Roberto Rillo Bíscaro
Quando o rock progressivo era subgênero criticamente
hegemônico, na metade primeira dos 70’s, os grupos/artistas principais tinham
características próprias, podendo-se falar em sonoridade do Genesis, Yes, ELP,
Mike Oldfield, Magma, Jethro Tull. A ventania punk soprou o prog pro underground, mas seu som passou a
constituir capítulos da gramática do rock. Idiossincrasias e cacoetes
sônico-estiliísticos entraram pro repertório ao alcance das bandas novas, que
podiam usá-los pra clonar clássicos ou recombiná-los a fim de originar
sonoridades próprias.
O veterano Glass Hammer começou a existir quando as
bandas-madrinhas do prog eram defuntas ou dinossauras, no início dos 90’s. Sua
fama de clonar o Yes não é de todo desmerecida, uma vez que em 2012, um de seus
vocalistas, Jon Davison, foi convidado a substituir Jon Anderson no venerável
combo britânico.
The Breaking of the World, que os norte-americanos
lançaram ano passado, sem Davison nos vocais, não pode ser acusado de clonagem,
porém. Nas 9 canções, o Glass Hammer rearranja características e tiques
nervosos de diversos medalhões prog pra criar sonoridade própria, resultando em
trabalho, que na maioria das músicas leva o ouvinte ao mais excitante do prog
sinfônico de matriz setentista.
Mythopeia abre com teclado genesiano e a voz de Carl
Groves e bastante do instrumental remetendo ao Yes, mas o resultado é Glass
Hammer não imitando ninguém, mas inserindo-se numa tradição da qual se orgulha
em participar e nós ouvintes, em amar. No meio do caminho, Mythopeia torna-se
acústica para depois retomar seus teclados vintage
à Yes.
A longa Third Floor é o epicentro desse álbum
sofisticado. O tema não poderia ser mais sci
fi, por isso, mais caro a fãs prog: a história do amor impossível entre um
homem e um elevador. Seus extáticos 11 minutos têm teclados à Genesis, fase
Foxtrot, voos de guitarra e teclados, mudanças de andamento, introspecção de
piano e vocais exuberantes divididos em 3, inclusive a linda voz de Susie Bogdanowicz, fazendo o papel do elevador. Sem dúvida, um dos pontos altos na já longa história do grupo.
Em Babyloon, a tradição prog cristaliza-se até na
letra; quer mais anos 70 do que citar, por exemplo, o cruzamento do Rubicão?
Quer coisa mais Triumvirat, que nomeou álbuns como Pompeii (1977),
Mediterranean Tales (1972) e Spartacus (1975)? Além disso, há uma alusão a
cruzar o “point of no return”. Que progmaníaco não fará a conexão com Point of
Know Return (1977), do Kansas? O teclado fluente acoplado a flautas malucas à
Ian Anderson a faz um dos pontos altos de The Breaking of the World.
O menos de um minuto de A Bird When It Sneezes nos leva
de volta Canterbury e a batalha entre violino e órgão nervoso, resgata Jean Luc Ponty e ELP, mas tudo jogado no liquidificador e batido como Glass Hammer.
The Breaking of the World tem seu quinhão de fillers, mas em sua maior parte é
excitante e mais do que indicado para fãs do velho e duro de matar prog
sinfônico.
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