Roberto Rillo Bíscaro
John Ruskin foi personalidade bastante conhecida e
influente na Inglaterra vitoriana e eduardiana. Escreveu sobre política, arte e
pode ser considerado um dos precursores da sustentabilidade e do ambientalismo
em sua crítica à dilapidação da natureza pela cidade industrial. Pintor,
palestrante, professor, o homem não parava de produzir. Mas, na cama, deixou
muito a desejar, a julgar pela mais recente tentativa de dramatização de seu
matrimônio jamais consumado com Effie Gray.
A oscarizada Emma Thompson roteirizou Effie Gray (2014),
que investe bastante nos efeitos psicossomáticos da rejeição e abstinência
sexual forçada da jovem Effie. Seu casamento com Ruskin tinha muitos elementos
pra dar errado mesmo: ela vivia na casa onde o avô do intelectual se suicidara
e sua família estava arruinada e muito provavelmente tenha incentivado a união
por conveniência. Só que quase nada disso está no filme, fascinado com a queda
de cabelo da jovem mal amada.
Ruskin é representado como um sujeito emocionalmente
distante, dominado pelos pais, pudico e interessado apenas no intelecto, além
de demonstrar profundo desprezo de classe por Effie, que por sua vez, não
apresenta defeito aparente a não ser ter cometido o supremo pecado de tentar
ser sexy na noite de núpcias vitoriana.
O interesse da jovem por borboletear socialmente e seu envolvimento com
o pintor John Everet Millais entram quase de raspão na película, que sequer esclarece
quem não conhece a história sobre o futuro de cada personagem.
Com sua parcialidade e interesse nos aspectos da
somatização em detrimento de acontecimentos, Effie Gray nunca acontece como
filme; parece um esboço, pra ficar no terreno metafórico da pintura, tão cara à
produção. Tudo muito britânico, tudo muito clichê de “filme de época” (nada
contra, amo, inclusive), música incidental sensível, elenco ótimo com os
veneráveis Derek Jacobi, Julie Walters e a própria Thompson.
Faltou apenas interessar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário