terça-feira, 19 de janeiro de 2016

TELINHA QUENTE 195


Roberto Rillo Bíscaro

Em 1981, jovens entusiastas de cine (d)e horror lançaram produção de baixo orçamento que reviraria estômagos, praticamente inauguraria um sub-sub-gênero, catapultaria o diretor Sam Raimi ao superestrelato dirigindo filmes “sérios” i.e. de grande orçamento pra Hollywood e criaria um ator/personagem ícone, na pele do babaca Bruce Campbell/Ash Williams; basta assistir a uma dessas convenções pra fãs de horror no Youtube pra constatar como Bruce é tão cusão quanto Ash, mas não tem problema, amamos ambos.
Uma Noite Alucinante: a Morte do Demônio, como traduzido no Brasil, circulou no underground por anos, juntando público cult fiel. Ainda lembro do entusiasmo de ver o festival de meleca exagerada e temperada com humor, tudo de gosto muito duvidoso, nos anos 80. The Evil Dead inaugurou as comédias de horror e nesse estilo é uma das poucas franquias de que gosto, porque o horror não é aguado pelo humor, até porque Ash jamais será exemplo de correção política.  
Jovens vão passar o fim de semana numa cabana isolada na floresta. Lá acham o Necronomicon Ex-Mortis, livro sumeriano encadernado em pele humana e escrito em sangue, que desperta demônios ao ser lido. Não demora pra carnificina começar. The Evil Dead não é legal apenas porque inovou o horror, mas em aspectos técnicos e narrativos Raimi esbanja criatividade e hormônios jovens a mil.
2 sequências e uma refilmagem não mataram a sede de sangue e pus dos fãs. Segundo Campbell, esses o tem infernizado há anos por mais Ash, mais Evil Dead. Pois na noite do último Halloween, o canal estadunidense Starz começou a saciar essa síndrome de abstinência com os 10 capítulos de meia hora de Ash vs. Evil Dead, que tiveram o envolvimento de todo mundo do original e a adição de delícias trash como a neozelandesa Lucy Lawless, de fama mundial pelo papel-título na série Xena, Princesa Guerreira.
Praticamente unanimidade entre críticos, concordo com tudo que elogiaram: Ash vs. Evil Dead é deleite do começo ao fim; não há falhas. Roteiro e produção não mexem com a mitologia original; tudo é como na franquia The Evil Dead. A trilha sonora é rock setentista pra reforçar que Ash não caminhou no tempo; o carro é vintage (nome hip pra lata-velha); as armas que usa são iguais e o ritmo é a alucinante sucessão de demônios aparecendo, Ash picotando-os com sua serra elétrica, fazendo algum gracejo e bora lá pro próximo diabo.
Bem à moda Ash, ele estupidamente conjura os habitantes das profundas e a diversão começa. Em época de inclusão televisiva, ele tem 2 ajudantes; um latino e uma judia e envolve-se com uma policial negra. Mas, Ash é herói, mas não exemplo, então não tema diluição no gore e no humor (auto-)depreciativo. Ao arrombar uma porta, ele solta pra companheira: “se quiser, posso te arrombar também”. Esse é o Ash babaca que tanto amamos; mas como resistir à simpatia arrogante?
Um dos segredos de The Evil Dead e, consequentemente, da série, é o exagero, que tinge tudo de humor e irrealidade. Os jorros de sangue na fuça do espectador e dos personagens acabam sendo quase engraçados e a insuportabilidade ashiana rende boas risadas e permite certa identificação pós-moderna com o herói – liberado da necessidade de ser apolíneo – no sentido que qualquer zé-ruela pode ser um.
Antes mesmo da estreia, o Starz já renovara Ash vs. Evil Dead pruma 2ª temporada, iupi!

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