Roberto Rillo Bíscaro
No jargão do horror, a final girl é aquela que sobrevive pra contar a história. Comuns no
universo slasher – desde o proto
Black Christmas ao paródico Pânico – essas mocinhas são as virgens que não
consomem drogas proibidas. Em mais uma paródia/homenagem aos slasher films dos 80’s, esse clichê é
utilizado pelo diretor Todd Strauss-Schulson em The Final Girls (2015), que na
tradução inexata brasileira virou Terror nos Bastidores. A culpa não é dos
tradutores - porque acho que final girl
não encontrou equivalente em nosso idioma – mas evitarei o título nacional.
Mãe e filha estão num carro; a mulher fora
estereotipada como atriz ao participar do slasher
Camp Bloodbath, em 1986. Sonhando em se tornar estrela de cine, as 2
conversam um pouco até que um acidente tira a vida da mama. No dia do 3º
aniversário da morte de Amanda, a filha (Taissa Farmiga, de American Horror Story) é coagida a participar dum evento onde Camp Bloodbath será exibido. Há um acidente na sala de exibição e a
menina Max e alguns amigos vão parar dentro da telona, no acampamento onde se
desenrola o clichetado enredo de Camp Bloodbath. A rigor, não estão em
bastidor, estão metalinguisticamente dentro da película. A Rosa Púrpura do
Cairo encontra Jason Voorhees encontra Pânico.
Uma vez presos no acampamento/filme, será possível
alterar a ordem das coisas e impedir que a personagem interpretada pela mãe de
Max morra? Mas, ela transa no filme, então há que impedi-la de fazer isso, mas,
o título é The Final Girls, como equacionar essa impossibilidade? Só pode
sobrar uma.
The Final Girls opera na complicada e tênue linha entre
horror e comédia; popularizada a partir dos anos 80, por filmes como A Morte do
Demônio. Desmontar e ironizar convenções slasher
deixou de ser novidade há 2 décadas e horrorizar além de fazer rir e ter drama
é tarefa que o roteiro não consegue.
The Final Girls não deveria funcionar, porque falha nos
2 territórios em que se propusera a atuar. O que salva o filme é a história entre
mãe e filha. A parte engraçadinha de The Final Girls não é tão ruim, então,
somada ao emocionante reencontro entre Amanda e Max temos produto assistível e
divertido – ainda que sádico pra burro, sem mostrar uma cena forte; atentem ao
que é exigido da jovem Max. O horror está aí, mas também uma espécie de lição
em dizer adeus e tocar a vida.
A parte slasher
é fraca: a máscara é podre e as mortes nada a ver. Pra fãs de Sexta-Feira 13 é
meio obrigatório, porque parodia a franquia. Tem até “tchi tchi tchi tchi ma ma ma ma”. Além disso, tem o Adam DeVine,
o Andy de Modern Family, fazendo um daqueles bofes com nada na cabeça de
acampamento slasher e Cruel Summer,
do Bananarama, tocando nos créditos finais.
Enfim, funciona a despeito
dum monte de problemas.
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