Roberto Rillo Bíscaro
No Romantismo encontramos como um dos traços fundantes a
cor local, a saber, o uso de características específicas de cada ambiente nas
obras. Ao invés do generalismo clássico, a particularização; daí a introdução
de índios e moreninhas cariocas em nossas letras.
Quando o assunto é série de detetive, às vezes, a cor
local é o que dá mais interesse, como em Il Commissario De Luca, que, não tem
histórias ruins, mas sobressai pela ambientação na Itália imediatamente
pré/pós- Segunda Guerra. Se não fosse por isso, seria apenas mais um show. A
galesa Y Gwyll é ponto fora da curva, por unir a novidade da cor local com
histórias e produção acima da média.
Como gostei imenso da temporada um (resenha aqui), não
esperei que a BBC exibisse a versão em inglês, chamada Hinterland. Já que era pra desfrutar da cor
local, vi os 8 capítulos em galês, legendados em inglês, como exibidos pelo
canal S4C. Espera mesmo, só pra ver o especial de Ano Novo, resultado do
sucesso algo inesperado desse Celtic Noir. Não estava a fim de fazer postagem
só sobre ele, daí, emendei com a temporada segunda.
Com duração de longa-metragem, não consigo pensar num
programa menos recomendável pro espírito de esperança suscitado pelo começo do
ano. Nada a ver com qualidade; amei devocionalmente, mas a história é tão
sombria e o clima da produção tão gélido e lento, com sua horripilante história
de criança queimada e suicídio, que os mais impressionáveis podem não encontrar
motivos pra enfrentar os demais 364 dias do ano.
A cor local de Y Gwyll – filmado no meio rural do País de
Gales – é ocre, cinza, o sol quase nunca brilha e quando o faz, é opaco, comparado
com nosso estrondo tropical. Vento, frio e chuva comandam vestuários grossos,
personagens com melanina quase zero. E bem ao estilo mórbido Romântico, o
estado de espírito das personagens ressoa o ambiente; todo mundo é soturno e
muito econômico em sorrisos.
Também não é pra menos, as 4 histórias de Y Gwyll
envolvem feudos, segredos e ressentimentos que desintegram vidas e famílias. O
perverso diferencial da série é que os dramas sejam tão orgânicos: a angústia e
fracasso das personagens são tão palpáveis como a terra e a vegetação, há algo
de minissaga em Y Gwyll, o que não surpreende, uma vez que a série tem forte
ligação com Nordic Noir.
DCI Tom Mathias continua
mais deprimido que nunca e o especial de Ano Novo esclareceu o porquê desse
coraçãozinho tão desolado. DI Mared Rhys
merecia mais espaço no setor pessoal; sabemos que o relacionamento com a filha
adolescente é ruim, mas fora isso, ela não tem vida. Esperemos que a já
confirmada temporada 3 resolva isso. Outra coisa que incomodou foi a retomada
dum obscuro personagem vingativo do primeiro episódio da temporada inicial. Ele
renderá sub-trama, mas até agora só atrapalhou o andamento dos episódios finais
da temporada 2 e quando chegar a 3 – só ano que vem – já teremos esquecido até
essa intromissão; tudo terá que nos ser recordado. A não ser que haja outro
especial de Ano Novo em 2016, esperemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário