segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

CAIXA DE MÚSICA 198


Roberto Rillo Bíscaro

Redutoramente rotulada como a nova Karen Carpenter, Rumer é muito mais do que mera cópia, como a alcunha pode sugerir. A cantora dos ótimos Seasons of My Soul e Into Colour voltou em meados de dezembro com o EP Love is the Answer, onde tasca 4 excelentes releituras.
A faixa-título é soft rock à Hall and Oates, que deixa o original de Todd Rundgren pra trás. Por falar em Hall & Oates, eles são relidos em I Can’t Go For That (No Can Do). Impossível não comparar com a também fofa regravação pelo The Bird and The Bee. A diferença é que a tônica do grupo de Los Angeles foi numa sonoridade synth começo dos 80’s, e Rumer invoca o easy listening setentista. Dá pra amar as 2 igualmente. A leveza de Being At War With Each Other, de Carole King, fará a empostada e gritada versão de Barbra Streisand parecer alguma variante do metal e Be Thankful for What You Got continua o R’n’B deslizante como o original de William de Vaughn, mas menos enjoativa no final, porque no arranjo de Rumer mais coisas acontecem. 
Já que Rumer está na roda, falemos de B Sides & Rarities, lançado há alguns meses. Como o nome indica é material que normalmente fica de fora de álbuns oficiais, mas que fãs dedicados vendem rim pra conseguir. A despeito do caráter “feito pra completistas”, o álbum satisfará qualquer um que amar música suave de matriz anos 70, estilo easy listening. Rumer tem a incrível capacidade de transformar em seu e relevante canções de distintas eras, mesmo que já gravadas trocentas vezes, caso de Here Comes the Sun, que põe até resenhista albino saudando o astro-rei! E Moonriver fica mais delicada ainda sem orquestra.
A anglo-paquistanesa pegou estandartes da música romântica oitentista e apropriou-se deles, com sua voz cristalina e articulação límpida das letras. E tem que amar muito easy listening pra cantar sem ironia pós-moderna versos tipo “the canvas can do miracles” ou “I’ve been passing time watching trains go by”, respectivamente de Sailing e It Might Be You, respectivamente de Christopher Cross e Stephen Bishop. Cada um aparece 2 vezes no álbum; Bishop inclusive dueta com Rumer em Separate Lives, que no original tinha Phil Collins no vocal masculino. Cross aparece também em Arthur’s Theme, cocriada com Mestre Burt Bacharach.
Burt...meu teste de fogo com qualquer cantor(a) que se aventure no sagrado. Não restou dúvida; Rumer devia urgentemente organizar um álbum só de regravações do Mestre. Ela reapropriou Arthur’s Theme, mas, manteve arranjos tipicamente bacharachianos em Alfie e Halsbrook Highs, esta até com discreta participação sussurrada de Dione Warwick, e em ambas as modalidades a moça emociona.
Até a material próprio Rumer deu roupagem nova, como na disco Dangerous, que virou bossa nova super Basia. No caso de outros artistas as transformações são notáveis. O reggae de Soul Rebel (Bob Marley and the Wailers) ganhou inflexões country de trilha de western; o blues rasgado de Long Long Day (Paul Simon) só manteve a bluezice no pistão. Tudo vira soft rock ou easy listening quando cai nas mãos de Rumer. E fica tudo muito bom.

Rumer não é a nova Karen Carpenter; é Rumer mesmo, mas duma coisa tenhamos certeza: lá do Paraíso, Karen entoa hosanas pra ela. 

Um comentário:

  1. Ouvir essa moça linda, me fez fundir presente e passado, se olho para ela vejo uma linda e talentosa cantora. Se fecho os olhos, viajo aos anos 70 e lembro da minha adolescência, regada por esses rits. Valeu amigão por nos trazer essa preciosidade.

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