos’.
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