Quando Lana Del Rey emergiu, não faltou quem dissesse que
era armação, que a moça era fantoche. La Del Rey sabe bastante bem/controla pra
onde vai sua carreira. Com variações de entonação ela tem batido na tecla do ennui glamuroso dos corações partidos e
cabeças entupidas d’algum narcótico.
Há quem diga que tem feito a mesma coisa desde que Video
Games bombou no Youtube (2010). Não é bem assim e o contra-argumento pra essa
acusação é corolário da defesa anterior. Por definir uma personagem e comandar
os caminhos estéticos de sua jornada, Del Rey – que lançou seu terceiro álbum
há um par de semanas – escolheu o nicho retrô, evocando imagens idealizadas
duma América anos 50 (portanto, bem careta), O que faz em seus álbuns é
enfatizar certos aspectos, mas sempre batendo na mesma tecla. O disco de
estreia por uma grande gravadora, Born to Die (2012) e sua metamorfose em Born to Die: the Paradise Edition (2012) são anos 50 temperados com trip hop.
Ultraviolence (2014) serviu-se de clima mais ameaçadoramente rock’n’roll e o
presente Honeymoon tem sonoridade mais tradicionalmente cinquentista. Não dá
pra tirar 100% da razão dos detratores dessa ala, mas há que se considerar essa
mudança na ênfase de cada álbum.
Honeymoon, a faixa-título, abre o álbum, sublime, parece
trilha de filme de 1958, com orquestração de violinos, vocal à La Bacall. Lana
Del Rey tem fã jovem? Salvatore é convite ao drama, como resistir ao "Ah-ah-ah-ah/Ah-ah-ah-ah/Cacciatore/La-da-da-da-da/La-da-da-da-da/Limousines/Ah-ah-ah-ahAh-ah-ah-ah/Ciao
amore/La-da-da-da-da/La-da-da-da-da/
Soft ice cream" com aquela voz
angelical e atmosfera de filmes de Dean Martin? Essa é a ênfase de Honeymoon,
no caso da escolha estética da cantora, uma volta às origens, que jamais
existiram. Ouça 24 e terás vontade de mudar o penteado pruma coisa assim, Lana
Turner sofrendo!
Mas,
Del Rey sabe que está em 2015 e mesmo seu público mais maduro ainda é jovem
demais pra ficar só nos anos 50. Por isso, o primeiro single é o trip hop cinquentizado de High By the Sea, com seu vocal
de ninfeta chapada de boca suja, refrão viciante e ritmo hipnotizante. Puro
fetiche, a mais perfeita tradução de Lana. Music to Watch Boys To e Art Déco, embora
não tão viciantes, são da mesma lavra fetichenta e moderninha travestida de
retro-50’s.
A
mitologia da Califórnia como terra das possibilidades e liberdade – afinal,
Hollywood fica lá – é reafirmada no trip hop sexy de Freak, mas Lana dispôs-se
a alargar um bocadinho suas referências, antes centradas na Americana de Elvis e Monroe. Em Religion
ela evoca o pacifista Bob Dylan e Terrence Loves You concede a existência de
algo externo ao universo ianque, com sua referência ao Bowie de Space
Oddity.
Honeymoon
não é igual aos demais álbuns, mas desperta a questão de por quanto tempo a
artista conseguirá manter essa fórmula, apenas mudando uma variável. Sinais de
fastio de alguns ouvintes já existem e a própria Lana – que de inocente nada
tem – abre o álbum desferindo “ambos sabemos que me amar não está na moda”.
Ultraviolence
desinteressara-me um pouco, mas com Honeymoon voltei a ser súdito de Lana!
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