Roberto Rillo Bíscaro
A pequena Bélgica foi sacudida por mais de um escândalo
de pedofilia nos últimos 20 anos, envolvendo figurões públicos e até serial killer: Marc Dutroux, acusado de
sequestrar, torturar, molestar e matar garotas. Será que foi essa negação
explícita do status idealizado de país pacífico que levou o diretor Hans
Herbots e o roteirista Carl Joos a adaptarem o romance da britânica Mo Hayder
pro contexto belga? Qualquer que tenha sido o motivo, De Behandeling (2014) é muito
desagradável, seja pelo tema, seja pelo roteiro aleatório e baseado em
coincidências demais.
O Inspetor Nick Cafmeyer é assombrado pelo sequestro de
seu irmão há anos, provavelmente vítima dum pedófilo que ainda avizinha a
residência do policial e desova ossos de porco em seu quintal. Quando um
garotinho some, Cafmeyer acha que tudo recomeçou e o desenrolar da trama revela
um pedófilo mordedor, com fixação em urina e um monte de personagens repulsivos.
A história do irmãozinho do inspetor também é tratada; o agora garotão está
mais perto do que presumido, só ninguém explica porque o mantiveram vivo tanto
tempo.
A despeito da empáfia europeia de parecer elegante, a
produção não passa de exploitation film,
pelo tom sensacionalista e a vontade de chocar. Não que violência contra
crianças seja tabu e não possa ser tratada ficcionalmente, afinal, o mundo real
que não se cansa de idealizar os infantes, também não enjoa de trucidá-los. E o
excesso de morbidez poderia ser perdoado se estivesse a serviço dum bom roteiro.
Quase todo o tempo Cafmeyer
perambula a mercê de coincidências e surpresas; que raio de protagonista é
esse? A trama é artificial por demasia e em mais de 2 horas não conhecemos
realmente nenhuma personagem. O caso da detetive-parceira de Cafmeyer é
notável; é mais fácil empatizar com um controle-remoto, cuja função pelo menos
é clara. Daria pra fazer tantas perguntas quanto o roteiro do argentino Séptimo
suscitou, mas De Behandeling nem merece que eu perca mais
tempo digitando.
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