quarta-feira, 4 de novembro de 2015

CONTANDO A VIDA 130

Quando já começa o frenesi pró e contra Olimpíadas, nosso historiador-cronista- desportista-corinthiano fala sobre alguns dos percalços que a autora do livro Atletas Olímpicos Brasileiros encontrou para escrever a alentada obra. Um dos maiores deles? As mentiras de quem disse que foi, mas não foi...

MENTIRAS OLÍMPICAS.

José Carlos Sebe Bom Meihy

A imprensa não poupou críticas. Aliás, justifica-se a atitude feroz de quantos gostam de esportes. Explico-me, tudo decorre de análises do livro Atletas Olímpicos Brasileiros, de Katia Rubio, especialista em exames do contexto esportivo brasileiro. O volumoso texto de 646 páginas se justifica no momento em que se inaugura a temporada da 31ª edição dos Jogos Olímpicos, em 2016. Como chave capaz de dignificar nossa participação, a obra teria aceitação natural, justificada pela tiragem de 5 mil exemplares, disposta aos leitores desde o dia 25 de agosto de 2015. Graças, contudo, a motivos alheios e inesperados, a obra alçou destaque ainda maior, motivado pela notícia de casos curiosos, alguns pitorescos, outros chocantes, polêmicos e decepcionantes. Todos, porém, desafiadores de entendimento e juízo da crítica esportiva.
A intenção inicial de Rubio, remetia à reunião dos perfis dos nossos atletas, desde a primeira participação olímpica em 1920 na Bélgica. No total, tratar-se-ia de um conjunto de 1796 micro- histórias compiladas, resultado acumulado de cerca de 15 anos de pesquisas. No caso de atletas vivos, a proposta se valeu de entrevistas gravadas em áudio, constituindo um valioso acervo. O projeto inicial visava a combinação de informações factuais - registros de datas, locais, trajetórias e desdobramentos pós-participação – elementos que foram agrupados segundo cada modalidade. Em relatos sobre o que chamou de making of, várias situações reveladas durante as entrevistas se mostraram inusitadas. Entre tantas, vale destacar o caso de uma pessoa que se passou por outra para descrever a saga alheia, assim Rubio se expressou em comentário “esse caso emblemático nos colocou diante dessa humanidade imperfeita que somos, que mobiliza a imperfeição pelo desejo não realizado de algo”. Na continuidade dos argumentos, outro caso despontou e foi assim narrado: “Uma semana antes do lançamento do livro, checando a lista de olímpicos e convidados quase desfaleci quando acusamos uma convidada cujo verbete não constava do livro... ao buscar nossos consultores daquela modalidade veio enfim o veredito: a atleta participou de toda a preparação, inclusive dos pré-olímpicos, mas no último corte, em duas edições olímpicas, ela ficou de fora da seleção.” Mas, estas não foram as únicas e nem as mais complexas situações críticas que compuseram a experiência do livro. Pelo contrário, problemas maiores despontaram projetando o livro no cenário crítico que trança tratamento metodológico que abrange as áreas de história oral, direito, filosofia. Diria que a ética funcionou como denominador comum a todos os lances que afinal, implicaram, de forma cabal, dois atletas, ambos da modalidade natação.

O primeiro caso surgido foi de José Claudio dos Santos, Zequinha que nunca foi às Olimpíadas, apesar das declarações afirmativas. Entre outros, em três dos mais conhecidos blogs esportivos, a questão apareceu em sequência, apontando a gravidade do problema. O caso do Zequinha não foi o único, e nem o mais alarmante. Outro ainda mais grave e consequente ocorreu em função do nome de Christiane Paquelet, ex-atleta que ocupava, nada mais nada menos, que o cargo de Diretora Cultural do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Exatamente por ser representante de setor responsável pela organização documental da memória do evento, museóloga há mais de duas décadas atuando no COB, este episódio ganhou largura exemplar, sendo que, inclusive, ela, depois que o caso veio à público, foi forçada a pedir demissão, quebrado assim o vínculo com a instituição. Antes, porém, a história foi fermentada com lances reveladores de que a ex-nadadora carioca, que na ocasião, em 1972, teria apenas 16 anos, não participara da edição de Munique. A razão alegada para o corte pré-olímpico teria sido uma lesão, ocorrida pouco antes da definição oficial da lista de participantes. O alerta da não-presença do nome de Paquelet no rol daquela equipe Olímpica brasileira foi denunciado por integrantes - Lucy Burle, Christina Bassani Teixeira e Maria Isabel Vieira –, fato que levou Rubio a verificação nos arquivos de onde concluiu pela confirmação do registro da entrevista, gravada e autorizada. A ratificação da notícia e seu desmentido chocou sobremaneira a opinião pública e pôs os analistas esportivos em campo crítico. O grande choque, porém, é: há atenuantes, pois além da verdade, essas mentiras olímpicas se explicam pela frustração. Pensemos.

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