Roberto
Rillo Bíscaro
Arqueólogo da Melhor Década, a leitura de Mad World – An Oral
History of New Wave Artists and Songs that Defined the 1980’s (resenha aqui) me deu vontade de ler sobre o
cenário nacional do rock naqueles anos de abertura política, hiperinflação,
ágio da carne, Rock in Rio e roupas multicoloridas. Achei uma dissertação
online; maravilha de internet e digitalização dos acervos universitários! Aline
do Carmo Rochedo defendeu o trabalho “Os Filhos da Revolução: a juventude
urbana e o rock brasileiro dos anos 1980”, na UFF, em 2011.
Dividido em
3 capítulos, o inicial traz os pressupostos teóricos norteadores da pesquisa,
como a História Oral usada como ferramenta, uma vez que diversos protagonistas
da década foram entrevistados, mas aparecem no texto apenas os trechos das
falas que servem aos propósitos da autora. Recorrendo acertadamente a Pierre
Bordieu, Rochedo trabalha com o conceito de juventudes. Segundo ela, o rock
brasileiro explodiu nos anos 80 no seio duma classe média urbana ansiosa por
mudanças e cansada da ditadura (apoiada por amplos setores dessa mesma classe
média nos 60’s). A conjunção de elementos como sede de liberdade; vontade de
acertar o atrasado passo nacional com o que acontecia lá fora e a explosão duma
rede de divulgação no eixo Rio-SP, envolvendo
revistas e rádios prestando atenção ao rock são alguns dos elementos pra
supremacia do BRock por alguns anos
oitentistas.
BRock foi
conceito criado pelo jornalista Arthur Dapieve na imprensa já nos 80s,
enfocando o rock da década como amadurecimento do gênero. Isso é colocado no
trabalho como opinião universalmente aceita, mas não é Basta ver o documentário
50 Anos do Rock Brasileiro pra noção discordante, segundo a qual a explosão
oitentista deu-se justamente porque o rock teria sido “aguado” com pop.
No cap. II,
ela resume a trajetória de algumas bandas, sem deixar evidente o critério de
escolha. O caráter de investimento pessoal – por ser trabalho acadêmico –
provavelmente restringiu o escopo pra bandas de São Paulo, Rio e Brasília, mas
não dá pra saber porque ela entrevistou Bruno Gouveia do Biquíni Cavadão, mas a
banda não consta das biografias do capitulo 2. Difícil entender porque parece que o Kid Abelha foi esnobado em quase todo o
trabalho – ate mesmo na parte que não necessitava de entrevista; o da análise
de letras – pra nas considerações finais receber alguns parágrafos de elogio
por Paula Toler ser mulher, dando impressão de se tratar dum “puxadinho” na
dissertação.
Usando ideia
também já corrente nos 80’s, Rochedo afirma que as bandas cariocas eram mais
voltadas pra diversão, mais New Wave (alguns dizem que a NW é domesticação
classe-média do punk, mas isso não aparece no texto); as de Brasília mais
politizadas e as de Sampa influenciadas pelo punk-rock, embora ela não tenha
entrevistado nenhuma realmente filiada ao punk. Por mais que Titãs tenham
lançado o importante Cabeça Dinossauro, eles não nasceram sequer perto da
periferia, quem dirá do ABC punkoso.
O terceiro
capítulo é dedicado a análise de letras, divididas em categorias como
cotidiano, amor. Nessa parte que talvez ela pudesse ter incluído letras de não
entrevistados ou até de bandas cujas trajetórias não tenham sido delineadas no
capítulo II – o mais interessante do trabalho.
“Os Filhos da Revolução: a juventude urbana e o rock
brasileiro dos anos 1980” é gostoso de ler e animadora mostra de que conforme
pesquisadores mais jovens penetram no sistema acadêmico, assuntos pertinentes a
nossa geração setentista/oitentista ganharão mais destaque.
Pra ler/baixar a dissertação, clique no link:
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