Roberto Rillo Bíscaro
Gostei dos 2 filmes dirigidos por Anna Muylaert a que assisti, um comentado aqui. Por isso, achei ótimo o sucesso que Que Horas Ela Volta? (2015) fez em Berlim e em Sundance. Ainda mais quando soube que a empregada doméstica nordestina, embora com seus momentos engraçados, não é objeto de risada, como em tantos outros produtos culturais brasileiros. Não sou rabugento condenador de risadas direcionadas a algum grupo, mas enche o saco que certos segmentos sejam quase exclusivamente representados de uma forma só. Sou pessoa com albinismo, sei bem disso.
Semana passada, vi o filme estrelado por Regina Casé. Ela
está ótima como Val, a empregada doméstica nordestina que não vê a filha há
anos, trabalha na casa dum casal paulistano de classe média-alta e nutre amor
maternal pelo filhão adolescente do casal, o qual criou, porque a descolada mãe
que traz jogos de café da Suécia, embora não padeça das vicissitudes que
obrigam mães a abandonarem filhos, foi tão ausente estando geograficamente
próxima, quanto Val estando separada por diversos estados. O filme, nem sempre
sutil, joga com algumas semelhanças entre as 2 famílias, mas insiste nas
diferenças. Quando a filha de Val vem a São Paulo prestar vestibular pra USP,
sua postura de não ver a família empregadora como objeto de culto – e o desejo
que desperta no patrão e no filhão – repercutirão em todos.
Guardando semelhanças com o chileno La Nana (resenhado
aqui), Que Horas Ela Volta? tem o mérito de provocar discussão a respeito da
mania de certos setores da sociedade considerarem as empregadas como “quase da
família” ao mesmo tempo relegando-as a quartinhos abafados e pedindo copos
d’água mesmo estando ao lado da geladeira.
No atacado gostei, mas alguns pontos no varejo poderiam
ser mais azeitados. O pai da família é indolente demais, a filha sai
intempestivamente numa noite de chuva forte pra prestar vestibular no dia
seguinte e jamais sabemos como aquilo foi resolvido.
Isso, porém, não diminui a importância do filme pra
cinematografia nacional, que precisa também de comédias de cunho social, não
apenas aquelas mostrando domésticas ouvindo música “brega” e falando
“errado”.
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