Roberto Rillo Bíscaro
ALERTA: ESTA RESENHA REVELA O FIM DO FILME.
Há vários anos, Ricardo Darin é o superastro do cine
argentino. Júlio Chavez pode ser mais versátil e nuançado, mas Darin é quem
comanda sucesso e poder internacionais. Belén Rueda, a estrela de El Orfanato e
Los Ojos de Júlia, é prestigiosa em Espanha, e, por conseguinte, no mundo
hispânico. Juntar os 2 numa co-produção de suspense, gênero que costuma render
boa grana, parecia um sonho de caixa-registradora. Dirigido e roteirizado (se
se pode dizer isso) por Patzi Amezcua, Séptimo (2013) se autodestrói nos dez
minutos finais, depois de dispor de metade dos clichês de gênero.
A premissa é instigante. Sebastián é típico advogado que
defende quem lhe pague bem e está prestes a uma audiência decisiva pra sua
firma de advocacia. Também está protelando pra assinar os papeis do divórcio
que sua esposa espanhola pediu. A gallega
tenciona voltar a Madri com os 2 filhos do casal, pra cuidar do rico papi
moribundo. Quando Sebas vai buscar as crianças pra levá-las à escola, a mulher
adverte-o que não faça o costumeiro joguinho de deixar as crianças descerem
pela escada enquanto ele o faz pelo elevador. Claro que ele não atende o pedido
e no caminho do sétimo andar ao térreo, o casal de filhos desaparece.
Mesmo com roteiro preguiçoso, a curiosidade em saber o
que aconteceu e a atuação de Darin seguram Séptimo por uns 30 minutos. Não é à
toa que é astro; o ator segurou o melhor que pôde uma história cujo suspense é
só o da premissa. A maior parte do tempo ele passa gritando “chicos, chicos,
Luna, Luca!” e desconfiando de um após outro e o edifício, que em hábeis mãos
se transformaria num fascinante microuniverso, nunca é bem aproveitado. E que
raio de prédio de classe média-alta é esse que não tem câmeras de segurança?
Mas, tudo isso seria perdoável e Séptimo mais um
divertimento inconsequente, se não fosse pela reviravolta na trama, um dos
elementos do livro de receitas pra compor um thriller Quando Sebastián descobre onde as crianças ficaram – e
como essa descoberta é feita, mon Dieu! – toda a lógica do enredo rui feito
edifício de cartas. Será que os pequenos são tão débeis-mentais a ponto de não
revelarem o esconderijo ao pai no momento em que o veem? Preguiça a gente até
perdoa, mas insulto à inteligência fica mais difícil
Só pro leitor não perder tempo com Séptimo, dá até
vontade de contar que foi a mãe que engendrou tudo e as crianças simplesmente
estavam num apartamento abaixo, que Sebastián, aliás, já visitara. Que motivo
teria a rica mulher em extorquir grana do ex-marido, que apenas protelava pra
assinar os papéis, não estava irredutível? Sendo boa mãe e com o pai doente,
qualquer juiz não permitiria que fosse com os filhos à Espanha fácil, fácil?
Por que arriscaria ser presa por tamanha bobagem? Qual o motivo de o comissário
de polícia ser cúmplice? Que empregada limpa um apartamento tarde da noite, com
a porta entreaberta? Como uma mulher que arquitetara algo tão malicioso,
desiste tão facilmente, quando confrontada com a verdade, sobre a qual o marido
nem tinha provas, a não ser uma metade de embalagem de comprimido?
Amezcua deve achar que o espectador não questiona o que
vê, embora devamos considerar que os escribas do roteiro não quiseram/puderam
ver os furos da própria “lógica”, então, deve haver quem veja e aceite tudo de
boa.
Como diriam os argentinos, una pelotudez!
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