segunda-feira, 21 de setembro de 2015

CAIXA DE MÚSICA 184

Roberto Rillo Bíscaro

Conforme semiprometido, uma dobradinha de inglesas; um veterana, outra novidade.
Em 2009, parecia que Victoria Christina Hesketh tornar-se-ia megaestrela electro. Não rolou e Little Boots chegou a seu terceiro álbum, Working Girl, lançado em julho por selo próprio, com bem menos alarido. Mais ou menos conceitual –  várias canções têm nomes ligados ao mundo do trabalho e falam de mulheres decididas –, trata-se duma coleção de 11 canções, embora o CD tenha 13 faixas, porque 2 são vinhetas. Quem se interessar, consiga logo a versão que tem Desire como faixa bônus; canção animadinha que tem odor a electrofunk.
Agradável e genérico descrevem merecidamente Working Girl. A faixa-título acerca-se do Saint Etiene anos 90, Better In The Morning tem percussão à Tom Tom Club; Heroine a hipnose dalguma faixa de Introspective, dos Pet Shop Boys; a entonação de reggae sintético de The Game poderia ser da Blondie dos Últimoos Dias; Help Too estaria à vontade no fracassado Kiss Me Once, de La Minogue; a deliciosa Business Pleasure é acessibilização de Aphex Twin (será que alguém lembra que aquele teclado saiu diretamente da jurássica Numbers, do Kraftwerk?). Delícias Working Girl oferece várias em sua mistura amansada de electro e EDM anos 90/começo dos 2000’s. No Pressure, Get Things Done, Taste It (com seu refrão grudento) e Real Girl vão te fazer pular ou caminhar com mais suingue. Vale conferir. Não ouvi no Youtube, mas parece que o colocaram inteirinho nele:

Assertivo é o adjetivo que melhor descreve a (quase) impressionante estreia de Georgia, de 21 anos, num álbum homônimo, composto, produzido, tocado, cantado e arranjado todinho por ela em seu estúdio próprio. Ela teve a vantagem de ser filha de Neil Barnes, do Leftfield, mas isso sozinho não explica/justifica o incrível talento em produzir pós-grime instigante e ameaçador. Georgia, de modo geral, está mais interessada em climas/texturas e estes vem tribais e/ou inquietantes. Kombine é puro cosmopolitanismo londrino, misturando batidão electro com música tradicional paquistanesa. Be Ache é um estouro de criatividade com sua miríade de sonoridades borbulhantes e algo agressivas. Nos momentos em que teclados graves e lentos combinam-se com percussão, ouvidos mais sazonados lembrarão de The Dreaming e do IV, totens lançados por Kate Bush e Peter Gabriel, respectivamente, em 1982. Ouça Digits e os singles Move Systems e Nothing Solutions e veja se não dá vontade de fazer carão deformado de monstro ou virar os olhos como Tia Kate. Embora tribal, Georgia é habitante da selva urbana, por isso sua batucada sintetizada também tem nascentes hip hop, como em Tell Me About It. Mas, essa garota que fala de traficantes chamadas Sheila, mostra que no seu íntimo bate um coraçãozinho pop partido. A quase miraculosa Heart Wrecking Animals é uma balada de ninar, mas espertamente disfarçada em instrumentação superesparsa numa melodia levada mais pelo vocal do que pela instrumentação cheia de teclados cristalinos e guitarrinha à Barney Summer. Mas, logo depois já vem a perturbadora GMTL, não se engane, nobody fucks with a hurt Georgia! Essa garota ainda pode produzir uma obra-prima, fiquemos ligados. 

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