Roberto Rillo Bíscaro
Terri Lyne Carrington é respeitada e tarimbada no circuito
jazzístico. Já tocou com meio mundo que importa e faturou 3 Grammys, um deles
em 2011, pelo álbum The Mosaic Project, que reuniu Cassandra Wilson, Dee Dee
Bridgewater a princeana Sheila E e outras.
A baterista colheu tantos louros, que em agosto lançou The
Mosaic Project: Love And Soul, com divas rhythm’n’blues
interpretando dúzia de canções. Na verdade, 11, porque Carrington canta no
samba-jazz Can’t Resist. Ficou chique, mas ela não é diva soul, é grande
instrumentista e produtora. Não surpreendentemente, quase tudo vem embebido em
jazz e o resultado é muito bom. Tradicionalistas poderiam acusar The Mosaic
Project: Love and Sould de polido demais. Mas, pra ouvir em momentos românticos
e/ou relaxantes, é uma delícia de urban
soul.
A grande novidade vem logo na abertura, com a devocional
Come Sunday, de Duke Ellington, ganhando base drum’n’bass na voz da há pouco falecida Natalie Cole, que canta com
fraseado jazzístico. Depois disso, não há rompantes “revolucionários”, mas a
qualidade das interpretações não cai. A grande Chaka Khan arrasa no jazz soul I’m a Fool to Want You. Oleta
Adams, que no fim dos 80’s ganhou fama pelo dueto com os Tears For Fears, dá
sua qualidade característica à quiet
storm de For You to Love. A quase octogenária e venerável Nancy Wilson
aveluda na deslizante Imagine This. A já resenhada no blog Lizz Wright conclui
o álbum com o seu grave na balada soul When I Found You, salpicada de sax de
jazz. E não é só de voz negra que vive o soul; a branquela Paula Cole prova
isso na doída You Just Can’t Smile It Away.
E Chanté Moore arrasando no finalzinho de Best of the Best? Ela vem com
seu grave meio rouco a canção toda pra fechar com uma afinada à Mimi Riperton,
pra provar que não estava podendo.
Como quase nada é só delícia, The Mosaic Project: Love And
Soul tropeça na adição dum bofe falando senso-comum disfarçado de New Age em
algumas faixas. Se fossem vinhetas, daria pra deletar, mas essa papagaiada está
no corpo das canções, como na introdução de Somebody Told a Lie, interpretada
por Valerie Simpson, da dupla Ashford and Simpson. Sorte que são alguns
segundos e quando o soul que vira
samba que volta a soul entra nos
eixos, é puro deleite.
O prestígio e os Grammys de Carrington garantem-lhe bom
orçamento pra produção, que tem orquestra com farta e hábil instrumentação,
tornando The Mosaic Project: Love and Soul ideal pra esbanjar e demonstrar
elegância e também seduzir.
Esta playlist promete a dúzia de canções e mais; tente:
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