terça-feira, 8 de dezembro de 2015

TELINHA QUENTE 189

Roberto Rillo Bíscaro

No Romantismo encontramos como um dos traços fundantes a cor local, a saber, o uso de características específicas de cada ambiente nas obras. Ao invés do generalismo clássico, a particularização; daí a introdução de índios e moreninhas cariocas em nossas letras.
Quando o assunto é série de detetive, às vezes, a cor local é o que dá mais interesse, como em Il Commissario De Luca, que, não tem histórias ruins, mas sobressai pela ambientação na Itália imediatamente pré/pós- Segunda Guerra. Se não fosse por isso, seria apenas mais um show. A galesa Y Gwyll é ponto fora da curva, por unir a novidade da cor local com histórias e produção acima da média.
Como gostei imenso da temporada um (resenha aqui), não esperei que a BBC exibisse a versão em inglês, chamada Hinterland. Já que era pra desfrutar da cor local, vi os 8 capítulos em galês, legendados em inglês, como exibidos pelo canal S4C. Espera mesmo, só pra ver o especial de Ano Novo, resultado do sucesso algo inesperado desse Celtic Noir. Não estava a fim de fazer postagem só sobre ele, daí, emendei com a temporada segunda.
Com duração de longa-metragem, não consigo pensar num programa menos recomendável pro espírito de esperança suscitado pelo começo do ano. Nada a ver com qualidade; amei devocionalmente, mas a história é tão sombria e o clima da produção tão gélido e lento, com sua horripilante história de criança queimada e suicídio, que os mais impressionáveis podem não encontrar motivos pra enfrentar os demais 364 dias do ano.
A cor local de Y Gwyll – filmado no meio rural do País de Gales – é ocre, cinza, o sol quase nunca brilha e quando o faz, é opaco, comparado com nosso estrondo tropical. Vento, frio e chuva comandam vestuários grossos, personagens com melanina quase zero. E bem ao estilo mórbido Romântico, o estado de espírito das personagens ressoa o ambiente; todo mundo é soturno e muito econômico em sorrisos.
Também não é pra menos, as 4 histórias de Y Gwyll envolvem feudos, segredos e ressentimentos que desintegram vidas e famílias. O perverso diferencial da série é que os dramas sejam tão orgânicos: a angústia e fracasso das personagens são tão palpáveis como a terra e a vegetação, há algo de minissaga em Y Gwyll, o que não surpreende, uma vez que a série tem forte ligação com Nordic Noir.
DCI Tom Mathias continua mais deprimido que nunca e o especial de Ano Novo esclareceu o porquê desse coraçãozinho tão desolado. DI Mared Rhys merecia mais espaço no setor pessoal; sabemos que o relacionamento com a filha adolescente é ruim, mas fora isso, ela não tem vida. Esperemos que a já confirmada temporada 3 resolva isso. Outra coisa que incomodou foi a retomada dum obscuro personagem vingativo do primeiro episódio da temporada inicial. Ele renderá sub-trama, mas até agora só atrapalhou o andamento dos episódios finais da temporada 2 e quando chegar a 3 – só ano que vem – já teremos esquecido até essa intromissão; tudo terá que nos ser recordado. A não ser que haja outro especial de Ano Novo em 2016, esperemos.

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