Roberto Rillo Bíscaro
O nome da fracassada série oitentista Amazing Stories foi inspirado na clássica revista homônima de ficção-científica,
criada em abril de 1926 e editada até mais ou menos meados da década passada.
Na edição de agosto/1928, apareceu uma novela chamada Armagedon 2419 A.D., de
Philip Francis Nowlan, sobre Anthony Rogers, que aspira um gás radioativo,
permanece em animação suspensa por quase 500 anos e desperta em um mundo imerso
em guerra e tirania, pra, junto com Wilma Deering, lutar pela justiça blá blá
blá. Público gostou, a novela teve continuação, com a personagem sendo
rebatizada de Buck Rogers e daí pra frente uma série de produtos protagonizou o
Capitão: de quadrinhos nos jornais a RPGs.
Da época em que se ia ao cinema no sábado pra ver o
noticiário, um desenho, um serial e o
filme principal, vêm os 12 capítulos de Buck Rogers (1939). Pra quem não leu
postagens sobre esse antepassado das séries televisivas, sugiro clicar aqui e
aqui pra algumas características formais. Produzido pela Paramount, o serial claramente capitalizava em cima
do sucesso de Flash Gordon (1936); ambos protagonizados por Buster Crabbe.
Em uma viagem de dirigível sobre o Polo Norte, Buck e seu
inseparável e imberbe amigo Buddy Wade (ah, esses heróis-marmanjos que não
dispensam a companhia dum teen com
roupa colante!...) sofrem acidente e são soterrados por uma avalanche. Mas,
antes de ser encoberto por toneladas de neve, Buck acionara um gás, que deixa a
dupla em animação suspensa por 500 anos. Ao serem descobertos, encontram a
Terra dominada pelo despótico Killer Kane, cuja única oposição são os
habitantes da Cidade Escondida, que acolhe Buck.
Um coma de meses serve pra debilitar qualquer um, mas
Buck desperta de seu sono quinquessecular lépido e fortão e em poucos minutos é
aceito sem questionamento e imediatamente à sua chegada a cidade sofre um
ataque e nosso herói já se mostra inteiramente familiarizado com toda a
tecnologia do século XXV e vira chefe. Tentando uma aliança com Saturno – que
tem a mesma geologia, luminosidade solar e atmosfera que a Terra – o serial gira em torno da correria gerada por
ataques e contra-ataques do sensaborão Killer Kane aos saturnianos e
terráqueos.
Pra conhecer os serials,
o ideal é ver o original e mais caro Flash Gordon, mas pra quem já é do time,
Buck Rogers diverte em alguns sentidos. Pode não ser tão intenso quanto Flash e
tem muita coisa copiada como adereços, naves, a televisão que tudo vê; mas tem
seu charme como as lutas realizadas por um dublê tão óbvio que até eu percebi,
os capacetes que domesticam o cérebro e parecem latas de lixo. As
interpretações jamais ganhariam Oscar, especialmente a do príncipe saturniano
interpretado por um oriental que tinha tanta emoção quanto uma lista de
chamada. E a música incidental é reaproveito de outro serial ou filme, posso jurar.
Buck Rogers perdeu a chance de apresentar personagem
feminina pró-ativa. Wilma Deering é a única mulher da trama e até parece que
vai decolar em certo momento, mas o show
é de Buck, e depois que a Tenente Derring faz cretinice impossível de crer que
qualquer militar fizesse (mas ela é mulher em 1939, não se esqueça), quase nem a
notamos, além de a química entre o par nunca produzir centelha.
Interessante como o cérebro consegue apenas pensar e
aparelhagem futura a partir do que já conhece. Roupas, prédios e equipamentos
(tudo reciclado/mambembe) seguem as linhas geométricas popularizadas por um
Modernismo de consumo e ninguém consegue realmente pensar em sistemas como
telefones portáteis ou algo similar a internet, por falta desses conceitos em
fase ainda que primitiva. O mesmo ocorre em qualquer produção, preste atenção.
Em pares, parece que os
capítulos estão no Youtube, sem legendas. Eis os 2 primeiros.
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