Roberto Rillo Bíscaro
Os dias de estrela pop de Kylie Minogue acabaram. Não
adianta fã balzaquiano bater pezinho ou fazer biquinho, é fato. O fraco Kiss Me Once vendeu menos de 500 mil cópias mundialmente e em 2012, as versões
orquestrais de seus sucessos em The Abbey Road Sessions já indicavam que a
australiana estava sendo reempacotada pra novo nicho de consumo. Embora não
exclusividade de maduros adaptando-se a novas condições de mercado, álbum de
canções natalinas faz parte desse processo e Minogue deu sua contribuição ao
extenso filão com Kylie Christmas, lançado na primeira quinzena de novembro.
A Deluxe Edition tem 16 canções, entre regravações e
originais e no geral a performance vocal
é boa, desde o tom alegre até o sapeca de quando pede coisas caras a Papai
Noel. O pior momento é o dueto tecnologicamente fabricado com Frank Sinatra, em
Santa Claus Is Coming to Town, onde parece que ela fica meio acanhada quando
canta junto com um Blue Eyes cuja voz parece vinda do além.
O grosso das regravações é
de clássicos, como Winter Wonderland, Let It Snow e Have Yourself a Merry
Little Christmas. Grande parte de Kylie Christmas soa como um filme natalino de
Hollywood dos anos 40 ou 50. It’s The Most Wonderful Time of the Year abre tão
otimistamente que dá até sensação de culpa não conseguir se sentir tão ansioso
pelo Natal como o arranjo suplica. E é assim quase todo o tempo. Quando não é
arranjo de big band, é roquinho tchap
tchura cinquentista (I’m Gonna Be Warm This Winter) ou jazzinho sexy, como em
Santa Baby, regravação do original de Eartha Kitt. Mas é meio estranho alguém
pedir um conversível 1954, em pleno 2015. Aí um dos problemas do álbum: a qual
nicho La Minogue quer pertencer? Quem cresceu ouvindo seus sucessos não se
identifica tanto assim com flashback
anos 50, afinal, pra nós, oldies são
as dos anos 80. E um 60tão/70ão trocará alguma das trocentas versões dos anos
40/50/60 dessas canções, por uma de Kylie? Duvido. E os jovens? Esses nem sabem
do álbum; basta checar o Top Ten britânico.
Tenteando para ver qual lado seguir, a cantora vem com 3
covers oitentistas. Kylie é experiente vocalista e não faz feio no delicado
arranjo para 2000 Miles, dos Pretenders. Only You, a maravilha do Yazoo, ficou
linda ao piano e teria sido ainda melhor se não tivesse o cantar mortiço do
apresentador de TV James Corden. Christmas Wrapping ficou mais anos 80 do que
originalmente com o The Waitresses, que felizmente nunca foi grande no Brasil.
Bonitinha, mas ordinária, a faixa tem Iggy Pop, mais babaca do que nunca. Ele
já falara asneira no álbum da New Order e pode ser encontrado em qualquer
documentário sobre música que a BBC produz; está ficando meio constrangedor.
Mas, vá lá, Xmas Wrapping vale como diversão para quando todo mundo estiver
meio alto na festança. Talvez um álbum de covers dos anos 80 seja boa ideia
para o futuro de Kylie.
Sendo Kylie Kylie, não poderia faltar novidade e essas
vêm na forma de uma canção inédita de Chris Martin. Every Day’s Like Christmas
é fofa até o talo e de presente, vem sem a voz do líder do Coldplay. A versão
de luxo traz um dueto com a irmã Danii; 100 Degrees é Natal em ritmo de disco music. Pena que Kylie não deixou
de lado esses anos 50 e não se jogou num Natal eletrônico, não necessariamente
caretão como 100 Degrees, que, se não é ruim, podia ser mais, afinal tem as
irmãs Minogue no vocal e elas sabem apimentar as pistas.
Quem sabe Kylie Christmas
não aguentaria ouvidas repetidas e entraria para a História se tivesse sido um
álbum de Natal electrodance? Do jeito
que está, é gostoso de ouvir, mas em meados de janeiro já estará esquecido.
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