Roberto Rillo
Bíscaro
Scream Queen, ou rainha do grito, é a denominação das
atrizes que se especializaram em filmes de horror e mesmo desconhecidas do
grande público, são ícones na comunidade. Talvez Jamie Lee Curtis, de
Halloween, seja o contato mais próximo que audiências não iniciadas tenham tido
com Scream Queens, mas como essas meninas quase nunca superam as produções
Z/cult/de nicho, muito cinéfilo desconhece Linnea Quigley, Brinke Stevens e
Michellle Bauer.
Boa oportunidade de conhecê-las e um pouco do universo
alternativo dos anos 80 (mas não apenas) é ver o documentário Screaming in High
Heels: The Rise and Fall of the Scream Queen Era (2011), que, através de
entrevistas com as atrizes, além de produtores e diretores, mostra como a ascensão
do videocassete possibilitou um estouro de demanda por filmes B e essas moças
ficaram famosas na periferia de Hollywood, com tosqueiras tipo Sorority Babes
in the Slimeball Bowl-a-Rama (1988) e trocentos slasher films. Famosas a ponto
de posarem com Reagan e tudo. O documentário serve não apenas pra garimpeiros
do horror desenterrarem novos tesouros pra procurar, mas praqueles que imaginam
que Hollywood é só as atrizes que saem no Domingo Espetacular ou nos
suplementos culturais dos jornais de grande circulação.
O triunvirato Quigley-Stevens-Bauer durou até que a
idade, casada com a extinção progressiva das pequenas locadoras devido à
cartelização corporativa das Blockbusters pós-modernas, diminuiu as
oportunidades de trabalho pela escassez de produções B. Apesar disso, o
documentário indica que com o advento da facilitação do acesso a softwares de
edição e hardware barato, a produção de filmes de baixo orçamento prossegue,
então rainhas continuam gritando. E as Blockbusters se foram...
Dá pra ver inteiro no
Youtube, sem legenda. Não se esqueça do bloco de notas pra escrever os títulos ou
já deixe aberto seu programa favorito de compartilhamento de arquivos pra
baixar os inúmeros filmes mencionados.
Ver o documentário decorreu de eu ter investido meu
tempo nos 13 capítulos de Scream Queens, exibida pela Fox, entre setembro e
dezembro do ano passado. Em circunstâncias normais, não despertaria interesse,
porque não curto muito comédia de horror – e com a exibição em canal aberto,
não haveria sequer gore – e muito
menos Ryan Murphy, gerador da porcaria superestimada American Horror Story, a
qual, masoquistamente, vi até meados da temporada 4. Mas, eu estava tão
entupido de afazeres de fim de ano, que a possibilidade de algo que não
requeresse cérebro falou mais alto.
Scream Queens é paródia dos slasher films de outrora. Num campus, uma república é visada por
assassino em série vestido de diabo vermelho. Só que a república é uma mansão
dominada por Channel Oberlin e suas asseclas, todas Channel-Algum-Número. É
como se as Gossip Girls entrassem num slasher. Todo mundo é “nojentamente” rico
e uma metralhadora de frases de efeito e tiradas (auto-)humilhantes.
Típico de Murphy, o roteiro
atira pra tudo que é lado num fuzuê referencial, mas como a chave é cômica dá
pra perdoar quando ele se perde. Escolhi encarar Scream Queens como paródia da
sociedade do espetáculo e glamurização do consumo, daí, funciona que é uma
beleza. Há muito sarcasmo no ar.
Mas, típico de Murphy, o exagero, o uso de referências
só pra mostrar que as conhece, a exposição das convenções só pra provar que as domina
e, claro, o baixo QI do conjunto acabam enjoando e cansando.
Emma “sobrinha-da-Julia”-Roberts é uma delícia como
patricinha voluntariosa, egocêntrica e pronta pra acabar com todo mundo. Daria
pra compilar grosso volume das tiradas de Channel Oberlin. Ela e Chad foram os
que realmente me prenderam ao show, mas, típico de Murphy, Chad perde função e
fica sem aparecer em vários capítulos. Se American Horror Story reavivou as
carreiras de Jessica Lange e Kathy Btes, Scream Queens apresentou Jamie Lee
Curtis às novas gerações.
E pra quem curte grito de donzela em perigo em filme de
terror, os 13 capítulos os trazem em abundância pra justificar o título e ser
irônico.
Além de Emma Roberts, o mais legal de Scream Queens é a
trilha sonora, inteirinha anos 80, inclusive com canções hoje obscuras ou mesmo
não tão grandes na época. Procure num desses sites que trazem relação de
episódios com canções e tudo e verá que tem até Chumbawamba, a versão de Kim
Wilde pra You Keep Me Hanging On e I Know There’s Something Going On, da Frida, do
Abba, com Phil Collins na batera, produção e backing vocals. E não falei nem o
número de faixas que às vezes toca num episódio. A trilha é mais legal que a
série.
Desconheço se haverá
temporada 2, mas as únicas chances de eu vê-la seriam a) se eu precisar
aposentar meu cérebro novamente por mais uns dias no fim deste ano e b) se Emma
Roberts estiver no show.
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