segunda-feira, 5 de outubro de 2015

CAIXA DE MÚSICA 186

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Roberto Rillo Bíscaro

Dia 18 de maio de 1980, Ian curtis suicidou-se em Manchester, encerrando a promissora carreira da Joy Division. Respeitada pela crítica e às vésperas de lançar o cultuado e influente Closer, imagine a frustração, raiva, desorientação e dor de Bernard Summer, Peter Hook e Stephen Morris ao perderem o membro mais carismático da banda, no dia anterior ao embarque para sua primeira turnê em solo norte-americano. Os rapazes decidiram seguir na seara musical, porém. Chamaram Gillian Gilbert – namorada e futura esposa de Morris – e a formação clássica da New Order nascia.  
Movement (1981), o primeiro álbum, embora com um pouco mais de sintetizadores, soava ainda bastante pós-punk e macambúzio. Em março de 1983, a New Order mudaria o curso da dance music com o single Blue Monday. Desgostosos com a lugubridade do som, Summer e Cia. misturaram Kraftwerk, Giorgio Moroder, disco music, sequenciadores e pitadas da sonoridade e aura deprê pós-punk em Blue Monday, o single de 12 polegadas mais vendido da História. Inicialmente sucesso underground, o impacto da canção é sentido ainda hoje e definiu muito do estilo New Order.
A reputação e sucesso do quarteto escalaram como poucos na cena independente e a New Order tornou-se um dos produtos culturais mais rentáveis e exportáveis da Grã-Bretanha oitentista. Poucas entrevistas, capas minimalistas de Peter Saville, o poderoso baixo fisgador de Peter Hook, as letras risíveis de Summer, a tentativa de equilíbrio entre electronica e rock.
Nos 90’s e 00’s, a influência continuava, mas o sucesso comercial obviamente não era o mesmo. Projetos paralelos e a configuração do mercado e das vidas pessoais resultaram em álbuns mais temporalmente espaçados. Eletrônicos ainda, mas com ênfase maior no rock, com diversas faixas esquecíveis.
Em 2001, depois do lançamento do guitarreiro Get Ready, Gilbert deixou a banda para se dedicar à família e foi substituída por Phil Cunningham. Em 2007, o feudo entre Hookey e Barney explodiu midiaticamente. O baixista partiu e esbraveja contra os ex-companheiros sempre que pode. Em 2011, Gillian voltou e Tom Chapman assumiu o baixo. Daí, decidiram gravar novo álbum.
Music Complete saiu dia 25 de setembro pela Mute Records, tradicional indie que nos 80’s lançara Depeche Mode, Erasure e Yazoo. Alguns fãs temiam tantas mudanças: baixista e gravadora novos (afinal, a New Order era sinônimo de Factory Records). Sofreram à toa, porque Hookey não faz falta – Chapman toca muito direitinho – e a Mute é pura tradição synthpop.
Tanto em sonoridade quanto em convidados, o grupo tentou manter a balança igualada entre indie rock e electronica, mas em ambos os quesitos o batidão sintetizado ganhou a parada: Music Complete agradará em cheio aos fãs oitentistas. Duvido que consiga novos adeptos ao culto, porque nada novo é oferecido, mas a New Order já passou dessa fase.
Restless abre agradavelmente com sua mistura de synth com indie rock. Sorte que a segunda faixa altera essa tendência, senão seria outro álbum meia-boca com algumas canções três-quartos de boca. Singularity começa evocando o tom soturno da velha Joy, com baixo e guitarra ameaçadores, logo vira synth pop oitentista, mas é só por alguns segundos, porque Gillian Gilbert tem chilique e a paulada eletrônica vem pra destruir costas e joelhos de fãs quase 50tões. A faixa tem a mão de Tom Rowlands, dos Chemical Brothers, que também colaborou em The Game, não tão deslumbrante como Singularity, mas bastante dançável.
Plastic retoma Giorgio Moroder nos teclados sequenciados e Tutti Frutti é tão Morodiana que tem até letra em italiano. Elly Jackson, ex-metade do retrô La Roux canta nesta faixa que mistura Italo Dance com orquestra de cordas sintetizada a la Studio Apartament (delícia dance japa superinfluenciada por New Order). People on the High Line mistura Chic com acid house; desde State of the Nation a New Order não soava tão funky, yeah!
No meio do álbum, a derrapada suprema de Stray Dog e seus mais de 6 minutos de Iggy Pop falando bobagem atrás de bobagem. Sorte que na era digital podemos deletar ou renumerar as canções pra que venham no fim, se indesejáveis. Stray Dog já foi para a lixeira há dias. Academic é outra entrada no território indie rock, que soa como filler.
Embora pudesse ser um minuto mais curta, a midtempo Nothing But a Fool retoma o bom nível de Music Complete, que balança eletronicamente ao estilo dalguma faixa de Substance em Unlearn This Hatred, e culmina na irresistível celebração de Superheated, com participação de Brandon Flowers (se eu tivesse filho, teria que ser como ele, amo!). Dá vontade de abrir os braços, sair rodopiando pela cidade e vazar o vídeo no Youtube.
Erros há, mas a New Order perpetrou seu melhor álbum desde Technique (1989).

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