Roberto Rillo Bíscaro
Jim Alfredson é um tecladista de Michigan, que curte
sonoridade vintage e tem trabalhado
em diversos projetos, a maioria influenciados por jazz, blues e outras
vertentes da música negra norte-americana. Em janeiro, ele mostrou faceta
bastante surpreendente com sua banda Theo, cuja sonoridade remete aos áureos
tempos setentistas do rock progressivo com ênfase em Hammonds e quejandos, só
que com produção bem moderna.
The Game of Ouroboros foi lançado pela Generation
Prog Records, mas a gravação foi conseguida graças a crowdfunding. Cada vez mais comum no mundo globalizado, o financiamento coletivo consiste na obtenção de capital para iniciativas de
interesse coletivo através da agregação de múltiplas fontes de financiamento,
em geral pessoas físicas interessadas na empreita. O termo é muitas vezes usado para
descrever especificamente ações na internet com
o objetivo de arrecadar dinheiro para artistas, jornalismo cidadão, pequenos negócios, campanhas políticas, iniciativas de software livre, filantropia e
ajuda a regiões atingidas por desastres, entre outros.
A independência e coletivismo da produção têm tudo a ver
com a temática do álbum, que se situa num futuro onde o governo funciona como
megacorporação, que controla tudo na vida individual. Ouroboros é aquela
serpente ou dragão representada/o em círculo, comendo o próprio rabo e é essa
visão distópica que predomina nas letras com passagens tipo “controlamos a
merda que você come”. Mais claro que isso, só desenhando.
Mas, o que mais importa é a quase 1 hora de música
energética dividida em 6 canções. Tudo começa com a faixa-título, que inicia
como carpete de teclados sob vocal simulando opções num menu telefônico, até
que guitarras entram para dominar a canção, ainda que haja mudanças de
andamento e clima nos mais de 9 minutos. Fãs de prog guitarreiro, de Nektar a
David Gilmour, não terão do que reclamar desse introito.
The
Blood That Floats My Throne entroniza os teclados, embora haja
guitarras. Suntuosas, as teclas soam de eclesiásticas a sci fi, num clima bem genesiano à The Lamb Lies Down on Broadway. Creatures Of Our
Comfort tem percussão inspirada pelo oitentista The Police, com sua inflexão
reggae/ska.
These
Are The Simple Days começa como balada ao piano para desaguar numa correnteza
de Moog de orgulhar o Tony Banks de Cinema Show. Idle Worship já começa
nervosa como alguns clássicos tecladísticos do Emerson, Lake and Palmer. Há uma
ponte pop prog – presente dos Beatles – e daí começa longo e virtuoso
instrumental, onde mais se nota a influência jazzística de Alfredson. É um
arraso e a mais longa de The Game of Ouroboros.
Pena
que a maior parte de Exile seja arrastada, senão seria fecho doirado. A partir
de 7:30, o tom que encerra o álbum é bombástico, mas os quase 12 minutos da
canção soam anticlimáticos por mais da metade do tempo.
Não
obstante esse defeito, The Game of Ouroboros prova que fãs do prog sinfônico
setentista ainda não estão órfãos. Pode não ser fácil, mas de vez em quando
aparece diamante nesse garimpo.
The Game of Ouroboros pode ser ouvido na íntegra no
Bandcamp:
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