segunda-feira, 28 de setembro de 2015

CAIXA DE MÚSICA 185

Roberto Rillo Bíscaro

Dobradinha de novo; desta vez a união entre os álbuns é sua ligação com a Melhor Década.

Em 2013, da Inglaterra veio o single Something About You, dum Dornik, faixa downtempo de neo soul meio esfumaçada. Depois vieiram Drive com guitarrinha suingada e produção a la acid jazz de início dos anos 90 e Stand In Your Line, com seus mais de 6 minutos de eletrosoul. Silêncio até mês passado, quando saiu álbum de estreia homônimo, com 10 faixas, sendo que as 3 canções já lançadas constam no trabalho.
Dornik abre com Strong, que tocaria em todas as aulas de aeróbica da primeira metade dos anos 80, que é de onde saiu – assim como boa parte do álbum. Percussão de Prince fase-1999 e, sobretudo, aquela voz influenciada pelos maneirismos e timbres de Michael Jackson. O fantasma do Rei do Pop assombra Dornik – álbum e artista – pro bem e pro mal. Wacko Jacko era genial, mas depois dalgumas faixas ouvindo quase imitação de alguns de seus tiques, pode dar vontade de tocar o original. Por mais que Shadow seja sombra de Human Nature, a sétima faixa de Thriller é superior demais pra Dornik ficar aguçando nosso desejo de ouvir Sua Trágica/Mágica Majestade. Em sua maior parte, Dornik-álbum é eletrosoul downtempo agradável de se ouvir, mas meio indistinto um do outro, exceto pela deliciosa Chain Smoke, que parece gravada no 1985 de nossa memória.
Como primeiro álbum, Dornik está bastante bom: compraz, entretém e oferece agradáveis jams com voz gostosa. Mas, o meninão tem que tratar de burilar identidade mais forte, senão se perderá nas areias do tempo como Rockwell.

Há um punhado de canções nesta playlist:

Greg Kurstin é produtor requisitado/premiado, então, todo mundo quer trabalhar com ele: Lana del Rey, Sia, Billy Idol, Lily Allen são fração dos produzidos. Inara George vive ocupada com projetos múltiplos e a família. Por isso, The Bird and The Bee (TBATB), a dupla de indie pop formada pelos 2, grava tão esporadicamente. O último lançamento fora Interpreting the Masters Volume 1: A Tribute to Daryl Hall and John Oates, resenhado aqui. Os mestres calaram fundo no TBATB, porque Recreational Love, lançado em julho, traz um (dance) pop básico e bastante influenciado por Hall & Oates e anos 80, sem jamais soar como cópia. As influências estão mais na composição e nos detalhes dos arranjos das 10 canções, perfazendo um CD de menos de 35 minutos.

A elegância deslizante da faixa-título recria Hall & Oates com arranjo esparso e pitadas de soul, virando TBATB e não carbono. Doctor inicia soando como synth pop a la Flock of Seagulls e tem até solo de sax, instrumento-instutuição da saxodécada, mas evita a mecanicidade de parte da produção oitentista. Ao invés, é uma melodia com alma e pegada irresistível pra dançar, com sua ironia pedindo comprimidos ou amor ao médico. TBATB faz pop pra adultos com letras sobre filhos e jovens arrogantes quebrando a cara (prazer não muito disfarçado de muitas testemunhas de meia-idade). Jenny é uma locomotivazinha balançante onde a voz de anjo de Inara fica nervosa! Los Angeles é declaração à cidade-natal com refrão grudento; não paro de cantarolar “living in La, la la la la la” levitando pelas calçadas. Lovey Dovey é pop de ninar que diz tudo no título e encerra um disco curto pela falta de tempo do duo, mas também porque como sabem como e o que dizer, não precisam enrolar.

Pop fofucho cuti cuti.

Diz que nesta playlist Recreational Love está completo. Tente:

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