Roberto Rillo Bíscaro
No século XVII, o napolitano Giambattista Basile coletou
histórias populares, mas não pôde publicá-las em vida. A tarefa coube a sua
irmã que, entre 1634-6, editou os 2 volumes do que ficou conhecido como Pentamerone.
O Romantismo trouxe a febre pelo folclore e os chamados Contos de Fada desde
então vem encantando gerações. A obra do italiano caiu na obscuridade, porque
quem colheu os louros foram os Irmãos Grimm e Hans Christian Andersen. Mas, as
versões mais antigas de histórias como Rapunzel e Cinderela estão no Pentamerone.
Talvez a voga de recontar/requentar contos de fada tenha influenciado
o premiado diretor Matteo Garrone a adaptar algumas histórias de Basile pras
telonas. O resultado é o belo Tale of Tales (2015), produção multinacional
europeia, que causou certo furor em Cannes, especialmente depois que adotada
como mascote pelo crítico do The Guardian. Falada em inglês e com elenco também
polinacional, como a mexicana Salma Hayek e o inglês Toby Jones, o filme não esconde
o forte travo de horror presente nos contos de fadas. Não se assustem em deixar
as crianças assistirem às mais de 2 horas de Tale of Tales, porém. As cenas de
Game of Thrones são muito mais chocantes e os pequenos têm livre acesso a elas.
Garrone não mostra cenas de horror, porque elas estão implícitas nos
acontecimentos; essa parte é mais pro público adulto perceber.
3 histórias são contadas misturando um pouquinho de cada
intercaladamente. Interessei-me pela produção, quando soube da presença de 2
jovens com albinismo na história do casal Real que pede a um mágico que lhes
conceda um filho. O ancião lhes diz que nascimento e morte são partes do mesmo
todo e que um depende do outro, por isso, pra haver nascimento haveria uma
morte. Suas majestades aceitam o fato e o rei parte pra matar o monstro marinho
requerido, cujo coração deveria ser devorado pela rainha. Assim, ela
conceberia. Dito e feito, ao matar o lagartão, o rei sela seu destino e o
resultado é um príncipe albino. Mas, a esposa do mago também gera um albino
simultaneamente, idêntico ao príncipe e os 2 tornam-se inseparáveis, pra
desgosto da rainha que não aprova a amizade entre realeza e plebe. O albinismo
não é nomeado e serve como índice da diferença na gestação e concepção dos
garotos.
As outras 2 histórias são sobre um rei lascivo que se
enamora pela voz maviosa duma mulher que julga bela apenas pelo tom da voz, a
qual pertence a uma velha paupérrima e não muito limpa. A outra é sobre um rei
que se importa muito mais com sua pulga de estimação do que com sua filha.
Quando o inseto gigantesco falece, ele usa sua pele pra fazer um jogo de
adivinha cujo vencedor leva a mão da princesa. Mas, o ganhador é um odioso
agro.
Intercalando momentos de bizarrice e certa ironia Tale of
Tales me pareceu muito mais orgânico do que os trailers que vi das produções
hollywoodianas relendo os contos de fada (esses filmes não me interessam em
nada pra vê-los inteiros).
Segundo o site Adoro Cinema, Conto dos Contos estreia por
aqui em fevereiro.
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