Roberto Rillo Bíscaro
Dan Balis e Eugene Cho se conheceram numa universidade e
desde o início do milênio lançavam singles no mercado underground de house, ou
seja, começo de carreira/parceria bastante comum no mundo da dance music. Incomum foi reunirem um
coletivo de mais de 15 pessoas pra tocar ao vivo, como na época áurea das
discotecas, na segunda metade dos 70’s. Numa época, quando qualquer som pode
ser baixado da internet, o Escort cuidadosamente recria cada virada, cada
barulhinho, cada sequência, cada maneirismo da era Studio 54, templo disco nova-iorquino, não por acaso,
cidade onde o grupo está sediado. O Escort pode ser retrô, mas faz parte duma
cena eletrônica/dançável que deu ao mundo muito do que de mais moderno existe
em beats & bites.
Já com sólida reputação de ser mortífera ao vivo, a banda
estreou em LP com o autoproduzido, autolançado e homônimo álbum de 2011. São 11
faixas muito funkeadas, mas provavelmente soem longas demais aos não iniciados,
pelas repetições em algumas faixas, como na final Karawane, fatal com suas
referências a Soul Makossa, mas meio cansativa se você não estiver dançando.
Chameleon, Chameleon tem teclado da época em que Afrika
Bambaataa imperava influenciado por Tour de France, do Kraftwerk; Starlight tem
teclado superelectrofunk, daqueles que Jocelyn Brown usaria no início dos 80’s
e George Michael copiaria nalgum de seus hits;
All Through the Night tem aquela guitarrinha apimentada que o INXS
popularizaria nalgum de seus sucessos. Escort funciona assim: é o tipo de
música consumida por público muito especifico nos fins dos 70’s/começo dos 80’s
e depois popularizada/diluída por grandes astros mainstream antenados no underground,
tipo Madonna. Até a escolha das drogas é vintage:
cocaína era a droga da moda na “década do eu”, então o que dizer de Cocaine
Blues com sua vibe Andrea True
Connection e os versos “cocaine running
around my brain”. Álbum perfeito pra saudosistas de Odissey e similares.
Essa playlist promete-o na íntegra:
Em meados de novembro, Escort lançou seu segundo álbum,
que mantém o caráter retrô de disco
setentista/eletrofunk oitentista, com Adeline Michèle divando nos vocais, mas a
produção é mais polida e acessível, como se o combo quisesse fazer mais gente
dançar. E que benvinda essa mainstreanização do som; Animal Nature é
absolutamente delicioso e 100% aproveitável, embora eu esteja me referindo
apenas à dezena de inéditas e não aos 9 remixes acrescentados; indicados pra clubbers mais radicais.
A abertura Body Talk parece que foi gravada no auge da acid house em fins dos 80’s, mas
tentando emular a sonoridade do começo da década; preste atenção ao piano e aos
vocais. Parece que cada instrumento foi tirado duma canção/convenção. Na
pós-modernidade recriar significa literalmente criar com precisão cirúrgica;
realidade virtual? Delícia, deixa eu dançar e volto pra continuar a resenha.
Como ficar quieto em If You Say So, com aquela batida
Doobie Brothers, vocal Love Unlimited/Sister Sledge e teclado esparsamente
frio? Animal Nature é funk sintetizado só possível após Giorgio Moroder, a quem
paga tributo. My Life é puro Chic trabalhando com Diana Ross. I’m coming out, epa, I can live my life, my life! Actor Out
Of Work usa elementos de Japanese Boy (1981), sucesso trash da escocesa Aneka, que misturava Kate Bush com Blondie. Mas
não precisa caçar influências ou ser arqueólogo pop pra curtir o Escort. Basta
se jogar no impiedoso batidão estroboscópico de Cabaret ou constatar como ao
vivo o combo arrasa quarteirões em Dancer.
Começo de ano sempre vem tingido de esperanças. Pra
manter o espírito em alta, sugiro Animal Nature com muita força e feliz 2016!
Essa playlist promete tudo, até os remixes:
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