Roberto Rillo Bíscaro
A Guerra Fria aumentou as produções sobre espionagem.
Livros, filmes séries ou episódios de tematizavam o confronto entre o “Mundo
Livre” e a Cortina de Ferro. Agentes soviéticos frios e calculistas contra
ocidentais bonitões e simpáticos; geralmente a coisa era assim. Decerto do
outro lado da Cortina acontecia o inverso.
Como amo anos 80 e tencionava olhar pra outra região
europeia que não a Escandinávia/Reino Unido, vi os 8 episódios da temporada
inicial (espero que haja outra, porque termina tudo suspenso) de Deutschland
83, co-produção da alemã RTL e da norte-americana Sundance TV. Primeira produção germânica legendada
exibida num canal comercial ianque.
A história se passa em 1983, quando a Alemanha era
dividida em Ocidental e Oriental e o território dos derrotados na Segunda
Guerra era alvo principal dos mísseis norte-americanos, soviéticos e até dos
aliados europeus de ambos os lados da contenda. Uma guerra nucelar destruiria a
Europa, mas quem iria primeiro seria(m) a(s) Alemanha(s). Nesse contexto
nervoso, o alemão oriental Martin é obrigado pela Stasi a ir pro lado oriental
e espionar as manobras da OTAN. Suspensão da dúvida é necessária pra acreditar que em poucos dias um cidadão destreinado vire espião capaz de auxiliar um importante general ocidental, mas uma vez que abrimos as pernas Deutschland 83 desce redondo.
Em 1983, o mundo esteve bem próximo dum holocausto
atômico, mas como sabemos que isso não passou, essa parte da tensão dilui bem,
mas isso não significa que Deutschland 83 não a tenha. Ficamos tensos e
interessados com (n)os problemas pessoais e (n)as estratégias das personagens
pra conseguir seus objetivos. Sem contar que quem viveu a época e prestava
atenção aos noticiários relembrará o atentado à Maison de France ou a derrubada
do jato sul-coreano.
Os orientais são representados mais antipaticamente que
os ocidentais: mais intransigentes, maquiavélicos, atrasados e, claro, os
supermercados de Berlim Ocidental eram muito mais sortidos do que o da
Oriental. Isso já serve pra indicar que o lado ocidental era melhor. Talvez até
fosse, mas e quem não tem dinheiro pra aproveitar a fartura de ofertas do
capitalismo, onde liberdade sempre anda de mãos dadas com consumo?
Essa pergunta a série não responde, mas oferece
entretenimento, muitas boas atuações e uma reconstituição de época acurada com
telefones de discar, walkmans e a tecnologia de espionagem miniaturizada de 30
anos que parece gigante com a atual disponível em massa, imagine a
especializada em espionagem mesmo! Consola que daqui a 30 anos os filhos da
presente geração jovem instangrâmica achará tudo de hoje primitivo e engraçado.
Forçada na barra só me recordo de um segmento envolvendo
alguém se escondendo num porta-malas e a passageira-menininha não esboçar
reação alguma.
Deutschland 83 não oferece nada de inovador na trama, mas
prende a atenção e provavelmente veio ao mundo sob a influência de The
Americans, sobre um casal de espiões russos infiltrados nos EUA (está num HD,
uma hora chega a vez na fila). A produção tem um baita cheirão vintage não apenas pelos motivos óbvios
de equipamentos, mas pela filmagem que lembra a textura de imagens anos 80.
A trilha sonora trará lágrimas a saudosistas: a abertura
é Major Tom (ave Bowie), do Peter Schilling e no decorrer dos 8 episódios
ouvimos trechos de 99 Luftballons, da Nena; Modern Love, de David Bowie; In the Air
Tonight, de Phil Collins; Blue Monday, da New Order; 2 ou 3 do Duran Duran e mais um monte de coisas
alemãs e do mundo anglofalante.
E quem diz que consegui ficar longe da TV escandinava?
Jens Albinus, da dinamarquesa Ørnen: En krimi-odyssé participa de 2 episódios
como um diplomata da OTAN.
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