Roberto Rillo Bíscaro
Dia 18 de maio de 1980, Ian curtis suicidou-se em
Manchester, encerrando a promissora carreira da Joy Division. Respeitada pela
crítica e às vésperas de lançar o cultuado e influente Closer, imagine a
frustração, raiva, desorientação e dor de Bernard Summer, Peter Hook e Stephen
Morris ao perderem o membro mais carismático da banda, no dia anterior ao
embarque para sua primeira turnê em solo norte-americano. Os rapazes decidiram
seguir na seara musical, porém. Chamaram Gillian Gilbert – namorada e futura
esposa de Morris – e a formação clássica da New Order nascia.
Movement (1981), o primeiro álbum, embora com um pouco
mais de sintetizadores, soava ainda bastante pós-punk e macambúzio. Em março de
1983, a New Order mudaria o curso da dance
music com o single Blue Monday.
Desgostosos com a lugubridade do som, Summer e Cia. misturaram Kraftwerk,
Giorgio Moroder, disco music, sequenciadores e pitadas da sonoridade e aura deprê
pós-punk em Blue Monday, o single de
12 polegadas mais vendido da História. Inicialmente sucesso underground, o impacto da canção é
sentido ainda hoje e definiu muito do estilo New Order.
A reputação e sucesso do quarteto escalaram como poucos
na cena independente e a New Order tornou-se um dos produtos culturais mais
rentáveis e exportáveis da Grã-Bretanha oitentista. Poucas entrevistas, capas
minimalistas de Peter Saville, o poderoso baixo fisgador de Peter Hook, as
letras risíveis de Summer, a tentativa de equilíbrio entre electronica e rock.
Nos 90’s e 00’s, a influência continuava, mas o sucesso
comercial obviamente não era o mesmo. Projetos paralelos e a configuração do
mercado e das vidas pessoais resultaram em álbuns mais temporalmente espaçados.
Eletrônicos ainda, mas com ênfase maior no rock, com diversas faixas
esquecíveis.
Em 2001, depois do lançamento do guitarreiro Get Ready,
Gilbert deixou a banda para se dedicar à família e foi substituída por Phil Cunningham.
Em 2007, o feudo entre Hookey e Barney explodiu midiaticamente. O baixista
partiu e esbraveja contra os ex-companheiros sempre que pode. Em 2011, Gillian
voltou e Tom Chapman assumiu o baixo. Daí, decidiram gravar novo álbum.
Music Complete saiu dia 25 de setembro pela Mute Records,
tradicional indie que nos 80’s
lançara Depeche Mode, Erasure e Yazoo. Alguns fãs temiam tantas mudanças:
baixista e gravadora novos (afinal, a New Order era sinônimo de Factory
Records). Sofreram à toa, porque Hookey não faz falta – Chapman toca muito
direitinho – e a Mute é pura tradição synthpop.
Tanto em sonoridade quanto em convidados, o grupo tentou
manter a balança igualada entre indie
rock e electronica, mas em ambos
os quesitos o batidão sintetizado ganhou a parada: Music Complete agradará em
cheio aos fãs oitentistas. Duvido que consiga novos adeptos ao culto, porque
nada novo é oferecido, mas a New Order já passou dessa fase.
Restless abre agradavelmente com sua mistura de synth com indie rock. Sorte que a segunda faixa altera essa tendência, senão
seria outro álbum meia-boca com algumas canções três-quartos de boca.
Singularity começa evocando o tom soturno da velha Joy, com baixo e guitarra
ameaçadores, logo vira synth pop
oitentista, mas é só por alguns segundos, porque Gillian Gilbert tem chilique e
a paulada eletrônica vem pra destruir costas e joelhos de fãs quase 50tões. A
faixa tem a mão de Tom Rowlands, dos Chemical Brothers, que também colaborou em
The Game, não tão deslumbrante como Singularity, mas bastante dançável.
Plastic retoma Giorgio Moroder nos teclados sequenciados
e Tutti Frutti é tão Morodiana que tem até letra em italiano. Elly Jackson,
ex-metade do retrô La Roux canta nesta faixa que mistura Italo Dance com
orquestra de cordas sintetizada a la Studio Apartament (delícia dance japa superinfluenciada por New
Order). People on the High Line mistura Chic com acid house; desde State of the Nation a New Order não soava tão
funky, yeah!
No meio do álbum, a derrapada suprema de Stray Dog e seus
mais de 6 minutos de Iggy Pop falando bobagem atrás de bobagem. Sorte que na
era digital podemos deletar ou renumerar as canções pra que venham no fim, se
indesejáveis. Stray Dog já foi para a lixeira há dias. Academic é outra entrada
no território indie rock, que soa
como filler.
Embora pudesse ser um minuto mais curta, a midtempo Nothing But a Fool retoma o bom
nível de Music Complete, que balança eletronicamente ao estilo dalguma faixa de
Substance em Unlearn This Hatred, e culmina na irresistível celebração de
Superheated, com participação de Brandon Flowers (se eu tivesse filho, teria
que ser como ele, amo!). Dá vontade de abrir os braços, sair rodopiando pela
cidade e vazar o vídeo no Youtube.
Erros há, mas a New Order perpetrou seu melhor álbum
desde Technique (1989).
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