terça-feira, 24 de novembro de 2015

TELINHA QUENTE 187

Il Commissario De Luca (4 Dvd)
Roberto Rillo Bíscaro

Salutar mudar de ares, ver ambientes distintos. Por isso, gosto de viajar e diversificar o visto nas telinhas e lonas. Como tenho andado Nordic Noir demais, até produções espanholas escolhidas estavam acinzentadas pelo frio escandinavo. Por isso, dei um jeitão na fila e passei na frente os 4 episódios com duração de longa-metragem da italiana Il Commissario De Luca (2008).
O que chama a atenção na produção da RAI é a esfuziante e complexa cor local, como diriam os Românticos. Il Commissario De Luca apresenta 4 casos envolvendo uma década, 1938-48. O período é fascinante: fascismo, II Guerra Mundial, pós-guerra com luta eleitoral entre democratas-cristãos e comunistas. Em meio a esse tumulto, o bigodinho Achile De Luca, cujo calcanhar fraco é acreditar piamente na justiça, em uma sociedade corrupta e desigual por definição.
Embora os casos sejam distintos, somos apresentados a fatos e confusões da vida do detetive por crer que a justiça deveria ser cega, mas insistentemente sendo relembrado que não ocorre assim, seja dentre fascistas, comunas, democratas-cristãos, grandes cidades, aldeotas. De Luca quase sempre se ferra, porque a verdade descoberta é inconveniente pralgum grupo ou poderoso de plantão.
Tamanha insistência na falibilidade e corrupção do sistema legal, independentemente do partido no poder, não poderia ser interpretado como incapacidade apriorística do Estado de assegurar e garantir igualdade a todos, porque no fundo ele existe pra defender/representar uns poucos? Il Commissario De Luca – a despeito de todo seu colorido e expansividade latinos – resultou mais deprê do que o Nordic Noir, onde pelo menos ainda prevalece certo sentido de justiça e reordenação, reparação do caos.
Mas essa desesperança vem muito bem disfarçada numa produção detalhada, bem interpretada, dirigida e roteirizada, com tramas interessantes, mas que têm como ponto alto a tal cor local. Muito interessante aprender que os fascistas não apertavam as mãos por ser “anti-higiênico” ou que gravatas-borboletas eram usadas pelos anarquistas ou antifascistas.

A expansividade e a natureza ensolarada e colorida de Il Commissario De Luca foram bem-vindo interlúdio pra me preparar pro certeiro frio da terceira temporada de Bron/Broen, pra segunda de Hinterland (vi o especial de Natal do ano passado, nossa, até eu fiquei passado com a morbidez) e pra novidade britânica River, com meu amado Stellan Skarsgård.

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