Roberto Rillo Bíscaro
O material principal das resenhas de tele e cine é
bastante taciturno, porque assisto muito a drama, policial noir, horror, sci fi distópico
e outras depressividades. Outro dia deu vontade de ver comédia – raro,
raríssimo – mas não queria essas sucesso de bilheteria, então fui vasculhar o
Google. Se há torrent, usemo-lo pra
fugir do local comum; esse é meu lema. Li sobre uma comédia adolescente gay,
chamada GBF (2013), no Brasil, Melhor Amigo Gay. Desconheço se foi exitosa ou
largamente popular, mas o tema me chamou a atenção pela potencial inversão de
alguns estereótipos. Dei-lhe chance e o filme é bem simpático.
GBF abrevia a expressão Gay Best Friend, aquele melhor
amigo homossexual que diversas mulheres têm. Antigamente usavam-se termos como fag hag pras que andavam com gays; em
termos semânticos as coisas estão melhorando. O filme centra-se num grupo de
secundaristas prestes a se formar. A escola é socialmente dominada por 3
beldades, que vivem em paz armada; aquela velha narrativa que cansamos de ver
em produções ianques: a escola é dominada e dividida por garotas populares e
capitães dos times de futebol e quem não se encaixa fica no ostracismo e/ou
sofre pra burro.
Só que em GBF, as 3 princesinhas buscam por um melhor
amigo gay, porque está na moda ter um. Graças a uma confusão devido a um app de paquera em celulares, elas – e
consequentemente a escola toda – descobrem Tanner, que não atende a quase
nenhum estereótipo comumente atribuído a gays: não entende de moda, não curte
divar ou holofotagem, enfim, é um garoto “normal”. Quem ama tudo isso é seu
melhor amigo, Brent Van Camp, que se melindra, porque repentinamente Tanner
passa a ser o centro das atenções e, sob a proteção das 3 meninas, navega
razoavelmente tranquilo pelo agitado mar da High School. Mas, a tensão aumenta,
porque ao mesmo tempo que a rivalidade entre os 2 ex-amigos cresce, Tanner saca
que por trás da guerra das meninas, pode não residir aceitação de sua
sexualidade, mas apenas a obtenção de uma bichinha de estimação.
GBF está longe de se tornar comédia clássica; há várias
piadas bem fracas, aliás, mas a graça reside na colocação de algumas situações
sob a chave da quase paródia, questionando-as e revelando sua falta de sentido,
como quando por puro despeito o pintoso Brent se coliga com um grupo antigay
pra realizar um baile de formatura “livre de homossexuais” ou quando a facção
“inclusiva” de Tanner recusa admissão na formatura aos alunos não fashionistas.
O filme é social e tematicamente relevante sem ser
elaborado; o tema fala muito por si só. A fórmula é a mesma de tantas comédias teens, onde no final – referência morna
à Carrie, a Estranha (1976) – tudo acaba em aceitação e inclusão. Quem vê esses
filmes ou certas séries imagina que nos EUA os gays podem sair divando sem problema. Choque de realidade: embora GBF só apresente beijos gays – coisa que qualquer filme infantil
hétero pode ter – ganhou um R, de Restrito, pela “censura” ianque. Não há
nudez, não há “fuck” ou derivados; acho que nem “shit”, mesmo assim não é pro
“público geral”.
Também nem todo o elenco é tão bom, mas a música é uma
delícia. Quem curtiu synth pop
oitentista não deverá ter problema com o electro ou as divas bem pós-Madonna da
trilha, que tem o brasileiro Cansei de Ser Sexy, lá fora conhecido como CSS. E
embora não esteja no CD lançado pela Lakeshore Records, atente pro cover de
True, do Spandau Ballet que toca na formatura.
Já matei minha vontade de ver comédia e até recomendo
pruns 90 minutos de diversão e até reflexão, mas já volvi a meu usual planeta
cinzento com filmes de possessão demoníaca e serial killer belga, porque doçura demais dá cárie.
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