Roberto Rillo Bíscaro
O sucesso do Nordic Noir abriu os olhos de parte do mundo
pra produção televisiva escandinava. Claro que a Escandinávia produzira TV de
boa qualidade antes de Forbrydelsen – leia resenha sobre Matador, por exemplo –
mas foi a detetive-inspetora Sara Lund que nos escancarou essa porta
perceptiva. O termo mostrou-se inepto pra descrever produtos como Borgen.
Assim, também passou a usar-se o bem mais amplo Scandi Drama. Pra não me
confinar ao Nordic Noir, tenho tentado Scandi Dramas também.
A minissérie em 8 capítulos Halvbroren (2013) baseia-se
no romance homônimo de Lars Saabye
Christensen
e é sobre questões de identidade pessoal e familiar atravessando décadas, desde
os anos 30 até meus amados 80’s. A Globosat exibe nesse momento a minissérie,
aos sábados à noite, sob o nome O Bastardo.
No dia da
libertação nazista, a linda e loiríssima Vera sobe ao sótão pra estender roupas
e é abusada sexualmente, resultando no filho Fred. Eventualmente, a moça se
casa com um tipo misterioso, que quer dar uma de ianque, e tem outro rebento,
Barnum. O relacionamento dos meio-irmãos (daí o título) ocupa boa parte da
trama, que flutua entre as diversas décadas, iluminando as trajetórias de todas
as personagens principais. Bastante complexo e muito bem produzido, um primor
de figurino, iluminação, caracterizações. O ator-mirim que faz Barnum me
lembrou o Kevin Arnold, de Anos Incríveis.
Como diversas
idades e ambos os gêneros ganham destaque, a riqueza de experiências e pontos
de vista torna Halvbroren bastante interessante e há um pouco pra quase todos
os gostos do espectro do drama: (meio-) irmão desaparecido, intriga familiar e
bastante do que se chama em inglês Coming of Age film, narrativas que abordam a
passagem da infância pra maturidade. Há até laivos cômicos, mas bem
parcimoniosos, porque é uma produção norueguesa, afinal. De qualquer modo, o
drama também não é lacrimejante; alguns até o acusariam de formal demais.
Nos capítulos
finais, o roteiro comete 2 ou 3 arbitrariedades irritantes, especialmente pelo
modo como a revelação final é resolvida, confiando demais numa espécie de
“telepatia” das personagens, que sacam a verdade meio do nada. Sem contar numa
visita a uma cabana quase destelhada, mas que provou ser ambiente propício prum
antigo bilhete permanecer quase intacto sobre uma mesa. Duro de engolir e tira
alguma credibilidade da minissérie, que, mesmo assim, serve pra quem quer
alargar seu painel televisivo.
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