Ainda bem que deixei na possibilidade a dobradinha de
cantoras inglesas nesta edição da Caixa de Música. Se tivesse prometido, teria
que quebrar a palavra: na sexta-feira, evento cultural de magnitude sísmica dez
abalou o Planet Earth: Duran Duran lançou seu 14º álbum, Paper Gods. Se All You Need Is Now (2010, resenhado aqui) fora retorno estilístico e
estiloso ao auge de 1983-4, Paper Gods é meio-termo entre contemporaneidade e a
fase funkeada de Notorious (1985).
Nile Rodgers colabora e durante um par de milissegundos da faixa-título, a
gente acha que vai ouvir outra Wild Boys, clássico produzido pelo inventor do
Chic.
Dualidade – contradição – é a tônica de Paper Gods; nada
surpreendente pruma banda que sempre viveu na ambiguidade entre fazer música
“séria” e emplacar hits, ter sucesso maciço, ser adulada/idolatrada. Na
faixa-título, Simon alfineta as celebridades-nada e a superficialidade destes
tempos, apenas pra pouco depois duetar com a escandalete Lindsay Lohan, na deliciosamente vulgar Danceophobia.
Quero ver um duranie resistir de mexer o bundão com a batida pop facinha da
faixa produzida pelos modernos Mr. Hudson e Josh Blair. E a voz rouca da
luxo-lixo LiLo recitando baboseiras no papel de “médica” é a medida exata da deliciosa
sordidez que o Duran pode produzir. E nada disso é crítica destrutiva: sou duranie e essa banda tem um álbum chamado Pop Trash (2000). Easy to be sleazy when you've got a filthy mind pontifica Marina and the Diamonds; nós duranies temos e
somos felizes que Simon, Nick, John e Roger também.
A generosa porção moderna de Paper
Gods tem momentos brilhantes como a EDM de Last Night in the City, com a divada
participação de Kiesza e a pipocante Change the Skyline com suas 2 linhas
marcantes de teclado e vocais adicionais do aerado dinamarquês Jonas Bjerre. Na
segunda audição você já estará cantarolando os refrães. O álbum está repleto de
convidados, mas sozinho o Duran também faz bonito, como na delícia balouçante
de Face For Today ou na relaxada (no bom sentido) Sunset Garage.
A voz de Le Bon – manipulação de
estúdio ou não – continua encharcada em libido; daí imagine combiná-la com a
guitarra sexual de Nile Rodgers em eletrofunk oitentista, mas com produção de 2015? Assim é Pressure Off,
ponto alto do conjunto; diabrete de canção com vocais adicionais de Janelle
Monáe.
John Frusciante, ex-guitarrista do
Red Hot Chilli Peppers contribui em 3 faixas. What Are The Chances constitui a
porção baladeira filler em companhia de You Kill Me With Silence (sem John). O
ex-Pimenta também está em The Universe Alone, que fecha a versão standard de
Paper Gods em crescente clima de catarse. Puro drama, perfeito pra voz de
Simon. Pra ouvir gritando “the universe alone”, com as mãos cruzadas sobre o
peito. Butterfly Girl é a mais contagiante das participações de Frusciante;
eletrofunkão 80tista com vocais femininos anônimos duetando com Simon.
Dada a facilidade de obter álbuns
na era internética, sugiro a Deluxe Edition, com 3 faixas adicionais. O
destaque vai pra Planet Roaring, que abre sua viagem dance com sintetizadores à
Giorgio Moroder.
O Duran Duran du jour não veio com
intenção de reviver/requentar seu passado de glórias. O quarteto ainda tem
fôlego pra tentar coisas novas, investir em sonoridades atuais. É essa junção
de passado, presente e indicativos pro futuro que faz de Paper Gods tão bem
sucedido.
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