quinta-feira, 27 de agosto de 2015

TELONA QUENTE 126

Roberto Rillo Bíscaro

Existe tendência pós-moderna de ironizar convenções do passado ou de desmontá-las perante o público pra fazer graça. Dos Pânicos aos Shreks, isso perpassa boa parte de nossa cultura visual de agora. Nada necessariamente contra, mas prefiro homenagens ou releituras. Lembram-se de como elogiei o retrô The House of the Devil? Talvez porque não goste muito de “terrir”; pra mim uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Tudo bem rir de terror que de tão ruim ou absurdo vira cômico, mas quando é feito pra ser “horrir”, geralmente não funciona em nenhum nível comigo. O canadense Lost After Dark (2014) me agradou bastante, justamente porque não pretende zoar os slashers oitentistas. Pelo contrário; homenageia este sub-gênero tão amado/odiado, um dos símbolos da Melhor Década.
8 adolescentes furtam o ônibus escolar pra ir pruma cabana, mas, quando o veículo quebra na escuridão da estrada, têm que se refugiar num casarão abandonado, onde uma família de canibais habitava antes de ser dizimada pela polícia. Mas, um deles, o Júnior, parece que escapou, pelo menos é o que reza a lenda urbana. No local, os adolescentes – tipicamente interpretados por atores velhos demais pra faixa etária – descobrirão não se tratar de lenda e serão mortos um a um.  Receita tradicional de slasher, mas que consegue embaralhar um par de convenções; preste atenção, por exemplo, em quem morre primeiro.
Fãs de slice’n’dice - mas fãs mesmo! – deleitar-se-ão com os nomes das personagens; Adrienne, Sean, Mr. Cunningham, Jamie, Wesley: há uma lógica pros masculinos e outra pros femininos. Ambientado em 1984, Lost After Dark reconstituiu bem o período, com fotos de Reagan, Cubo Mágico, penteados, vestuários e carros. Não prestei atenção se falaram “totally”, mas “as if” foi usado por uma garota que se penteava como Madonna. A trilha sonora, provavelmente original, tem clones de Olivia Newton John, Kim Wilde e aquelas vozes macambúzias que cantavam sobre teclados geladões.
Lento no início – slashers tendiam a ser assim pelo baixo orçamento; não dava pra gastar muita grana o filme todo – Lost After Dark evita os clichês de tortura de Jogos Mortais e fixa-se na fórmula tradicional do sub-gênero. Até as mortes não são violentas demais; um pouco mais gráficas que nos 80’s talvez, mas nada demais. O resultado é um filme divertido, que agradará até os fãs da época e que talvez hoje pensem “ah, não se fazem mais filmes como antigamente”.
Defeitos há, especialmente a tarantinice de tentar imitar película velha, com rolo de filme faltando. A gravação é moderna demais pra acreditarmos que se trata de película antiga e essa convenção não é de slasher. Pena também que o assassino não use máscara. Detalhes que não estragam o prazer retrô de Lost After Dark.

Um comentário:

  1. Ótima resenha, seu Robert!
    Uns amigos amantes de terror já haviam me falado desse filme, agora fiquei com vontade de ver mesmo =)

    Um abraço,
    Samir

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