quinta-feira, 10 de setembro de 2015

TELONA QUENTE 128 (ALBINA)

O Conto dos Contos

Roberto Rillo Bíscaro

No século XVII, o napolitano Giambattista Basile coletou histórias populares, mas não pôde publicá-las em vida. A tarefa coube a sua irmã que, entre 1634-6, editou os 2 volumes do que ficou conhecido como Pentamerone. O Romantismo trouxe a febre pelo folclore e os chamados Contos de Fada desde então vem encantando gerações. A obra do italiano caiu na obscuridade, porque quem colheu os louros foram os Irmãos Grimm e Hans Christian Andersen. Mas, as versões mais antigas de histórias como Rapunzel e Cinderela estão no Pentamerone.
Talvez a voga de recontar/requentar contos de fada tenha influenciado o premiado diretor Matteo Garrone a adaptar algumas histórias de Basile pras telonas. O resultado é o belo Tale of Tales (2015), produção multinacional europeia, que causou certo furor em Cannes, especialmente depois que adotada como mascote pelo crítico do The Guardian. Falada em inglês e com elenco também polinacional, como a mexicana Salma Hayek e o inglês Toby Jones, o filme não esconde o forte travo de horror presente nos contos de fadas. Não se assustem em deixar as crianças assistirem às mais de 2 horas de Tale of Tales, porém. As cenas de Game of Thrones são muito mais chocantes e os pequenos têm livre acesso a elas. Garrone não mostra cenas de horror, porque elas estão implícitas nos acontecimentos; essa parte é mais pro público adulto perceber.
3 histórias são contadas misturando um pouquinho de cada intercaladamente. Interessei-me pela produção, quando soube da presença de 2 jovens com albinismo na história do casal Real que pede a um mágico que lhes conceda um filho. O ancião lhes diz que nascimento e morte são partes do mesmo todo e que um depende do outro, por isso, pra haver nascimento haveria uma morte. Suas majestades aceitam o fato e o rei parte pra matar o monstro marinho requerido, cujo coração deveria ser devorado pela rainha. Assim, ela conceberia. Dito e feito, ao matar o lagartão, o rei sela seu destino e o resultado é um príncipe albino. Mas, a esposa do mago também gera um albino simultaneamente, idêntico ao príncipe e os 2 tornam-se inseparáveis, pra desgosto da rainha que não aprova a amizade entre realeza e plebe. O albinismo não é nomeado e serve como índice da diferença na gestação e concepção dos garotos.
As outras 2 histórias são sobre um rei lascivo que se enamora pela voz maviosa duma mulher que julga bela apenas pelo tom da voz, a qual pertence a uma velha paupérrima e não muito limpa. A outra é sobre um rei que se importa muito mais com sua pulga de estimação do que com sua filha. Quando o inseto gigantesco falece, ele usa sua pele pra fazer um jogo de adivinha cujo vencedor leva a mão da princesa. Mas, o ganhador é um odioso agro.
Intercalando momentos de bizarrice e certa ironia Tale of Tales me pareceu muito mais orgânico do que os trailers que vi das produções hollywoodianas relendo os contos de fada (esses filmes não me interessam em nada pra vê-los inteiros).
Segundo o site Adoro Cinema, Conto dos Contos estreia por aqui em fevereiro.

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