Roberto Rillo Bíscaro
Salutar mudar de ares, ver ambientes distintos. Por isso,
gosto de viajar e diversificar o visto nas telinhas e lonas. Como tenho andado
Nordic Noir demais, até produções espanholas escolhidas estavam acinzentadas
pelo frio escandinavo. Por isso, dei um jeitão na fila e passei na frente os 4
episódios com duração de longa-metragem da italiana Il Commissario De
Luca
(2008).
O que chama a atenção na produção da RAI é a esfuziante e
complexa cor local, como diriam os Românticos. Il Commissario De
Luca apresenta 4 casos envolvendo uma década, 1938-48. O
período é fascinante: fascismo, II Guerra Mundial, pós-guerra com luta
eleitoral entre democratas-cristãos e comunistas. Em meio a esse tumulto, o
bigodinho Achile De Luca, cujo calcanhar fraco é acreditar piamente na justiça,
em uma sociedade corrupta e desigual por definição.
Embora os casos sejam distintos, somos apresentados
a fatos e confusões da vida do detetive por crer que a justiça deveria ser
cega, mas insistentemente sendo relembrado que não ocorre assim, seja dentre
fascistas, comunas, democratas-cristãos, grandes cidades, aldeotas. De Luca
quase sempre se ferra, porque a verdade descoberta é inconveniente pralgum
grupo ou poderoso de plantão.
Tamanha insistência na falibilidade e corrupção do
sistema legal, independentemente do partido no poder, não poderia ser
interpretado como incapacidade apriorística do Estado de assegurar e garantir
igualdade a todos, porque no fundo ele existe pra defender/representar uns
poucos? Il Commissario
De Luca – a despeito de todo seu colorido e expansividade latinos –
resultou mais deprê do que o Nordic Noir, onde pelo menos ainda prevalece certo
sentido de justiça e reordenação, reparação do caos.
Mas essa desesperança vem muito bem disfarçada numa
produção detalhada, bem interpretada, dirigida e roteirizada, com tramas
interessantes, mas que têm como ponto alto a tal cor local. Muito interessante
aprender que os fascistas não apertavam as mãos por ser “anti-higiênico” ou que
gravatas-borboletas eram usadas pelos anarquistas ou antifascistas.
A expansividade e a natureza ensolarada e colorida de Il Commissario De
Luca foram bem-vindo interlúdio pra me preparar pro
certeiro frio da terceira temporada de Bron/Broen, pra segunda de Hinterland
(vi o especial de Natal do ano passado, nossa, até eu fiquei passado com a
morbidez) e pra novidade britânica River, com meu amado Stellan Skarsgård.
Nenhum comentário:
Postar um comentário