Roberto Rillo Bíscaro
Até agosto, Grace Potter tinha sido mais reconhecida
pelas suas propensões blues rock e
por ser vocalista do The Nocturnals, formada no início do século. A banda tem
raízes no hard rock e muita influência blues. A parceria em projetos com os
Rolling Stones e o astro country Kenny Chesney sempre aproximou a
norte-americana do mundo suado do rock’n’roll.
O lançamento do primeiro solo, Midnight, pode ter
surpreendido alguns: metade da dúzia de faixas é quase puro pop anos 80. A
disposição das canções faz com que a primeira metade seja basicamente pop e a
segunda, ainda que não como o trabalho dos Nocturnals, aproxime-se mais do que
se esperava de Potter. Ma non tropo.
Ouvintes poderão querer usar ombreiras e polainas
enquanto dançam de passinho ao som de Alive Tonight, com seu solo de guitarra
que a primeira ouvida parece de sax, instrumento-símbolo da saxodécada. A
funkeada Your Girl parece que emprestou do ABBA o riff de teclado que Madonna
já usara em Hung Up. E por falar em Madge, não é que Delirious parece egressa
da fase Lucky Star, lá da primeira metade dos 80’s? È a canção mais “ousada” de
Midnight: depois do balanço pop, há um minutinho no qual Grace grita e grita
sobre base mais rock. Estraga uma canção pop delícia; quem for dançar ao som de
Delirious dificilmente quererá perder tempo parado com esse experimentalismo,
fia. Diverte imaginar o que indie/blues rockers pensarão do rock à Kesha de
Instigators; punkete para fazer flash mob, gravar vídeo dançando de roupa de
grife rasgada e postar no Youtube.
Midnight é praticamente todo envolto em sensibilidade
pop, mesmo em seus momentos menos agitados como Empty Heart ou Low, que não deixam
de lembrar pop rock em sua vertente 80’s. Veja se o deslizamento viajante de
Nobody’s Born With a Broken Heart não seria perfeita para ouvir num estádio com
isqueiros acesos (hoje, celulares, sorry). O momento mais Nocturnals é a
faixa-enceramento, Let You Go, comovente balada ao piano, muito orgânica, meio
country.
Midnight tem elementos de blues, country, gospel, mas
está tudo a serviço do pop de inclinação oitentista. Grace Potter aproveitou
estar sozinha para fazer um álbum onde pudesse apresentar suas outras
influências, como ser humano multifacetado que é, que somos todos
(esperançosamente). O resultado foi muito agradável, vale ouvir.
Esta playlist promete o álbum completo:
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