Roberto Rillo Bíscaro
Conforme semiprometido, uma dobradinha de inglesas; um
veterana, outra novidade.
Em 2009, parecia que Victoria Christina Hesketh
tornar-se-ia megaestrela electro. Não rolou e Little Boots chegou a seu
terceiro álbum, Working Girl, lançado em julho por selo próprio, com bem menos
alarido. Mais ou menos conceitual –
várias canções têm nomes ligados ao mundo do trabalho e falam de
mulheres decididas –, trata-se duma coleção de 11 canções, embora o CD tenha 13
faixas, porque 2 são vinhetas. Quem se interessar, consiga logo a versão que
tem Desire como faixa bônus; canção animadinha que tem odor a electrofunk.
Agradável e genérico
descrevem merecidamente Working Girl. A faixa-título acerca-se do Saint Etiene
anos 90, Better In The Morning tem percussão à Tom Tom Club; Heroine a hipnose
dalguma faixa de Introspective, dos Pet Shop Boys; a entonação de reggae
sintético de The Game poderia ser da Blondie dos Últimoos Dias; Help Too
estaria à vontade no fracassado Kiss Me Once, de La Minogue; a deliciosa
Business Pleasure é acessibilização de Aphex Twin (será que alguém lembra que
aquele teclado saiu diretamente da jurássica Numbers, do Kraftwerk?). Delícias
Working Girl oferece várias em sua mistura amansada de electro e EDM anos
90/começo dos 2000’s. No Pressure, Get Things Done, Taste It (com seu refrão
grudento) e Real Girl vão te fazer pular ou caminhar com mais suingue. Vale
conferir. Não ouvi no Youtube, mas parece que o colocaram inteirinho nele:
Assertivo é o adjetivo que melhor descreve a (quase)
impressionante estreia de Georgia, de 21 anos, num álbum homônimo, composto,
produzido, tocado, cantado e arranjado todinho por ela em seu estúdio próprio.
Ela teve a vantagem de ser filha de Neil Barnes, do Leftfield, mas isso sozinho
não explica/justifica o incrível talento em produzir pós-grime instigante e
ameaçador. Georgia, de modo geral, está mais interessada em climas/texturas e
estes vem tribais e/ou inquietantes. Kombine é puro cosmopolitanismo londrino,
misturando batidão electro com música tradicional paquistanesa. Be Ache é um
estouro de criatividade com sua miríade de sonoridades borbulhantes e algo
agressivas. Nos momentos em que teclados graves e lentos combinam-se com
percussão, ouvidos mais sazonados lembrarão de The Dreaming e do IV, totens lançados
por Kate Bush e Peter Gabriel, respectivamente, em 1982. Ouça Digits e os
singles Move Systems e Nothing Solutions e veja se não dá vontade de fazer
carão deformado de monstro ou virar os olhos como Tia Kate. Embora tribal,
Georgia é habitante da selva urbana, por isso sua batucada sintetizada também
tem nascentes hip hop, como em Tell Me About It. Mas, essa garota que fala de traficantes
chamadas Sheila, mostra que no seu íntimo bate um coraçãozinho pop partido. A
quase miraculosa Heart Wrecking Animals é uma balada de ninar, mas espertamente
disfarçada em instrumentação superesparsa numa melodia levada mais pelo vocal
do que pela instrumentação cheia de teclados cristalinos e guitarrinha à Barney
Summer. Mas, logo depois já vem a perturbadora GMTL, não se engane, nobody
fucks with a hurt Georgia! Essa garota ainda pode produzir uma obra-prima,
fiquemos ligados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário