Roberto Rillo Bíscaro
Li o terceiro romance da série policial
protagonizada pela enfermeira Nina Borg. Coincidentemente, meu 3º é o número 3
duma sequência que nem fiz questão de seguir. Lene Kaaberbøl e Agnete Friis lançaram Nattergalens Død, em 2011, na
Dinamarca, mas como não leio a língua, optei pela tradução pro inglês de Elizabeth Dyssegaard, publicada em 2013
com o título Death of a Nightingale (DOAN).
The Invisible Murder e The Boy in the Suitcase (clique nos links pra ler
as resenhas) ganharam traduções em português, respectivamente Morte Invisível e
Menino da Mala. Semana passada, meu endocrinologista contou do amor de sua
esposa pelo norueguês Jo
Nesbø, enfim, Nordic Noir segue tendência forte.
Em DOAN, as autoras apontam os holofotes pra Natasha
e Rina, refugiadas ucranianas no campo da Cruz Vermelha, onde Borg é enfermeira
e que haviam aparecido secundariamente em não lembro qual livro da série.
Natasha estava presa acusada de tentar matar seu abusivo ex-marido dinamarquês.
No dia da audiência com o juiz, Natasha foge dos guardas pra ir atrás da
filhinha Rina. Nesse interim, o maridão agressor é encontrado morto e as
suspeitas recaem sobre a jovem imigrante ilegal. Mas, não é apenas a sorridente
polícia danesa (nos termos irônicos do narrador) que fareja Natasha e Rina. Há
policiais ucranianos e um par de malvados do submundo também atrás dela, que
fora casada com um jornalista escritor de artigos desagradáveis a certas
pessoas. Intercaladas a esse tronco aparentemente central, correm as narrativas
duma família na Ucrânia dos anos 30, dominada pelo jugo stalinista e dizimada
pela fome e das cenas felizes ou não do casamento de Natasha com o Sapo
Encantado Pavel. Claro que no final entenderemos como a história das irmãs Olga
e Oxana cruzará a reta da pobre e sofredora Natasha.
As partes dedicadas ao período stalinista são
infinitamente mais fascinantes do que a história policial mal contada de DOAN.
Este é o livro menos interessante da série. Além de o desfecho ser
anticlimático, a trama tem mais marmeladas do que nossa suspensão de descrédito
consegue relevar. Natasha
precisava dum carro e encontra numa casa onde houvera uma festa um jovem saindo
bêbado com as chaves na mão. Há pessoas na porta, mas o narrador diz que o moço
espera que elas entrem pra entrar no carro. Nem lembro a pífia desculpa pra
isso, mas foi algo que me fez rir. Sem contar os repetidos dribles que a
polícia dinamarquesa e um sistema de câmeras leva de Natasha e até duma
garotinha asmática de 8 anos! E será que basta ligar pro 0800 duma
megaoperadora de cartões de crédito que a mocinha vai falar pro chefona que
alguém não identificado tem uma mensagem vital pra dona???
Se as autoras tivessem optado por escrever um
drama social com final surpreendente sobre a sub-trama na Ucrânia dos anos
1930, provavelmente teria resultado numa história muito mais interessante.
Crítica social faz parte do repertório delas, que não poupam de ironia a rica e
liberal Dinamarca, mas o contraponto com locais tão qualitativamente mais
deteriorados acaba reforçando a visão da península jutlândica como porto mais
seguro, a despeito de seus defeitos, afinal, é lá que as personagens encontram
pelo menos a possibilidade de viverem melhor.
DOAN sendo meu terceiro livro das escritoras,
percebi que sua ambientação climática parece férias de professor: ou a
Dinamarca está fervendo no verão ou congelando no inverno, caso desta
narrativa. Não existe meia estação, como em nossas oportunidades de viagem,
apenas em janeiro/julho. Lógico que isso Romanticamente reforça o drama.
Não que DOAN seja destituído de interesse em
seguir lendo; apenas este não reside no foco supostamente central, que seria o
policial. Com isso em mente, dá pra curti-lo legal. Mas, meu favorito continua
The Invisible Murder.
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