Roberto Rillo Bíscaro
A Inglaterra foi em parte responsável pelo sucesso
mundial do Nordic Noir/Scandi Drama. Depois que shows escandinavos como
Forbrydelsen e Borgen tornaram-se fenômenos cult forçando a classe-média
britânica a ler legendas, a tendência espalhou-se pra outros países e desde
meados da década passada a Europa setentrional dita as normas do melhor em
séries policiais.
Hoje, a TV inglesa exibe até sitcom norueguesa (Dag, logo
verei a primeira temporada) e comerciais de produtos islandeses, como o
delicioso iogurte Skyr, além de adquirir direitos de transmissão de séries
ainda em produção, caso da islandesa Trapped. A exibição da minissérie
norueguesa Mammon (2014), no primeiro semestre, pode ter sido a pedra inicial
no caminho florido e aprioristicamente aclamado do Nordic Noir em solo
britânico. Os 6 capítulos são só clima; substância, praticamente nada. Quase
penso que se tratou de oportunismo de gambiarra pra aproveitar a boa fase de
exportação de produtos culturais nórdicos.
Um jornalista investiga fraude financeira e descobre que
seu irmão mais velho é um dos pivôs. Pouco depois dum confronto fraterno,
Daniel estoura os miolos na frente de Peter, que desconsolado, transfere sua
área de atuação pro jornalismo esportivo. Cinco anos se passam – e todo mundo
está idêntico, alguns até com a mesma roupa – e a viúva de Daniel recebe uma
caixa com instruções, que leva Peter e ela a um rio. No momento em que os
cunhados estão lá, um carro despenca n’água, o motorista é salvo por Peter,
apenas pra se suicidar em seguida, não sem antes gritar Abraão! Como Daniel
podia saber que 5 anos após sua morte outro cara de sua turminha estaria sob
investigação e no precioso instante em que seus familiares estivessem cumprindo
suas instruções, jogaria o automóvel no rio, blá, blá, blá? Visto que nada é
encontrado nas águas, assume-se que o objetivo de fazer as personagens irem lá
era pra presenciar o suicídio. Arbitrariedade grosseira, heim? E essa é apenas
uma dum roteiro que deixa fios soltos bastantes pra tricotar uns 3 suéteres pra
Sara Lund.
Mistura teoria da conspiração, segredos familiares e
mambo jambo religioso; afinal, o título é a palavra hebraica pra dinheiro,
presente na Bíblia. Há toda uma pseudo-sub-trama envolvendo Abraão e
sacrifícios de infantes; há versículos do Gênesis no verso de quadros e,
sobretudo, muita desonestidade com o telespectador. 5 capítulos nos deixam no
escuro inverno norueguês e a explicação no derradeiro é pífia, nem de muito
longe compatível com o suspense armado. Se é que se pode chamar de suspense,
aquele monte de informações desconexas.
Mammon é despida de qualquer qualidade redentora; nem as
tomadas na belíssima Bergen são bem aproveitadas. Certamente a série reforçará
o estereótipo da alta incidência de suicídios na Escandinávia, não apenas pela
taxa de praticamente um por episódio, mas também pelo tédio suicida que a
narrativa causa. Um embuste a ser evitado. Considerem-se alertados.
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