Roberto Rillo Bíscaro
Não muito tempo depois de ter contratado internet em
casa, li sobre um alpinista moribundo que dera o último adeus à esposa grávida
na Nova Zelândia, via celular. Ele estava preso na armadilha gelada e rarefeita
de oxigênio que atende pelo nome de Monte Everest, icônico ponto mais alto do
planeta e que atrai centenas de escaladores deliberadamente colocando-se em
perigo pra atingir o cume.
Essa lembrança e o fato de Evereste (2015) ter sido
dirigido pelo islandês Baltasar Komákur foram os motivos pra eu ter dado mais
de 2 horas de meu tempo pra produção em 3D, que estreou no Brasil semana
passada. Se funciona, só mesmo se for na telona e com o tal 3D, porque na TV e
sem o recurso tecnológico (que pra mim sempre se perderá, porque não vejo 3D),
Evereste chega a ser tedioso na primeira metade.
A estrutura lembra a do cine-catástrofe setentista: elenco
estelar é jogado em situação desastrosa, onde a aventura vale muito mais do que
a caracterização. Então, se o sujeito está no cinema e consegue a sensação de
vertigem que o 3D certamente proporciona das radicais paisagens do Everest
(algumas cenas são nos Alpes italianos, sorry desapontá-los), tudo bem. Quem
não dispõe do recurso só se emociona mesmo na parte final, quando morre meio
mundo. Isso não deve ser considerado spoiler: 8 alpinistas morreram, o filme é
baseado em fatos, ricamente dados em forma de legendas com localização,
horário, altitude, temperatura; parece docudrama.
Nos anos 90, a montanha na fronteira da China-Nepal comercializou
geral com equipes rivais oferecendo pacotes de escalada pra meio-mundo. Havia
treinamento e tudo, mas a montanha vivia congestionada. E mesmo assim, a
“culpa” pelo desastre é da suposta força da Natureza e não da ganância de lotar
local tão perigoso com tanta gente. Quando uma tempestade forte atinge 2 desses
grupos, a tragédia grita.
O problema de Evereste é a superinflação da forma/técnica
sobre o conteúdo. A caracterização é necessariamente defeituosa em uma película
com tantos atores (os homens eu mal sabia quem era quem), então, a gente não se
importa muito com o que acontecerá a eles, a não ser bem no finzinho, quando o
sofrimento pega pesado, mas daí é apelar; só muito pelo no coração pra não ter
dó duma pessoa congelando e sem ar e dedos.
Evereste é em sua maior
parte insatisfatório e me serviu apenas pra sonhar com um pouco de frio nessa
maldita onda de calor primaveril que atravessamos.
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