Roberto Rillo Bíscaro
Jean Luc Ponty é um violinista francês que nos anos 70
ajudou a popularizar o jazz rock, fusão entre os 2 gêneros, que teve importante
marco com o álbum Miles in the Sky (1968), de Miles Davis, embora registros já
existissem na Inglaterra sessentista. Jon Anderson foi vocalista do Yes em suas
melhores encarnações. Os 2 tencionavam trabalhar juntos desde os anos 80, mas a
parceria concretizou-se apenas ano passado com a The Anderson-Ponty Band.
Distantes do interesse de mercado das grandes gravadoras,
os 70tões apresentaram o projeto à Kickstarter, empresa norte-americana
especializada em crowdfunding, e o resultado pudemos comprovar em setembro, com
o lançamento do CD/DVD Better Late Than Never. Quem compareceu à Wheeler Opera
House, na chique Aspen, Colorado, em setembro do ano passado, comprovou antes a
boa qualidade do trabalho dos veteranos e da experta banda que reuniram. O CD
(esta resenha é sobre ele apenas) foi gravado ao vivo na ocasião.
Não é incomum decepcionar-se, quando artistas de alto
calibre se reúnem, porque expectativas irrealistas são construídas. Não é o
caso de Better Late Than Never. Só se desapontará quem esperar uma orgia prog
sinfônica: o álbum tem forte influência jazzística, mas não é prog no sentido
do que menos avisados esperariam de um ex-Yes. Também não é jazz. Trata-se de
música com várias influências, que agradará até a fãs de MPB estilo Milton
Nascimento. É uma festa de boa música.
O álbum tem canções de Ponty, do Yes, de Anderson-solo e
composições da dupla para o projeto. No caso das do instrumental Ponty,
Anderson acrescentou suas letras New Age de autoconhecimento e poder do amor e
do indivíduo. É o caso de One in the Rhythm of Hope e de Mirage, que nos 80’s
servia de música de fundo para quase qualquer coisa. Ela se transformou em
Infinity Mirage e está mais orgânica do que o sintetizado original, e, emendada
com Soul Eternal, que tem uma levada bastante comum em alguns ritmos
nordestinos, reiterando que matrizes culturais viajam e purismos são bobagem.
Uma das diversões é identificar o que é de quem, como na
Intro, com suas citações a Infinite Pursuit, do francês e And You and I, do
ex-grupo do inglês. E a faixa do perfeito Close to the Edge volta mais tarde, bem
concisa, folk e com lindo piano granulado.
As releituras das canções do Yes não desrespeitam a
majestade dos originais. Talvez puristas reclamem da transformação de Time and
a Word em reggae rasgado, mas embora esteja garantido o direito de se preferir
a versão do LP de 1970, a levada Bob Marley ficou boa e mais apropriada ao tipo
de trabalho e aos tempos de hoje. Owner of a Lonely Heart colocou o violino no
papel da guitarra e Ponty esmerilha, como também em Roundabout, tão delirante
quanto a versão de Fragile, mas distinta.
Ainda em excelente forma, Anderson e Ponty lograram um
excelente trabalho. Como reza o título, Antes Tarde do que Nunca.
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