Roberto Rillo Bíscaro
Um casal que perde um filho e decide se mudar da cidade
grande pra recomeçar numa grande casa remota e de preço baixo demais, num vilarejo
onde os residentes têm cara hostil é uma daquelas clássicas péssimas ideias de
protagonistas de filmes de horror, que alimenta o gênero há décadas. Largar
empregos, rede de amigos, possibilidade de apoio profissional pra se isolar do
mundo certamente deve ajudar muito no processo de luto e sua superação. Asneira
ou não, fãs de filmes de casa mal assombrada vibram com essa escolha, porque
resulta em sustos e diversão.
É o caso de We Are Still Here (2015), roteirizado e
dirigido pelo estreante Ted Geoghegan, outro nome em que precisamos prestar
atenção. O filme retrô – recomendo pra quem curtiu The House of Devil – padece
dalguma irregularidade no ritmo e um par de circunstâncias nebulosas, mas
deveria constar de qualquer lista dos melhores do ano, pelo clima e pela
criação de potencial nova mitologia, que pode render sequência(s).
A casa situada na Nova Inglaterra – carregada
simbolicamente com o peso do puritanismo, intolerância religiosa, repressão
sexual, caça às bruxas – tem um passado asqueroso, revelado ao casal
protagonista por um vizinho, que de cara, sabemos ter envolvimento com o
negócio. De início, a esposa pensa que o filho falecido acompanhou-os à nova
casa, mas a verdade provará ser (literalmente) bem mais abrasadora.
We Are Still Here usa diversas convenções dos antigos
filmes de casa mal assombrada/possessão demoníaca. Ambientado em 1979 - daí a ausência de celulares e Google pra pesquisar
sobre o passado do imóvel – até a escolha temporal é meio referência a
produções citadas, como O Iluminado, The Changeling, O Bebê de Rosemary e,
claro, O Exorcista, pra nomear apenas alguns norte-americanos.
Mas, o filme não é mera masturbação de caça às
referências. Os 2 primeiros atos lentos e silenciosos realçam o estouro gore do terceiro. É tudo tão bem feito
que dá pra não perceber o desnível de ritmo e alguns “vazios” narrativos e de
lógica.
As locações invernais, os filtros utilizados na filmagem
a até o elenco contribuem pro charme setentista. Nada de desconhecidos
20/30tões se passando por adolescentes. O elenco de We Are Still Here é
predominantemente de meia-idade e seus rostos são perenes em fitas de horror,
então, a sensação é estar vendo uma daquelas velhas produções. Nada contra
palavrões, mas nesse caso, as n variações de “fuck” destoam do clima vintage. Não que no passado as pessoas
tivessem as bocas mais limpas; mas o diálogo de cine não registrava o baixo
calão.
E que grata surpresa ver o octogenário Monte Markham como
o vizinho “do diabo”! Ele foi um dos amantes de Sue Ellen Ewing em DALLAS e o
irmão gay de Blanche Deverroux, em Super Gatas, isso pra mencionar apenas o que
tenho certeza já ter apontado no blog.
Se você procura uma produção que cozinha ao fogo lento como
muitos horrores de outrora, We Are Still Here foi feito pra você. Gostei
demais.
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