quarta-feira, 30 de março de 2016

CONTANDO A VIDA 144

Nessa época de paixões políticas voláteis e por vezes intolerantes, osso historiador-cronista comenta sobre o recente incidente envolvendo Chico Buarque de Hollanda e um ator/diretor que encenava um musical sobre o compositor.  

VELHO CHICO, NOVO CHICO, ETERNO CHICO... CHICO BUARQUE DE HOLLANDA.

José Carlos Sebe Bom Meihy
Para meus queridos amigos Ney e José Rubens

Não, não é sobre a novela da Globo “Velho Chico” que quero falar, ainda que ache que o trabalho de Benedito Rui Barbosa, o apuro da encenação e a qualidade dos intérpretes sejam dignos de nota. Minhas palavras se fazem em referência ao surpreendente caso protagonizado por Claudio Botelho, e o incidente por ele provocado quando da apresentação, em Belo Horizonte, da peça “Todos os musicais de Chico Buarque de Holanda em 90 minutos”. O caso ocorreu da seguinte forma: a sessão ia bem, casa cheia e no palco o diretor e ator, o próprio Claudio Botelho, contracenava com Soraya Ravenle quando, intempestivamente, de maneira aloprada, o personagem colocou um “caco” (para quem não sabe, “cacos” são palavras ou frases proferidas de maneira súbita, fora do script). E foi uma interferência imprópria, dizendo que “aquela era uma noite em que o presidente ladrão foi preso” e, em complemento, foi fazendo ecoar palavras sobre uma “presidenta ladra”. Imediatamente, a plateia veio abaixo e com alaridos, vaias e termos de reprovação, restou o encerramento do espetáculo. Não faltaram imediatas indignações desdobradas frente a leviandade do perpetrador. Noticiado da situação, Chico Buarque pediu para que a peça não mais fosse encenada, na medida em que o sentido original do texto havia sido drasticamente deturpado. A coisa ferveu. Logo as redes sociais expressaram opiniões que se polarizaram entre prós e contras, colocando na berlinda uma obra irretocável com canções que encantam a todos pela engenhosidade do uso das palavras e sutileza na expressão de ideias. Cá entre nós, Chico é inigualável...

Como tudo no momento atual, a contenda virou um Fla X Flu emocional, de lastro político. Em complemento, a postura defensiva de Chico Buarque virou oportunamente “ato censor”. Isso foi exaltado pelo segmento inflamado dos seguidores do processo de derrubada da presidente. Num galope surpreendente, a contrapelo dos incitadores do debate antigovernista, iniciou-se troca de mensagens favoráveis ao consagrado, discreto, e muito amado compositor. É lógico que a reação contrária respondeu na ordem geométrica. E muito frenética. Frente a dimensão que ganhou em âmbito nacional, no entanto, Claudio Botelho apresentou suas desculpas, publicadas em jornal de repercussão nacional. De maneira até humilhante, em sua mensagem o ator/diretor buscou se redimir, felizmente, de forma clara e reconhecida. Dizendo-se “admirador apaixonado”, Botelho como personagem principal do espetáculo dimensionado fora dos palcos, repetiu no texto bem escrito, várias vezes, a palavra “errei”. E mais, de maneira contundente assumiu, na primeira pessoa, “falhei com minha responsabilidade, com Chico, falhei com o teatro, com a música” e encaminhou argumentos dizendo-se “envergonhado”. E concluiu seu libelo com a mais adequada das palavras aplicáveis à essas situações “perdão”.

Elevando ao máximo a tensão contida no lamentável embate, o caso merece destaque por mais um detalhe. No meio de ataque e defesa, na verdadeira guerra que extrema ódio, ressentimento e busca de saídas honrosas, temos um exemplo magnânimo: o erro reconhecido e o perdão aceito. Chico Buarque imediatamente acatou o pedido de perdão e, elegante, deu sua benção para que o espetáculo voltasse a ser exibido. Por todos os motivos temos que parar e refletir sobre este caso. É hora de domesticar nossos impulsos e aprender sobre os limites das coisas. Para o bem geral da nação, precisamos temperar nossas opiniões e saber usar o esforço empenhado em favor de causas – sejam elas quais forem –, pois não dá mais para humilhar os outros por terem opiniões diversas. É hora de crescer. É tempo de honrar a temperança e pôr para fora, de maneira sensata nossas opiniões.

Não deixa de ser irônico que Sergio Buarque de Holanda, exatamente o pai do Chico, tenha cunhado, para os brasileiros, a expressão “homem cordial”. A aludida cordialidade saída da lavra do Professor Sérgio remetia de maneira dúbia, algo ambígua, tanto ao brasileiro gentil, cordial como ao que se expressa pelo cordis, coração apaixonado e assim se cega.  

Um comentário:

  1. Pô, assino embaixo.. Vamo combinar, Protestar contra o governo é justo, blz, o pau ta quebrando mesmo, e a política finalmente entrou na cuca do brasileiro. mas que esse sujeito mexeu no vespeiro, ae não da pra negar. Mas isso foi manota do ator, pelo menos ele admitiu.
    Perdão pelo português ruim..

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