Quando já começa o frenesi pró e contra Olimpíadas, nosso historiador-cronista- desportista-corinthiano fala sobre alguns dos percalços que a autora do livro Atletas Olímpicos Brasileiros encontrou para escrever a alentada obra. Um dos maiores deles? As mentiras de quem disse que foi, mas não foi...
MENTIRAS OLÍMPICAS.
MENTIRAS OLÍMPICAS.
José
Carlos Sebe Bom Meihy
A imprensa não poupou críticas. Aliás, justifica-se a
atitude feroz de quantos gostam de esportes. Explico-me, tudo decorre de
análises do livro Atletas Olímpicos
Brasileiros, de Katia Rubio, especialista em exames do contexto esportivo
brasileiro. O volumoso texto de 646 páginas se justifica no momento em que se
inaugura a temporada da 31ª edição dos Jogos Olímpicos, em 2016. Como chave
capaz de dignificar nossa participação, a obra teria aceitação natural,
justificada pela tiragem de 5 mil exemplares, disposta aos leitores desde o dia
25 de agosto de 2015. Graças, contudo, a motivos alheios e inesperados, a obra
alçou destaque ainda maior, motivado pela notícia de casos curiosos, alguns
pitorescos, outros chocantes, polêmicos e decepcionantes. Todos, porém,
desafiadores de entendimento e juízo da crítica esportiva.
A intenção inicial de Rubio,
remetia à reunião dos perfis dos nossos atletas, desde a primeira participação
olímpica em 1920 na Bélgica. No total, tratar-se-ia de um conjunto de 1796
micro- histórias compiladas, resultado acumulado de cerca de 15 anos de
pesquisas. No caso de atletas vivos, a proposta se valeu de entrevistas
gravadas em áudio, constituindo um valioso acervo. O projeto inicial visava a
combinação de informações factuais - registros de datas, locais, trajetórias e
desdobramentos pós-participação – elementos que foram agrupados segundo cada
modalidade. Em relatos sobre o que chamou de making of, várias situações reveladas durante as entrevistas se
mostraram inusitadas. Entre tantas, vale destacar o caso de uma pessoa que se
passou por outra para descrever a saga alheia, assim Rubio se expressou em
comentário “esse caso emblemático nos colocou diante dessa humanidade
imperfeita que somos, que mobiliza a imperfeição pelo desejo não realizado de
algo”. Na continuidade dos argumentos, outro caso despontou e foi assim
narrado: “Uma semana antes do lançamento do livro, checando a lista de
olímpicos e convidados quase desfaleci quando acusamos uma convidada cujo
verbete não constava do livro... ao buscar nossos consultores daquela
modalidade veio enfim o veredito: a atleta participou de toda a preparação,
inclusive dos pré-olímpicos, mas no último corte, em duas edições olímpicas,
ela ficou de fora da seleção.” Mas, estas não foram as únicas e nem as mais
complexas situações críticas que compuseram a experiência do livro. Pelo
contrário, problemas maiores despontaram projetando o livro no cenário crítico
que trança tratamento metodológico que abrange as áreas de história oral,
direito, filosofia. Diria que a ética
funcionou como denominador comum a todos os lances que afinal, implicaram, de
forma cabal, dois atletas, ambos da modalidade natação.
O primeiro caso surgido foi de José Claudio
dos Santos, Zequinha que nunca foi às Olimpíadas, apesar das declarações
afirmativas. Entre outros, em três dos mais conhecidos blogs esportivos, a
questão apareceu em sequência, apontando a gravidade do problema. O caso do Zequinha não foi o único, e nem o mais alarmante. Outro ainda
mais grave e consequente ocorreu em função do nome de Christiane Paquelet, ex-atleta
que ocupava, nada mais nada menos, que o cargo de Diretora Cultural do Comitê
Olímpico do Brasil (COB). Exatamente por ser representante de setor responsável
pela organização documental da memória do evento, museóloga há mais de duas
décadas atuando no COB, este episódio ganhou largura exemplar, sendo que,
inclusive, ela, depois que o caso veio à público, foi forçada a pedir demissão,
quebrado assim o vínculo com a instituição. Antes, porém, a história foi fermentada com
lances reveladores de que a ex-nadadora carioca, que na ocasião, em 1972, teria
apenas 16 anos, não participara da edição de Munique. A razão alegada para o corte
pré-olímpico teria sido uma lesão, ocorrida pouco antes da definição oficial da
lista de participantes. O alerta da não-presença do nome de Paquelet no rol daquela
equipe Olímpica brasileira foi denunciado por integrantes - Lucy Burle,
Christina Bassani Teixeira e Maria Isabel Vieira –, fato que levou Rubio a
verificação nos arquivos de onde concluiu pela confirmação do registro da
entrevista, gravada e autorizada. A ratificação da notícia e seu desmentido
chocou sobremaneira a opinião pública e pôs os analistas esportivos em campo
crítico. O grande choque, porém, é: há atenuantes, pois além da verdade, essas
mentiras olímpicas se explicam pela frustração. Pensemos.
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