terça-feira, 13 de outubro de 2015

TELINHA QUENTE 181

Roberto Rillo Bíscaro

Da série Buck Rogers no Século XXV, que a Globo exibia nos domingos da virada dos anos 70 pros 80, lembrava-me do barulhinho dos raios emitidos pelas armas; duma cena em que o paquerador capitão babava por uma figura feminina, apenas pra ser alertado de que “ele não faria seu tipo” e dum robozinho insuportável. Pra garantir mais fidedignidade, anotei essas lembranças antes de assistir aos 37 episódios das 2 temporadas (1979-81) dessa releitura fracassada da personagem criada em 1928, mas ressuscitada no final dos 70’s devido ao sucesso esmagador de Guerra nas Estrelas.
Twiki, o autômato insuportável, está lá porque em Guerra nas Estrelas havia aqueles robozinhos também intragáveis, um deles parecido a uma lata de lixo estilosa. 35 anos depois, Twiki continuou não me descendo com sua voz altamente destoante – e mutante nas 2 temporadas – de seu corpo e estatura e sua idiotice abissal. Em um dos episódios, ele está andando por um duto de descarte de sujeira, jogada diretamente no espaço. Já que a série foi tão ruim que perde até pra UFO que dez anos antes já se preocupava com lixo espacial, pelo menos podia ter despejado o robô pra deixar as coisas menos estúpidas!
Em produção de tempos de Guerra Fria, Buck Rogers é capitão da NASA que fica em estado de animação suspensa por 500 anos no espaço até ser resgatado numa Terra pós-holocausto nuclear. No episódio-piloto os arredores da Nova Chicago, onde Rogers se instala, são sombrios e perigosos. Na primeira temporada, o amargor some e a Terra fora das redomas das novas cidades é “normal”, como a vemos hoje. Quase sempre presente nas listas de piores produções sci fi, Buck Rogers in the 25th Century faz jus: a coreografia das lutas parece de teatrinho escolar, as “interpretações” são quase sempre assim mesmo, entre aspas; cenários e adereços terrivelmente fake e as concessões por conta de orçamento e tentar agradar ao público detonam até os poucos episódios cuja trama podia oferecer alguma contribuição inteligente ao sub-gênero.
Na primeira temporada, Buck está em Nova Chicago, de onde parte em missões pra ajudar necessitados, ou melhor, em sua maioria necessitadas, já que a série adora exibir fêmeas em trajes mínimos – uma capitã do exército interestelar realmente usaria minissaia durante o trabalho – ou colantes e Gil Gerard (o Buck) com metade do peito cabeludo de fora – hoje cabelo no peito parece que repele, mas na época causava frisson. Numa representação radical de apagamento de qualquer referência/símbolo terrena(o)o da época pré-holocausto, será que alguém se deu conta de que acabaram criando um universo onde o cristianismo e a própria noção de Deus foram superados? É irônico pensar em carolas vendo Buck Rogers sem se tocar disso. Se bem que tem tanta coisa que passa despercebida pelo público-geral que nem essa graça recomenda a série.
Na segunda temporada, muda tudo: agora Buck e seus amigos – alguns novos – estão numa espaçonave gigante que vaga pelo cosmos a procura dos descendentes dos fugitivos do holocausto terráqueo. Parece a premissa de Battlestar Galactica, produzida pelo mesmo Glen A. Larson. Mas, também lembra Jornada nas Estrelas, enfim, é tudo genérico. Twiki diminui de importância. Em compensação, botaram um cientista inglês idoso, cuja curiosidade infantil e falas púberes desmerecem a liga dos sábios. Como em Perdidos no Espaço, lugares-comuns da Terra são usados interplanetariamente, então, há planeta Las Vegas, cidadezinha espanhola, Velho Oeste, meio grego. Alguém deve ter se tocado da “heresia” da primeira temporada e na segunda, menciona-se Deus a 3 por 4.
Como tenho interesse e paciência agrandados quando se trata de coisa antiga – especialmente da infância/adolescência/juventude – vi quase que meio de boa, mas não posso honestamente recomendar nem pra quem curte trash, porque a maior parte das coisas não tem graça mesmo. A não ser que você queira ver o episódio em que Buck encontra um bando de generais-anões brancos infantilizados por serem anões e “mandando” em um outro anão, negro. Além de ser registro dum procedimento que hoje não mais ocorre ou é bem escamoteado (tipo a personagem negra dar a vida pra salvar a branca...), a história é uma das piores que vi e olha que já assisti muita coisa!
Restou-me procurar rostos conhecidos e, claro, encontrei vários, especialmente na temporada um:
Jamie Lee Curtis, pós-Halloween, participa dum episódio em que tem que ser salva por Buck porque envolvera-se com um malandro e agora pagava o preço.
Jack Palance canastrão  - e plastificado já em 79? -  “interpretou” uma espécie de Silas Malafaia que subjugava seu planeta pelo medo.
Cesar Romero (o Coringa de Batman) e Ana Alicia (de Falcon Crest) no episódio Vegas in Space que tem a tal cena de que me recordava.  
Morgan Britanny, a Katherine Wentworth de DALLAS, participa de Happy Birthday, Buck. Ela vive uma courrière, que tem a mensagem implantada no sub-consciente pra não ser descoberta, mas uma psicanalista coagida por um bandidão tem uma máquina capaz de extrair a informação. Alguns dos conceitos dos episódios são bons; pena que execução mela tudo.
Leigh McCloskey, o Mitch Cooper, também de DALLAS, faz um vilão com bigode claramente postiço num episódio onde todo mundo está a bordo dum cruzeiro interstelar, porque a Miss Cosmos está em perigo. Valeu porque jamais vira Leigh em outro papel.
Curiosidade: Buster Crabbe, o Buck do serial de 1939, participa dum episódio como um veterano convocado num momento de urgência na guerra contra os draconianos. Veja uma cena:

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