Roberto Rillo Bíscaro
Ao escrever sobre a temporada prima de Transparent,
ironizei que meu lado malvado tinha ganas de enviar aquela gente pra Katmandu
pós-terremoto pra sentirem o que é problema de verdade e diminuírem o mimimi.
Parece que a criadora Jill Soloway se tocou sobre o significado de ter um monte
de judeus de classe-média com problemas identitários em um mundo onde 99%
reunido é mais pobre do que o restante 1%.
A segunda temporada da provocadora série, disponibilizada
online pela Amazon Studios no dia 11 de dezembro, questiona também a posição
social e de gênero de algumas personagens. Os 10 capítulos de cerca de
meia-hora cada, continuam com a jornada de Mort/Maura, o intelectual 70tão que
se assume transgênero, e seus familiares e amigos. Sem desmerecer
questionamentos ou problemas individuais, personagens problematizam o
privilégio econômico de classe-média alta e a própria posição mais confortável
de Maura, que parte duma lócus de homem branco, socialmente percebido como
heterossexual. Maura também é confrontada por uma antiga companheira de
universidade, sobre o preconceito velado nutrido pelas feministas/lésbicas,
enquanto era Mort e sistematicamente negava-lhe bolsas de estudos.
Esse tipo de autocrítica e também por pinçar
similaridades entre o exclusionismo de alguns segmentos LGBT e o fim da festa
libertária na República de Weimar, assinalada pela ascensão do nazismo, são
apenas 2 exemplos do porquê Transparent é uma das séries mais inteligentes da
atualidade. Pode nem sempre ser a mais viciante, mas instiga o espectador mais
aventureiro a tentar retirar-se de suas zonas de conforto.
O relativo pouco tempo destinado a Mort/Maura talvez
ressignifique o título pra transparência da discussão de ideias e demonstração
de diferentes formas de desejo, sexualidade e arranjos familiares.
A sensação de indie movie com trilha sonora descolada
continua, assim como Transparent, renovada pruma terceira vinda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário