terça-feira, 12 de janeiro de 2016

TELINHA QUENTE 194



Roberto Rillo Bíscaro

Scream Queen, ou rainha do grito, é a denominação das atrizes que se especializaram em filmes de horror e mesmo desconhecidas do grande público, são ícones na comunidade. Talvez Jamie Lee Curtis, de Halloween, seja o contato mais próximo que audiências não iniciadas tenham tido com Scream Queens, mas como essas meninas quase nunca superam as produções Z/cult/de nicho, muito cinéfilo desconhece Linnea Quigley, Brinke Stevens e Michellle Bauer.
Boa oportunidade de conhecê-las e um pouco do universo alternativo dos anos 80 (mas não apenas) é ver o documentário Screaming in High Heels: The Rise and Fall of the Scream Queen Era (2011), que, através de entrevistas com as atrizes, além de produtores e diretores, mostra como a ascensão do videocassete possibilitou um estouro de demanda por filmes B e essas moças ficaram famosas na periferia de Hollywood, com tosqueiras tipo Sorority Babes in the Slimeball Bowl-a-Rama (1988) e trocentos slasher films. Famosas a ponto de posarem com Reagan e tudo. O documentário serve não apenas pra garimpeiros do horror desenterrarem novos tesouros pra procurar, mas praqueles que imaginam que Hollywood é só as atrizes que saem no Domingo Espetacular ou nos suplementos culturais dos jornais de grande circulação.
O triunvirato Quigley-Stevens-Bauer durou até que a idade, casada com a extinção progressiva das pequenas locadoras devido à cartelização corporativa das Blockbusters pós-modernas, diminuiu as oportunidades de trabalho pela escassez de produções B. Apesar disso, o documentário indica que com o advento da facilitação do acesso a softwares de edição e hardware barato, a produção de filmes de baixo orçamento prossegue, então rainhas continuam gritando. E as Blockbusters se foram...
Dá pra ver inteiro no Youtube, sem legenda. Não se esqueça do bloco de notas pra escrever os títulos ou já deixe aberto seu programa favorito de compartilhamento de arquivos pra baixar os inúmeros filmes mencionados.


Ver o documentário decorreu de eu ter investido meu tempo nos 13 capítulos de Scream Queens, exibida pela Fox, entre setembro e dezembro do ano passado. Em circunstâncias normais, não despertaria interesse, porque não curto muito comédia de horror – e com a exibição em canal aberto, não haveria sequer gore – e muito menos Ryan Murphy, gerador da porcaria superestimada American Horror Story, a qual, masoquistamente, vi até meados da temporada 4. Mas, eu estava tão entupido de afazeres de fim de ano, que a possibilidade de algo que não requeresse cérebro falou mais alto.
Scream Queens é paródia dos slasher films de outrora. Num campus, uma república é visada por assassino em série vestido de diabo vermelho. Só que a república é uma mansão dominada por Channel Oberlin e suas asseclas, todas Channel-Algum-Número. É como se as Gossip Girls entrassem num slasher. Todo mundo é “nojentamente” rico e uma metralhadora de frases de efeito e tiradas (auto-)humilhantes.
Típico de Murphy, o roteiro atira pra tudo que é lado num fuzuê referencial, mas como a chave é cômica dá pra perdoar quando ele se perde. Escolhi encarar Scream Queens como paródia da sociedade do espetáculo e glamurização do consumo, daí, funciona que é uma beleza. Há muito sarcasmo no ar.


Mas, típico de Murphy, o exagero, o uso de referências só pra mostrar que as conhece, a exposição das convenções só pra provar que as domina e, claro, o baixo QI do conjunto acabam enjoando e cansando.
Emma “sobrinha-da-Julia”-Roberts é uma delícia como patricinha voluntariosa, egocêntrica e pronta pra acabar com todo mundo. Daria pra compilar grosso volume das tiradas de Channel Oberlin. Ela e Chad foram os que realmente me prenderam ao show, mas, típico de Murphy, Chad perde função e fica sem aparecer em vários capítulos. Se American Horror Story reavivou as carreiras de Jessica Lange e Kathy Btes, Scream Queens apresentou Jamie Lee Curtis às novas gerações.
E pra quem curte grito de donzela em perigo em filme de terror, os 13 capítulos os trazem em abundância pra justificar o título e ser irônico.
Além de Emma Roberts, o mais legal de Scream Queens é a trilha sonora, inteirinha anos 80, inclusive com canções hoje obscuras ou mesmo não tão grandes na época. Procure num desses sites que trazem relação de episódios com canções e tudo e verá que tem até Chumbawamba, a versão de Kim Wilde pra You Keep Me Hanging On e I Know There’s Something Going On, da Frida, do Abba, com Phil Collins na batera, produção e backing vocals. E não falei nem o número de faixas que às vezes toca num episódio. A trilha é mais legal que a série.
Desconheço se haverá temporada 2, mas as únicas chances de eu vê-la seriam a) se eu precisar aposentar meu cérebro novamente por mais uns dias no fim deste ano e b) se Emma Roberts estiver no show.

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