Roberto Rillo Bíscaro
Existe tendência pós-moderna de ironizar convenções do
passado ou de desmontá-las perante o público pra fazer graça. Dos Pânicos aos
Shreks, isso perpassa boa parte de nossa cultura visual de agora. Nada
necessariamente contra, mas prefiro homenagens ou releituras. Lembram-se de
como elogiei o retrô The House of the Devil? Talvez porque não goste muito de
“terrir”; pra mim uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Tudo bem
rir de terror que de tão ruim ou absurdo vira cômico, mas quando é feito pra
ser “horrir”, geralmente não funciona em nenhum nível comigo. O canadense Lost
After Dark (2014) me agradou bastante, justamente porque não pretende zoar os
slashers oitentistas. Pelo contrário; homenageia este sub-gênero tão
amado/odiado, um dos símbolos da Melhor Década.
8 adolescentes furtam o ônibus escolar pra ir pruma
cabana, mas, quando o veículo quebra na escuridão da estrada, têm que se
refugiar num casarão abandonado, onde uma família de canibais habitava antes de
ser dizimada pela polícia. Mas, um deles, o Júnior, parece que escapou, pelo
menos é o que reza a lenda urbana. No local, os adolescentes – tipicamente
interpretados por atores velhos demais pra faixa etária – descobrirão não se
tratar de lenda e serão mortos um a um. Receita
tradicional de slasher, mas que consegue embaralhar um par de convenções;
preste atenção, por exemplo, em quem morre primeiro.
Fãs de slice’n’dice - mas fãs mesmo! – deleitar-se-ão com
os nomes das personagens; Adrienne, Sean, Mr. Cunningham, Jamie, Wesley: há uma
lógica pros masculinos e outra pros femininos. Ambientado em 1984, Lost After
Dark reconstituiu bem o período, com fotos de Reagan, Cubo Mágico, penteados,
vestuários e carros. Não prestei atenção se falaram “totally”, mas “as if” foi
usado por uma garota que se penteava como Madonna. A trilha sonora,
provavelmente original, tem clones de Olivia Newton John, Kim Wilde e aquelas
vozes macambúzias que cantavam sobre teclados geladões.
Lento no início – slashers tendiam a ser assim pelo baixo
orçamento; não dava pra gastar muita grana o filme todo – Lost After Dark evita
os clichês de tortura de Jogos Mortais e fixa-se na fórmula tradicional do
sub-gênero. Até as mortes não são violentas demais; um pouco mais gráficas que
nos 80’s talvez, mas nada demais. O resultado é um filme divertido, que
agradará até os fãs da época e que talvez hoje pensem “ah, não se fazem mais
filmes como antigamente”.
Defeitos há, especialmente a tarantinice de tentar imitar
película velha, com rolo de filme faltando. A gravação é moderna demais pra
acreditarmos que se trata de película antiga e essa convenção não é de slasher. Pena também que o assassino não use máscara. Detalhes que não estragam
o prazer retrô de Lost After Dark.
Ótima resenha, seu Robert!
ResponderExcluirUns amigos amantes de terror já haviam me falado desse filme, agora fiquei com vontade de ver mesmo =)
Um abraço,
Samir