Roberto Rillo Bíscaro
(AVISO: esse texto contém um grande spoiler)
Não dei conta sequer de terminar o primeiro volume do tão
afamado Game of Thrones (saiba o motivo aqui), mas isso não minou a curiosidade
em ver a série, motivo de culto em diversas partes do globo. Nem foi porque GoT
virou fenômeno cultural; se fosse seguidor desses sucessos, as resenhas do blog
teriam muito mais leitores. Vinha estocando as temporadas e vi as 5 primeiras
duma enfiada, porque suspeitava que por debaixo das sanguinolentas lutas havia
mesmo um novelão descarado de vinganças e personagens fazendo bobagens. Não deu
outra; GoT é algo como uma “soap pra machos” (embora eu saiba da legião de fãs
femininas do purgante Jon Snow). Muita gente rica sofrendo e, no fim das
contas, com medo da invasão do The Walking Dead!
A trama é de domínio quase público a esta altura, mas, pra quem não sabe, trata-se duma medievalidade misticóide e inventada a partir de trocentos lugares sobrecomuns, onde reinos estão em guerra depois que Robert Baratheon morre. Há uma garota com direito ao trono que passa diversas temporadas se construindo e esperando seus dragões crescerem pra reclamar seu quinhão Real (Daenerys Targaryen , chata de cochilar, mas cheia de fãs) e há a vastidão gelada do Norte além dos muros dos 7 reinos, onde uma horda de zumbis espera o inverno chegar (5 temporadas e essa droga de frio não chega!) pra transpor as muralhas e invadir o sul. E há muita nudez, sexo consentido ou forçado e, sobretudo, violência explícita, do tipo aparecer tripas mesmo. Não é só na ficção que The Walking Dead incomoda/assombra GoT; é preciso competir também na nojeira.
Não desgostei de GoT; achei quase tudo muito divertido,
mas ouvir comparações com shows realmente inteligentes como The Sopranos é o
fim da picada. GoT é apenas uma série de ação. Tem bons atores – é da HBO, mas
o sotacão britânico impera -, a produção é trilhardária rodada na Croácia,
Espanha, Irlanda e na Islândia e impecável. Mas, tem personagem agindo
improvavelmente, tipo a Rainha-Mãe incestuosa que alça um fanático religioso ao
poder, sabe-se lá como, só pra ser trancafiada e humilhada pela faina
moralizante de seu séquito. Mas, num lugar onde a monarquia é absoluta, como
esse cara (o ótimo Jonathan Pryce, diga-se) conseguiu ter poder maior que o do Rei
se nem representava a religião oficial como um todo? E pior, como uma mulher
supostamente inteligente como Cersei (amo, porque é loira má!), com tanta roupa
suja pra ser lavada – e que todo mundo sabe ou suspeita, mas nada pode fazer a
respeito – auxilia um paladino dos bons costumes, sem ter um ás na manga? Isso
não é típico de Sopranos; é coisa de Revenge. E a mãe que tem filhas
prisioneiras e todo um reino dependendo dela, mas ingenuamente libera seu
prisioneiro-trunfo na esperança de que isso resultasse na libertação das
meninas? Isso torna a personagem mais humana, diriam os devotos. Também a torna
idiota e contradiz a imagem de sobriedade e astúcia que tentaram nos passar
dela.
Outro quesito dado como diferencial que colocaria GoT
dentre “as melhores séries já feitas” é a aparente despreocupação em eliminar
personagens queridas. “Ninguém está seguro” virou clichê nas entrevistas com o
elenco. Realmente, morre-se a granel, mas a maioria dos óbitos é personagem
cuja função dramática já expirou; algo como uma limpeza necessária na dramatis personae. Quero só ver se Jon
Snow aparecerá morto na sexta temporada (tomara, como ele é chato!). A julgar
pelo final da quinta, ele foi pro beleléu. E alguém pode me dizer qual a função
dramática da Arya? Ela é uma das mais amadas pelo público – até eu gosto -, mas
o que tem feito de concreto pra merecer ainda estar viva?
Vista como diversão e sem sobrevalorização, GoT faz jus
ao sucesso, especialmente pelo elenco muito bom e por dar muitas oportunidades
a atores velhos. Muito provavelmente juntarei outras temporadas e verei noutra
maratona. Se existir blog então e estiver com saco, comentarei a respeito.
Más notícias para você: já caíram há algum tempo na rede foto do insosso "You Know Nothing"John Snow, o que leva a crer que ele ainda estará vivo...
ResponderExcluirnão é um dos meu favoritos tanto assim que ainda não li nenhum
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