A fotógrafa Celeste Montearena está desenvolvendo uma série chamada Gatos e Humanos, que explora similaridades entre nós e o bichanos. A segunda série de fotos envolveu o modelo com albinismo Yoser e o gatinho Hans. Abaixo, o site de Celeste:
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
CAIXA DE MÚSICA 194
Roberto Rillo Bíscaro
Até agosto, Grace Potter tinha sido mais reconhecida
pelas suas propensões blues rock e
por ser vocalista do The Nocturnals, formada no início do século. A banda tem
raízes no hard rock e muita influência blues. A parceria em projetos com os
Rolling Stones e o astro country Kenny Chesney sempre aproximou a
norte-americana do mundo suado do rock’n’roll.
O lançamento do primeiro solo, Midnight, pode ter
surpreendido alguns: metade da dúzia de faixas é quase puro pop anos 80. A
disposição das canções faz com que a primeira metade seja basicamente pop e a
segunda, ainda que não como o trabalho dos Nocturnals, aproxime-se mais do que
se esperava de Potter. Ma non tropo.
Ouvintes poderão querer usar ombreiras e polainas
enquanto dançam de passinho ao som de Alive Tonight, com seu solo de guitarra
que a primeira ouvida parece de sax, instrumento-símbolo da saxodécada. A
funkeada Your Girl parece que emprestou do ABBA o riff de teclado que Madonna
já usara em Hung Up. E por falar em Madge, não é que Delirious parece egressa
da fase Lucky Star, lá da primeira metade dos 80’s? È a canção mais “ousada” de
Midnight: depois do balanço pop, há um minutinho no qual Grace grita e grita
sobre base mais rock. Estraga uma canção pop delícia; quem for dançar ao som de
Delirious dificilmente quererá perder tempo parado com esse experimentalismo,
fia. Diverte imaginar o que indie/blues rockers pensarão do rock à Kesha de
Instigators; punkete para fazer flash mob, gravar vídeo dançando de roupa de
grife rasgada e postar no Youtube.
Midnight é praticamente todo envolto em sensibilidade
pop, mesmo em seus momentos menos agitados como Empty Heart ou Low, que não deixam
de lembrar pop rock em sua vertente 80’s. Veja se o deslizamento viajante de
Nobody’s Born With a Broken Heart não seria perfeita para ouvir num estádio com
isqueiros acesos (hoje, celulares, sorry). O momento mais Nocturnals é a
faixa-enceramento, Let You Go, comovente balada ao piano, muito orgânica, meio
country.
Midnight tem elementos de blues, country, gospel, mas
está tudo a serviço do pop de inclinação oitentista. Grace Potter aproveitou
estar sozinha para fazer um álbum onde pudesse apresentar suas outras
influências, como ser humano multifacetado que é, que somos todos
(esperançosamente). O resultado foi muito agradável, vale ouvir.
Esta playlist promete o álbum completo:
domingo, 29 de novembro de 2015
SUPERANDO A PESTE NEGRA
O vilarejo que conseguiu derrotar a peste negra
Eleanor Ross
Em apenas oito dias de agosto de 1667, Elizabeth Hancock perdeu seus seis filhos e seu marido. Cobrindo a boca com um lenço para evitar o cheiro da decomposição, ela arrastou os corpos para um campo próximo e enterrou-os.
Os parentes de Hancock foram vítimas da peste negra, a praga mortal que atingiu a Europa de forma intermitente entre os séculos 13 e 17, matando cerca de 150 milhões de pessoas.
A epidemia ocorrida de 1664 a 1666 foi particularmente grave e o último grande surto da doença na Inglaterra. Apenas em Londres morreram cerca de 100 mil pessoas, ou um quarto da população da cidade.
Em meio à devastação, o vilarejo de Eyam, lar da família Hancock, virou palco de um dos episódios de autossacrifício mais heroicos da história da Grã-Bretanha – e foi um dos principais motivos pelos quais a disseminação da doença foi interrompida.
Eyam fica a cerca de 56 quilômetros de Manchester e tem, atualmente, cerca de 900 habitantes. É um típico vilarejo do interior da Inglaterra: tem pubs, cafés aconchegantes e um igrejinha idílica.
Há 450 anos, porém, só se via a destruição causada pela peste negra: ruas vazias, portas marcadas com cruzes brancas e sons de agonia de pacientes moribundos atrás dessas portas fechadas.
A peste chegou a Eyam no verão (inverno no hemisfério sul) de 1665, quando um comerciante de Londres enviou amostras de tecidos infestadas por pulgas para o alfaiate local, Alexander Hadfield. Em uma semana, o assistente de Hadfield, George Vickers, já havia agonizado até a morte. Em breve, toda a sua família contrairia a doença e morreria.
Até aquele momento, a doença estava praticamente restrita ao sul da Inglaterra. Apavorados com a perspectiva de a praga se espalhar pelo norte, destruindo cidades e comunidades, os moradores perceberam que só tinham uma opção: a quarentena.
Isolamento
Sob orientação do padre anglicano William Mompesson, eles decidiram se isolar, criando um perímetro delimitado por uma barreira de pedras que ele prometeram não ultrapassar – até aqueles que não apresentavam sintomas.
“Isso significava que eles não podiam evitar o contato com a doença”, explica Catherine Rawson, secretária do Eyam Museum, que conta o caso em detalhes.
Também significava que era preciso fazer planos cuidadosos para assegurar que os moradores ficassem dentro dos limites e que outras pessoas fossem mantidas do lado de fora, mas que aqueles que estavam em quarentena ainda pudessem receber alimentos e outros mantimentos de que precisavam.
Os moradores estabeleceram um sistema de barreiras feitas com pedras com pequenos buracos, onde deixavam moedas empapadas de vinagre, que acreditavam ter ação desinfetante. Comerciantes de vilarejos vizinhos pegavam o dinheiro e deixavam carne, grãos e enfeites em troca.
Atualmente é possível visitar a barreira de pedras. Localizadas a menos de um quilômetro do vilarejo, essas pedras chapadas e ásperas viraram uma atração turística. Para honrar as vítimas da doença, até hoje as pessoas deixam moedas nos buracos, que ficaram menos marcados com o tempo – e com as crianças colocando os dedos dentro deles.
Ainda não há consenso sobre a forma como a notícia da quarentena foi recebida pelos moradores. Alguns tentaram deixar o local, mas aparentemente a maioria aceitou seu destino de forma estoica e pediu a Deus para continuar viva.
'A peste, a peste!'
Mesmo se tivessem deixado o local, eles certamente não seriam bem recebidos em outros lugares. Uma mulher saiu de Eyam para ir ao mercado do vilarejo de Tideswell, a 8 km de distância. Quando as pessoas perceberam de onde ela vinha, atiraram comida e lama, aos gritos de “a peste, a peste!”.
À medida que as pessoas foram morrendo, o vilarejo começou a entrar em colapso. Estradas começaram a desmoronar e o mato dominou os jardins. Ninguém fez a colheita das plantações e os moradores passaram a depender de alimentos trazidos de outros locais.
Eles estavam vivendo com a morte, literalmente, na esquina, sem saber quem seria a próxima vítima de uma doença que ninguém entendia. A peste em 1665 provavelmente lembrou o ebola em 2015, mas com ainda menos conhecimento médico.
Foram tomadas algumas providências para tentar impedir a disseminação da doença. Na primeira metade de 1666, 200 pessoas morreram.
Após a morte do homem responsável pelas lápides, os moradores passaram a gravar suas próprias. Alguns, como Elizabeth Hancock, enterraram eles mesmos os seus mortos, carregando os corpos das vítimas por meio de cordas amarradas aos pés delas para evitar contato com o morto.
Missas eram feitas ao ar livre para evitar a propagação da doença, mas em agosto de 1666 os efeitos eram devastadores: 267 pessoas, de uma população de 344, haviam morrido.
Acreditava-se que aqueles que não pegaram a doença tinham uma característica especial – hoje, especula-se que fosse um cromossomo – que impedia a contaminação. Outros acreditavam que rituais supersticiosos (como fumar tabaco) ou preces fervorosas paralisavam a doença.
Cheiros adocicados, órgãos podres
Jenny Aldridge, uma das gerentes da casa Eyam Hall do National Trust (instituição que cuida de palácios, castelos e outros patrimônios históricos britânicos), afirma que as vítimas da peste percebiam que haviam sido contaminadas quando começavam a sentir cheiros doces.
A mulher de William Mompesson, Katherine, percebeu que o ar estava adocicado uma noite antes de apresentar sintomas – só por isso ele soube que ela havia sido infectada. Ironicamente, o odor agradável surgia quando as glândulas olfativas detectavam que os órgãos internos do paciente estavam apodrecendo.
“Isso e a crença dos moradores de que doenças eram transmitidas pelo ar os levaram a usar máscaras com ervas dentro”, diz Aldridge. “Alguns chegavam a sentar em tubulações de esgotos: pensavam que a praga não poderia atingi-los em um local que cheirava tão mal.”
Após 14 meses, a doença se autoconsumiu, desaparecendo quase tão subitamente quanto apareceu. A vida voltou ao normal e o comércio se restabeleceu de forma relativamente rápida porque a mineração de chumbo, a maior fonte de riqueza de Eyam, era muito valiosa para ser ignorada.
Hoje, o vilarejo se transformou em uma cidade-dormitório para quem trabalha em Sheffield e Manchester, mas ainda há fazendas centenárias no caminho.
Para quem visita a cidade, uma das coisas mais impressionantes são as placas verdes que foram postas nas casas de campo atingidas pela peste. Muitas listam inúmeros membros que cada família perdeu.
As placas são uma lembrança constante para os habitantes do norte da Inglaterra de que eles e seus ancestrais podem dever suas vidas a esse corajoso povoado.
Nota do Albino Incoerente: Csso o leitor queira saber mais sobre a Peste negra, acesse nosso dossiê peste negra, no link
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
PROTEÇÃO MOÇAMBICANA
PROTECÇÃO À PESSOA ALBINA: CONSELHO DE MINISTROS APROVA DECRETO-LEI
A dramática situação de raptos e extracção de órgãos de albinos no país está a deixar o governo preocupado. Esta terça-feira o Conselho de Ministros teve que aprovar um dispositivo legal que vai proteger e dar a devida segurança à pessoa albina em Moçambique.
O governo adianta que já tinha estabelecido uma linha de acção social, através dos ministérios da Saúde e da Acção Social para a assistência a este grupo de pessoas mas agora trata-se de salvaguardar a integridade física.
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
TELONA QUENTE 135
Roberto Rillo Bíscaro
ALERTA: ESTA RESENHA REVELA O FIM DO FILME.
Há vários anos, Ricardo Darin é o superastro do cine
argentino. Júlio Chavez pode ser mais versátil e nuançado, mas Darin é quem
comanda sucesso e poder internacionais. Belén Rueda, a estrela de El Orfanato e
Los Ojos de Júlia, é prestigiosa em Espanha, e, por conseguinte, no mundo
hispânico. Juntar os 2 numa co-produção de suspense, gênero que costuma render
boa grana, parecia um sonho de caixa-registradora. Dirigido e roteirizado (se
se pode dizer isso) por Patzi Amezcua, Séptimo (2013) se autodestrói nos dez
minutos finais, depois de dispor de metade dos clichês de gênero.
A premissa é instigante. Sebastián é típico advogado que
defende quem lhe pague bem e está prestes a uma audiência decisiva pra sua
firma de advocacia. Também está protelando pra assinar os papeis do divórcio
que sua esposa espanhola pediu. A gallega
tenciona voltar a Madri com os 2 filhos do casal, pra cuidar do rico papi
moribundo. Quando Sebas vai buscar as crianças pra levá-las à escola, a mulher
adverte-o que não faça o costumeiro joguinho de deixar as crianças descerem
pela escada enquanto ele o faz pelo elevador. Claro que ele não atende o pedido
e no caminho do sétimo andar ao térreo, o casal de filhos desaparece.
Mesmo com roteiro preguiçoso, a curiosidade em saber o
que aconteceu e a atuação de Darin seguram Séptimo por uns 30 minutos. Não é à
toa que é astro; o ator segurou o melhor que pôde uma história cujo suspense é
só o da premissa. A maior parte do tempo ele passa gritando “chicos, chicos,
Luna, Luca!” e desconfiando de um após outro e o edifício, que em hábeis mãos
se transformaria num fascinante microuniverso, nunca é bem aproveitado. E que
raio de prédio de classe média-alta é esse que não tem câmeras de segurança?
Mas, tudo isso seria perdoável e Séptimo mais um
divertimento inconsequente, se não fosse pela reviravolta na trama, um dos
elementos do livro de receitas pra compor um thriller Quando Sebastián descobre onde as crianças ficaram – e
como essa descoberta é feita, mon Dieu! – toda a lógica do enredo rui feito
edifício de cartas. Será que os pequenos são tão débeis-mentais a ponto de não
revelarem o esconderijo ao pai no momento em que o veem? Preguiça a gente até
perdoa, mas insulto à inteligência fica mais difícil
Só pro leitor não perder tempo com Séptimo, dá até
vontade de contar que foi a mãe que engendrou tudo e as crianças simplesmente
estavam num apartamento abaixo, que Sebastián, aliás, já visitara. Que motivo
teria a rica mulher em extorquir grana do ex-marido, que apenas protelava pra
assinar os papéis, não estava irredutível? Sendo boa mãe e com o pai doente,
qualquer juiz não permitiria que fosse com os filhos à Espanha fácil, fácil?
Por que arriscaria ser presa por tamanha bobagem? Qual o motivo de o comissário
de polícia ser cúmplice? Que empregada limpa um apartamento tarde da noite, com
a porta entreaberta? Como uma mulher que arquitetara algo tão malicioso,
desiste tão facilmente, quando confrontada com a verdade, sobre a qual o marido
nem tinha provas, a não ser uma metade de embalagem de comprimido?
Amezcua deve achar que o espectador não questiona o que
vê, embora devamos considerar que os escribas do roteiro não quiseram/puderam
ver os furos da própria “lógica”, então, deve haver quem veja e aceite tudo de
boa.
Como diriam os argentinos, una pelotudez!
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
A HISTÓRIA DE KULWA
Kulwa é uma jovem com albinismo que vive na Tanzânia. Ela ficava praticamente presa em casa, apenas servindo seus irmãos não-albinos. Depois de perder um braço em um ataque de larápios que o deceparam para vender no mercado de partes do corpo de pessoas com albinismo, Kulwa foi abrigada pela ONG canadense Under The Same Sun. Apesar de sentir falta da família, a jovem recebe proteção e educação. Ela aprende costura e pretende ganhar a vida com isso.
Veja seu depoimento, com legendas em inglês:
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Assassinato de Albinos na África,
Histórias de Albinos
terça-feira, 24 de novembro de 2015
TELINHA QUENTE 187
Roberto Rillo Bíscaro
Salutar mudar de ares, ver ambientes distintos. Por isso,
gosto de viajar e diversificar o visto nas telinhas e lonas. Como tenho andado
Nordic Noir demais, até produções espanholas escolhidas estavam acinzentadas
pelo frio escandinavo. Por isso, dei um jeitão na fila e passei na frente os 4
episódios com duração de longa-metragem da italiana Il Commissario De
Luca
(2008).
O que chama a atenção na produção da RAI é a esfuziante e
complexa cor local, como diriam os Românticos. Il Commissario De
Luca apresenta 4 casos envolvendo uma década, 1938-48. O
período é fascinante: fascismo, II Guerra Mundial, pós-guerra com luta
eleitoral entre democratas-cristãos e comunistas. Em meio a esse tumulto, o
bigodinho Achile De Luca, cujo calcanhar fraco é acreditar piamente na justiça,
em uma sociedade corrupta e desigual por definição.
Embora os casos sejam distintos, somos apresentados
a fatos e confusões da vida do detetive por crer que a justiça deveria ser
cega, mas insistentemente sendo relembrado que não ocorre assim, seja dentre
fascistas, comunas, democratas-cristãos, grandes cidades, aldeotas. De Luca
quase sempre se ferra, porque a verdade descoberta é inconveniente pralgum
grupo ou poderoso de plantão.
Tamanha insistência na falibilidade e corrupção do
sistema legal, independentemente do partido no poder, não poderia ser
interpretado como incapacidade apriorística do Estado de assegurar e garantir
igualdade a todos, porque no fundo ele existe pra defender/representar uns
poucos? Il Commissario
De Luca – a despeito de todo seu colorido e expansividade latinos –
resultou mais deprê do que o Nordic Noir, onde pelo menos ainda prevalece certo
sentido de justiça e reordenação, reparação do caos.
Mas essa desesperança vem muito bem disfarçada numa
produção detalhada, bem interpretada, dirigida e roteirizada, com tramas
interessantes, mas que têm como ponto alto a tal cor local. Muito interessante
aprender que os fascistas não apertavam as mãos por ser “anti-higiênico” ou que
gravatas-borboletas eram usadas pelos anarquistas ou antifascistas.
A expansividade e a natureza ensolarada e colorida de Il Commissario De
Luca foram bem-vindo interlúdio pra me preparar pro
certeiro frio da terceira temporada de Bron/Broen, pra segunda de Hinterland
(vi o especial de Natal do ano passado, nossa, até eu fiquei passado com a
morbidez) e pra novidade britânica River, com meu amado Stellan Skarsgård.
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
CAIXA DE MÚSICA 193
Roberto Rillo Bíscaro
Jim Alfredson é um tecladista de Michigan, que curte
sonoridade vintage e tem trabalhado
em diversos projetos, a maioria influenciados por jazz, blues e outras
vertentes da música negra norte-americana. Em janeiro, ele mostrou faceta
bastante surpreendente com sua banda Theo, cuja sonoridade remete aos áureos
tempos setentistas do rock progressivo com ênfase em Hammonds e quejandos, só
que com produção bem moderna.
The Game of Ouroboros foi lançado pela Generation
Prog Records, mas a gravação foi conseguida graças a crowdfunding. Cada vez mais comum no mundo globalizado, o financiamento coletivo consiste na obtenção de capital para iniciativas de
interesse coletivo através da agregação de múltiplas fontes de financiamento,
em geral pessoas físicas interessadas na empreita. O termo é muitas vezes usado para
descrever especificamente ações na internet com
o objetivo de arrecadar dinheiro para artistas, jornalismo cidadão, pequenos negócios, campanhas políticas, iniciativas de software livre, filantropia e
ajuda a regiões atingidas por desastres, entre outros.
A independência e coletivismo da produção têm tudo a ver
com a temática do álbum, que se situa num futuro onde o governo funciona como
megacorporação, que controla tudo na vida individual. Ouroboros é aquela
serpente ou dragão representada/o em círculo, comendo o próprio rabo e é essa
visão distópica que predomina nas letras com passagens tipo “controlamos a
merda que você come”. Mais claro que isso, só desenhando.
Mas, o que mais importa é a quase 1 hora de música
energética dividida em 6 canções. Tudo começa com a faixa-título, que inicia
como carpete de teclados sob vocal simulando opções num menu telefônico, até
que guitarras entram para dominar a canção, ainda que haja mudanças de
andamento e clima nos mais de 9 minutos. Fãs de prog guitarreiro, de Nektar a
David Gilmour, não terão do que reclamar desse introito.
The
Blood That Floats My Throne entroniza os teclados, embora haja
guitarras. Suntuosas, as teclas soam de eclesiásticas a sci fi, num clima bem genesiano à The Lamb Lies Down on Broadway. Creatures Of Our
Comfort tem percussão inspirada pelo oitentista The Police, com sua inflexão
reggae/ska.
These
Are The Simple Days começa como balada ao piano para desaguar numa correnteza
de Moog de orgulhar o Tony Banks de Cinema Show. Idle Worship já começa
nervosa como alguns clássicos tecladísticos do Emerson, Lake and Palmer. Há uma
ponte pop prog – presente dos Beatles – e daí começa longo e virtuoso
instrumental, onde mais se nota a influência jazzística de Alfredson. É um
arraso e a mais longa de The Game of Ouroboros.
Pena
que a maior parte de Exile seja arrastada, senão seria fecho doirado. A partir
de 7:30, o tom que encerra o álbum é bombástico, mas os quase 12 minutos da
canção soam anticlimáticos por mais da metade do tempo.
Não
obstante esse defeito, The Game of Ouroboros prova que fãs do prog sinfônico
setentista ainda não estão órfãos. Pode não ser fácil, mas de vez em quando
aparece diamante nesse garimpo.
The Game of Ouroboros pode ser ouvido na íntegra no
Bandcamp:
domingo, 22 de novembro de 2015
A SUPERAÇÃO DO COMANDANTE ASSIS
No programa do Fantástico que foi ao ar no dia 15/11/2015, foi contada a bonita história de superação do Comandante Assis, que em um acidente de ônibus teve seu braço amputado acima do cotovelo, mas graças a uma prótese voltou a pilotar helicópteros.
sábado, 21 de novembro de 2015
ALBINO GOURMET 189
Na edição de hoje, destaco o canal Presunto Vegetariano, que tem uma série de receitas veganas e sem glúten, divididas em seções como doces, comidas orientais e outras. Perto do Natal, não custa buscar alguma ideia lá pra inovar/diferenciar a ceia, que tal?
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
PROTEGENDO O PATRÃO
Suposto traficante de ossadas de albino detido em Nampula mas, como outros detidos, também não revela mandante
A Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula deteve, na semana finda, um indivíduo cujo nome não foi revelado, indiciado de exumar uma campa para extrair ossos do cadáver de uma pessoa que em vida tinha problemas de pigmentação de pele, enterrada num dos cemitérios familiares sito na zona de Anchilo, a cerca de 18 quilómetros da cidade de Nampula.
O @Verdade apurou que o suposto violador de túmulos foi surpreendido na posse de ossos humanas em quantidade não especificada. Sérgio Mourinho, porta-voz da PRM em Nampula, o cidadão acusado confessou o crime e alegou que foi contactado por alguém para procurar partes do corpo de um albino. Contudo, o acusado não revelou nada sobre o presumível mandante deste crime.
Na zona de Anchilo é a primeira vez que se regista um caso do género, desde que recrudesceu a “caça” a pessoas com a falta de pigmentação na pele, nos, olhos, nos cabelos e nos pelos, mormente em Nampula, onde mais de cinco dezenas de indivíduos encontram-se detidos por alegado envolvimento no crime de rapto e assassinato de albinos, bem como por exumação de campas para extração de ossos humanos. Os distritos de Malema, Ribáuè, Moma, Angoche são os que mais registaram tais ocorrências.
Refira-se que este fenómeno ditou o abandono da escola por parte de dezenas de moçambicanos que sofrem de albinismo, pois temem pelas suas vidas. As autoridades governamentais accionaram mecanismos, no sentido de travar o mal, mas o Ministério Público mostra-se cada vez mais incapaz de identificar os mandantes dos crimes.
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
CAÇADA MOÇAMBICANA...POR ALBINOS
Quatro detidos por “caçarem” albinos
No distrito de Massinga, o mais populoso da província de Inhambane, quatro pessoas estão a contas com as autoridades da justiça indiciados no rapto e assassinato de pessoas com problemas de albinismo.
O primeiro grupo, constituído por três indivíduos, foi neutralizado em finais de Outubro passado concretamente no dia 27.
Os três indivíduos, todos naturais de Massinga, são garimpeiros na província de Cabo Delegado onde foram convidados a juntar-se com a rede de traficantes de órgãos humanos .
A primeira missão incumbida à estes cidadãos era de encontrar ossadas de cidadãos albinos que seriam vendidos à um empresário tanzaniano por cerca de quatro milhões de meticais.
O trio saiu de Cabo Delgado com destino à Massinga para desenterrar restos mortais de um albino sepultado no ano 2011 num cemitério familiar na região de Malova.
Antes deste trabalho, os supostos criminosos procuraram um médico tradicional da região de Queme em Massinga para uma “purificacão” para terem coragem de praticar aquele tipo de crime.
A médica tradicional pediu duzentos meticais pelo tratamento, tendo depois entregue um medicamento para o efeito. Mas tarde, exigiu que depois de conseguirem as ossadas, deviam antes de rumar a Cabo delgado voltar a passar da casa da curandeira para despedir.
Ao agir daquela forma a curandeira queria comunicar a Policia da Republica de Mocambique e, assim o fez.
Foi a partir dali que a PRM começou a encetar buscas até conseguir neutralizar os três indivíduos com ossadas de um suposto albino.
O comandante da Policia da Republica de Moçambique em Massinga, Jonas Feliciano, indicou que depois da neutralização do primeiro grupo investigações prosseguiram visando localizar os mandantes do crime.
Na semana passada foi despachada uma equipa para a província de Cabo Delgado para a localização de um dos mandantes neste caso moçambicano.
Em colaboração dom a PRM de Cabo Delgado foi possível a neutralização de um dos supostos mandantes do crime identificado por Geraldo Azarias Maunze, de quarenta anos de idade.
O suposto mandante confessa ter contactado os seus colegas garimpeiros para procurarem ossadas de um albino para “fechar um negocio com um tanzaniano”.
terça-feira, 17 de novembro de 2015
ZOOFILIA COM JIBOIA
Pedreiro encontra cobra albina na rua e leva animal para casa no Rio
Cobra encontrada em Jacarepaguá pode ser uma rara e valiosa jiboia albina
O pedreiro David Jonathan Mendes voltava do trabalho pela estrada do Sertão, no largo do Anil, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio, quando se deparou com uma cobra. Ao ver o filhote, ele resolveu levar o bichinho para casa.
— Eu fui dar uma olhada, checar que cobra era aquela. Ela era branquinha, eu não entendi muito. Fui com um pedaço de graveto para ver se ela era mansa ou não, aí ela não teve muita reação comigo não.
O pedreiro tenta transferir a cobra para algum órgão que possa tomar conta dela. Até então, ele cuidará do animal em sua própria casa.
A cobra seria um filhote de jiboia albina, pelo formato da cabeça. A espécie com pele branca é o resultado de uma mutação genética rara, o leucismo. No entanto, somente os biólogos poderão confirmar de qual a espécie é o animal encontrado.
Em 2013, uma cobra albina foi traficada para os Estados e vendida por R$ 1,5 milhão. Os órgãos competentes do Brasil foram aos EUA resgatar os filhotes desta cobra.
O pedreiro disse que teve muita sorte ao encontrar o animal.
— Isso aqui foi praticamente ganhar na Mega-Sena e não ganhar.
Se for comprovada que ela é albina, será a segunda espécie encontrada no país.
TELINHA QUENTE 186
Roberto Rillo Bíscaro
A nanica Dinamarca tinha opinião inflacionada sobre si. A
Dannebrog, a bandeira nacional, acredita-se ter sido enviada diretamente do
céu, durante uma batalha na Estônia, no século XIII. Orgulho nacional é
salutar, mas em 1864 a península da Jutlândia encasquetou que podia derrotar a
Toda-Poderosa Prússia, que ainda por cima estava aliada com a então grandona
Áustria, numa guerra pelo domínio dos ducados de Schleswig-Holstein, que sequer
se identificavam como daneses. Nessa disputa de Davi contra Golias, o pequenino
foi massacrado pelo gigante. A Dinamarca perdeu 25% de seu território pra
futura Alemanha e as sandálias da humildade serviram pra que a nação se
retraísse, retraçasse seu caminho e só voltasse a combater fora de seu
território mais de um século depois.
Ano passado, a TV estatal dinamarquesa produziu e exibiu
os 8 episódios da minissérie 1864, que recria o período e conta 2 histórias
pessoais pra deixar o conteúdo histórico dramatizável. Ou por ter mexido em
feridas nacionalistas ou por inadequações históricas, o show foi hostilizado
domesticamente, mas chegou à TV britânica, faminta por Scandi Drama. 1864 é a
série mais cara da TV dinamarquesa e prova que nem sempre isso é tão
importante. Sem ser ruim, perde em criatividade e poder de influenciar pra
conterrâneas mais baratas como Forbrydelsen e Borgen, as quais recomendo
primeiro pra neófitos em TV escandinava.
O delírio nacionalista que via a Dinamarca como escolhida
por Deus pra vencer e miopizava a elite política, religiosa e artística pra
pequenez dinamarquesa perante o gigantismo prussiano é muito bem retratado em
falas e posto no interessante ângulo do reacionarismo versus liberalismo. No
contexto discursivo da sustentação ideológica pra guerra, ser contra o conflito
configurava-se como reaça em contrapartida às aspirações “modernizantes” do
governo dinamarquês, que se via na vanguarda europeia com algumas noções
liberais mal deglutidas.
Quem paga as maquinações, manipulações e megalomanias
duma minoria é sempre uma maioria pobre e manobrada/manobrável ou aquela parte
que se considera elite, mas está meio afastada do centro de poder a ponto de
poder se dar ao luxo de insuflar contendas, sem necessariamente perder ninguém
nelas. Nesse ponto, 1864 é maniqueísta, mas pelo menos acerta em mostrar uma
Dinamarca lindinha de cartão-postal campesino, mas infestada de piolhos. Por
fora, bela viola; por dentro, pão bolorento.
As cenas de guerra são muito realistas e impressionam,
mas também enjoam um bocado; dava pra enxugar e fazer em 7 capítulos. Deve ter
sido a primeira vez que vi a Alemanha – na época Prússia, mas quem liga? – no
papel de agredida; mas quando resolve dar o troco, sai da frente.
Paralelo a isso, a história de 2 irmãos campesinos em
romance com a filha supostamente muito especial (não vi nada demais em Inge) do
capataz das terras do barão regional (que não pode escapar de ter filho enviado
ao campo de batalha). Ambicioso, o roteiro adicionou uma camada contemporânea à
trama na forma de uma garota de nosso século, cheia de piercings e revoltada com a perda do irmão no Iraque – a limpeza e
(aparente) paz da Dinamarca de hoje são possíveis porque a sujeira e a
violência estão em outros locais -, “condenada” a auxiliar o velho barão local.
Ao descobrir um diário numa caixa facilmente acessível, a guria encontrou as memórias de Inge, há muito fora do radar do ancião. A narrativa no passado resulta,
portanto, da leitura do diário, ou seja, o ponto de vista é do Inge. Uma
coincidência forçada demais e jamais explicada marmelizou um pouco o núcleo
contemporâneo.
Outra coisa que pode desagradar os mais materialistas é a
inclusão desnecessária dum personagem com poderes místicos, de cura, de
premonição. Isso azeda o molho histórico e acaba funcionando como deus ex
machina em um par de situações. Contradição prum mundo histórico que prova a
todo segundo a inexistência de deuses ex machinas!
1864 é pictoricamente muito bonita, tem diversos atores
queridos de fãs de Nordic Noir e Scandi Drama, é bem atuada e interessante. Só
não é ótima; mas se formos ver só o ótimo veríamos pouco.
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
CAIXA DE MÚSICA 192
Roberto Rillo Bíscaro
Angie Stone rala desde o final dos anos 70, sendo uma
das precursoras dos grupos femininos de rap. Seu trio The Sequence teve 2
canções de sucesso em 1980, pelas quais jamais recebeu pataca, porque era menor
e não podia assinar contrato. Dissolvido o grupo, Stone trabalhou com o
Mantronix e Lenny Kravitz.
O primeiro solo veio só em 1999, quando Angie era quase
40tona. Desde então, ela lança álbuns regularmente e estendeu sua carreira ao
cine e TV. Nos últimos meses, tabloides e TMZ pareciam sua segunda casa:
rompimento com namorado, saída tretada de reality
show (K Michelle, Tamar Braxton, há diva negra ianque que não esteja em reality?) e pau doméstico nervoso com a
filha, que resultou na última perdendo 2 dentes, depois que mami golpeou-a na
boca com barra de ferro. Tenso!
Semana passada, porém, as
atenções se voltaram pro que a norte-americana sabe fazer melhor: saiu Dream, seu
sétimo álbum-solo.
Pela primeira vez solteira quando compõe um trabalho,
Dream reflete esse momento pós-qeubradeira geral abordando temas que vão da
busca pela diversão, admissão de que é uma caça-rolo, conselhos de irmã mais
velha e broncas dirigidas ao ex-companheiro.
Dollar Bill abre o “Sonho” em alegre clima electrofunk com palminha e tudo, como o
Tuxedo fizera há alguns meses. Clothes Don’t Make a Man e Didn’t Break Me
remetem a 2 aspectos distintos da sonoridade da pop black music dos meados dos 60’s; Magnet e Dream são luxuosas baladas
Neo Soul; 2 Bad Habits alicerça-se no doo wop e Philly Soul; Quits tem gosto de
Motown e Think It Over é soul deslizante. Apesar de algumas faixas terem bases
retrô, a produção se incumbe de não deixá-las datadas, devido à aproximação com
o pop.
Angie Stone faz parte do time de divas negras que
talvez até pudesse gritar, mas escolhe não fazê-lo, como Maysa Leak, embora o
estilo não seja o mesmo da canora baltimoreana. Sua voz 50tona está um
deslumbre, passeando pelos líquidos arranjos e harmonias de cristal de Dream.
Essa coleção de 10 delícias
Neo Soul com tempero pop retrô, de vez em quando, deveria ser ouvido por
qualquer amante de música negra ianque.
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